Cardozo encaminha documento a Henrique Alves afirmando que PEC 215 tem ‘insanável inconstitucionalidade’ e que proposta levaria ao “agravamento dos conflitos fundiários envolvendo a demarcação de terras indígenas no Brasil”.

Foto: Pedro Ladeira / Folhapress
Foto: Pedro Ladeira / Folhapress

Iolando Lourenço, Repórter da Agência Brasil

Brasília – O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, encaminhou hoje (4) ao presidente da Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), nota técnica questionando a tramitação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215, que transfere para o Congresso a competência para a aprovação de demarcação das terras indígenas e a ratificação das demarcações já homologadas.

O documento, que foi entregue na presidência da Câmara, é um parecer jurídico, elaborado pela Secretaria de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça, que aponta inconstitucionalidades na PEC 215. Ele tem o objetivo de deixar clara a posição do governo em relação à proposta.

Segundo o texto, a proposta não poderia ser admitida “tendo em vista incorrer nas vedações impostas pelo Artigo. 60, Parágrafo 4º, da Constituição, que proíbe a deliberação de proposta de emenda tendente a abolir a forma federativa de Estado, o voto direto, secreto, universal e periódico, a separação dos Poderes, ou os direitos e garantias individuais”.

A nota técnica diz que a PEC tem insanável inconstitucionalidade, além de ausência de interesse público na sua tramitação por violar “cláusula pétrea da separação de Poderes, por atribuir função típica do Poder Executivo ao Poder Legislativo”, por atentar contra os direitos e garantias individuais dos povos indígenas. (mais…)

Ler Mais

Morre, aos 102 anos, Giap: general vietnamita pivô da vitória contra os EUA

Agência Efe - General vietnamita Vo Nguyen Giap foi uma importante figura da história contemporânea do país
General vietnamita Vo Nguyen Giap foi uma importante figura da história contemporânea do país. Foto: Efe

Vo Nguyen Giap era um dos personagens mais admirados entre a juventude vietnamita, atrás apenas de Ho Chi Minh

Por Opera Mundi*

Herói militar da independência do Vietnã e da vitória contra os Estados Unidos, o general Vo Nguyen Giap morreu nesta sexta-feira (04/10) aos 102 anos no hospital militar de Hanói, capital do país. O oficial, conhecido como “Napoleão Vermelho”, teve papel fundamental nas guerras contra a ocupação francesa e norte-americana, alcançando posição de destaque no governo e entre a população. (mais…)

Ler Mais

Pronunciamento: FEACT Brasil apoia as Mobilizações

Crédito foto: Wilson Dias / Agência Brasil
Crédito foto: Wilson Dias / Agência Brasil

O Fórum Ecumênico ACT Aliança Brasil, defendendo o princípio de um Estado Laico e de Direito no Brasil, vem a público manifestar-se a favor das legítimas reivindicações especialmente dos Povos Indígenas, mas também dos Tradicionais e das Comunidades Quilombolas, acontecendo nesses dias no País.

Nossa motivação é o exercício pleno de direitos de todas e todos que vivem no Planeta, e a exigência da justiça e da dignidade que a Graça Divina confere a toda a sua criação.

Estamos solidários e atentos ao fato de que no Brasil a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT/169) vem sendo descumprida. O que gera um quadro preocupante de ameaça à sobrevivência desses povos no território nacional. (mais…)

Ler Mais

Manifesto dos Povos Indígenas do Acre, Sul do Amazonas e Noroeste de Rondônia

Foto: Patira Ferreira
Foto: Patira Ferreira

Nós, povos indígenas moramos em diferentes Terras Indígenas nos estados do Acre, sul do Amazonas e noroeste de Rondônia, nos reunimos na cidade de Rio Branco, no dia 03 de outubro de 2013, no âmbito da mobilização indígena que está ocorrendo em todo o país, entre os dias 30 de setembro e 05 de outubro, para22 discutir a conjuntura indígena e indigenista atual e nos defender dos sistemáticos ataques  aos nosso direitos constitucionais no Brasil.

