Por José Eustáquio Diniz Alves, em EcoDebate
O mercado de trabalho brasileiro era predominantemente dominado pelo sexo masculino. Entre as pessoas com 10 anos e mais de idade, a percentagem de homens envolvidos nas atividades produtivas era 6 vezes superiores aos das mulheres.
Em 1950, cerca de 81% dos homens de 10 anos ou mais de idade estavam no mercado de trabalho. Eles entravam cedo e saiam tarde da atividade econômica. Porém, com o processo de modernização do país, os homens foram ficando mais tempo na escola e passaram a sair mais cedo da força de trabalho devido ao aumento da cobertura da previdência social. Em 2010, a taxa de atividade masculina era de apenas 67,1%, sendo que as maiores quedas se deram nos extremos da curva.
Já no caso das mulheres houve aumento das taxas de atividade em todas as idades. A taxa de atividade feminina era de apenas 13,6% em 1950 e passou para 48,9% em 2010. A curva de 1950 tinha a cúspide na idade 15-19, caindo para as idades posteriores. Para os anos de 1970 e 1980 a cúspide estava na faixa etária de 20-24 anos, caindo para as idades posteriores.
Porém, a partir de 1991 as taxas de atividade feminina continuaram crescendo até o grupo etário 30-39 anos e só apresentando uma tendência de queda rápida a partir dos 49 anos. Ou seja, o padrão das taxas específicas de atividade de homens e mulheres ficaram mais parecidas ao longo das últimas 6 décadas, havendo apenas uma diferença de nível.
O padrão das curvas, por sexo, está cada vez mais parecido, mas devido a divisão sexual do trabalho as mulheres continuam com menor inserção no mercado de trabalho remunerado e maior presença no trabalho doméstico não remunerado. Para que haja maior equidade no mercado de trabalho e no uso do tempo é preciso romper com a segregação ocupacional e com a iníqua divisão que sobrecarrega as mulheres com a maior parte das tarefas domésticas.
As desigualdades de gênero se reduziram muito no mercado de trabalho do Brasil nas últimas 6 décadas. Mas ainda falta avançar para se chegar a uma situação de equidade e de justiça na distribuição do tempo entre atividades produtivas e reprodutivas.
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*José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em População, Território eEstatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: [email protected]