Denúncia revela suborno à alta cúpula do Exército antes do golpe de 64

Jango, ao lado do general Kruel que, antes de traí-lo, ocupou a pasta do Ministério do Exército
Jango, ao lado do general Kruel que, antes de traí-lo, ocupou a pasta do Ministério do Exército

Correio do Brasil

O Instituto João Goulart, presidido por João Vicente Goulart, primogênito do presidente deposto em 1964, no golpe de Estado que gerou uma ditadura de mais de 20 anos e mudou, até hoje, a face política do país, publicou neste domingo um vídeo que, na Comissão da Verdade, será autoexplicativo para o papel dos EUA na derrubada do governo eleito democraticamente. Malas de dólares foram entregues ao general-de-Exército Amaury Kruel, peça fundamental na queda de Jango, segundo denuncia o major farmacêutico Erimar Pinheiro Moreira, nascido em Alvinópolis e radicado em Juiz de Fora. Os fatos teriam ocorrido às vésperas do dia 1º de Abril de 1964.

– O general Amaury Kruel esteve com a gente lá e garantiu, com a vida dele, que o presidente João Goulart não ia cair – anotou o major Moreira.

Em um relato detalhado, gravado no vídeo que segue, adiante, o militar – que assinou, em cartório, o seu testemunho – lembra que o presidente da Federação da Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp), à época, Raphael de Souza Nochese, e três outros homens encontraram-se com o general Kruel, no laboratório comandado por ele, em uma ala do Hospital Geral de São Paulo, “sobraçando malas” cheias de dólares “novinhos em folha”, segundo o major Erimar Moreira, que ele em seguida transportou até uma viatura do Exército.

Horas após a transferência do dinheiro, Kruel mudou de posição e passou a apoiar o golpe de Estado. No dia seguinte à queda de Jango, o major Moreira teve sua patente cassada. Após insistir e denunciar o ocorrido àquele que seria comandante da II Região Militar, general Carlos Luís Guedes, este levou o depoimento escrito e com firma reconhecida, pessoalmente, ao ex-ministro da Guerra no governo Goulart que, naquele momento, encabeçava o golpe contra a democracia brasileira, no comando do II Exército.

– “General Kruel, leia. Você tem 24 horas para pedir reforma e sumir do mapa. Você vai deixar de ser general-de-Exércio. Vá ser fazendeiro na Bahia, onde já comprou terras”, disse o general Guedes ao Kruel. Na mesma hora, ele passou a mão na caneta e já saiu reformado do gabinete – relatou o major, em entrevista a João Vicente Goulart.

Assista, na íntegra, o vídeo da entrevista:

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