Manifestamos nosso apoio aos parentes que estão reunidos em Brasília e em muitas outras cidades do Brasil; aos parentes Pataxó que fecharam a BR 101 na Bahia; aos parentes Kaingang que retomaram a TI Passo Fundo no Rio Grande do Sul; aos parentes Guarani no Mato Grosso do Sul que estão vivendo processos de retomada de suas terras ancestrais; aos parentes Guarani que fecharam a Rodovia dos Bandeirantes em São Paulo, e a todos aqueles setores da sociedade brasileira que estão reunidos lutando pelos seus direitos. Todas essas manifestações que estão ocorrendo são para mostrar que nós estamos unidos e fortes e iremos lutar pelos nossos direitos fundamentais que foram garantidos na Constituição Federal de 1988 e em outros instrumentos jurídicos internacionais.

Nesta data tão importante, na qual se passam 25 anos da aprovação da Constituição Federal, gostaríamos de comemorar que o Brasil realmente reconhece a diferença e se afirma como um país pluriétnico, no qual convivem lado a lado os povos indígenas, quilombolas, populações tradicionais, agricultores, trabalhadores urbanos e tantos outros segmentos sociais que fazem do nosso país um dos mais ricos do mundo, por conta da sua diversidade social, cultural e natural. Ressaltamos que os direitos dos povos indígenas e populações tradicionais são de interesse coletivo da nação, pois estão diretamente relacionados à preservação e conservação dos recursos naturais, dos quais todos os cidadãos brasileiros bem como toda a humanidade necessitam para sobreviver. (mais…)

Ler Mais

Filhos da terra marcham sobre o cimento

Marcha indígena SP - Foto - Gabriela Batista (Mídia Ninja)
Foto: Gabriela Batista / Mídia Ninja

Por Bruna Bernacchio, em Outras Palavras

Das cerca de 4 mil pessoas presentes no ato paulistano da Semana de Mobilização Nacional Indígena na noite de quarta-feira (2/10), mil eram índios. Facilmente se reconheciam os filhos da terra: tribos guaranis inteiras, espalhadas em quatro ou cinco agrupamentos. Lideranças indígenas, casais de mãos dadas, mulheres carregando seus bebês no colo (do começo ao fim) e muita, muita criança. Em menor número, e menos visíveis para as câmeras que procuravam penas e nudez, estavam povos tradicionais dos quilombos, como o do Vale do Ribeira.

As faixas expunham o que os levava ali: direitos indígenas, demarcação de terras. Contra a PEC 215, que transfere aos parlamentares a decisão sobre a demarcação das terras indígenas e dos povos tradicionais; e a PLP 227, que permite que terras já homologadas sejam exploradas por empreendimentos de energia e minérios.

Os índios da etnia tupi-guarani vivem nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo. Lutam atualmente para manter suas terras e recuperar outras: as Terras Indígenas Jaraguá, na beira da Rodovia Bandeirantes, onde  houve  manifestação quinta-feira passada (26); a Tenondé Porã, na zona sul da Grande São Paulo; e a Terra Indígena Boa Vista do Sertão de Promirim, em Ubatuba. Segundo informações da Comissão Guarani Yvyrupa, as terras já foram aprovadas pela FUNAI e depende apenas de Portaria Declaratória expedida pelo Ministério o início da demarcação. (mais…)

Ler Mais

Diante de um fosso profundo

Foto: Ruy Sposati
Foto: Ruy Sposati

O primeiro presidente da Funai na era Lula ficou no cargo um semestre. Segundo ele os empreendedores e produtores rurais no Brasil não são contra os povos indígenas e o reconhecimento de seus direitos

Por Felipe Milanez, Carta Capital

Eduardo Aguiar de Almeida foi o primeiro presidente da Funai da era Lula. Ficou no cargo um semestre, de fevereiro a agosto de 2003. É indigenista, jornalista e agricultor. Como técnico indigenista, foi formado pela Funai em 1979 e trabalhou entre os Karajá, Munduruku, várias etnias da Bahia, várias etnias de Roraima e do Oiapoque (Amapá). Diz que perseguido junto com dezenas de colegas pela gestão do coronel Nobre da Veiga em 1980 e depois anistiado em 1993, “mas virtualmente posto na geladeira e virtualmente forçado a me exonerar em 1995”. “Sou hoje um pequeno agricultor-criador, residindo em minha pequena propriedade rural no interior da Bahia”.

Segundo ele, na entrevista abaixo, “os empreendedores e produtores rurais no Brasil, não são necessariamente ou ideologicamente contra os povos indígenas e o reconhecimento de seus direitos”. Uma distinção, portanto, se faz necessária: “não se pode confundir o discurso ideologizado e radical de algumas lideranças oligárquicas e capitalistas do campo com o conjunto dos chamados produtores”. O momento, no entanto, é delicado, e, para Almdeia, “o Brasil mergulha, como vem ameaçando fazer, num fosso obscuro e é bem possível pensar que isso vai gerar tensões absurdas”. (mais…)

Ler Mais

Ruralistas: os novos senhores de engenho da política

a república dos ruralistas - parte de baixo da páginas inicialEm depoimento, Mércio Gomes afirma que os fazendeiros se dão panca de serem os novos senhores de engenho, um poder rural absolutista com pretensões políticas nacionais

Por Felipe Milanez, Carta Capital

Mércio Gomes é antropólogo, discípulo de Darcy Ribeiro, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), deu aula também na Universidade Federal Fluminense e na Unicamp. Como antropólogo, Gomes desenvolveu trabalhos no Maranhão, entre os povos Guajajara e Awa-Guajá e publicou os livros Os índios e o Brasil (2012) e Antropologia Hiperdialética (2011), ambos pela Contexto. Foi presidente da Funai entre setembro de 2003 a março de 2007. Durante sua gestão ocorreu o massacre de garimpeiros na terra indígena Roosevelt, onde índios cinta-larga vivem um conflito com garimpeiros de diamante. Na ocasião, os índios mataram 29 garimpeiros, e os garimpeiros revidaram matando um indígena. Foi, também, quando o ex-presidente Lula homologou a Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em 2005, e ocorreu o licenciamento das usinas hidrelétricas no rio Madeira, o Complexo Madeira, de Santo Antônio e Jirau, que impactam diretamente povos indígenas, inclusive em isolamento voluntário. As polêmicas usinas do Madeira foram as primeiras da série de usinas que o governo passou a construir na Amazônia como parte do programa de desenvolvimento PAC, que inclui também Belo Monte, no rio Xingu, entre diversas outras. Como jornalista, eu editei a revista Brasil Indígena, publicação da Funai, também durante a sua gestão. (mais…)

Ler Mais

“Ataque aos direitos indígenas é o foco do momento”

Imagem: Mídia Ninja/ Flickr
Imagem: Mídia Ninja/ Flickr

Presidente da Funai durante o governo FHC, Márcio Santilli lembra que até hoje existe uma disputa pelo que resta do território no Brasil

Por Felipe Milanez, Carta Capital

Márcio Santilli, um dos fundadores do Instituto Socioambiental (ISA), foi presidente da Funai durante o governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), entre setembro de 1995 e março de 1996. Segundo ele, a disputa hoje é pelo que resta de território no Brasil, “visando expansão da fronteira agrícola com grilagem de terras”. A força ruralista no Congresso, para ele, na entrevista abaixo, se dá pela distorção da representação política. Com menos de um ano no cargo, ele disse que teve de administrar um “caos”: “aceitei a presidência da Funai achando que haveria uma reforma do Estado e, quando restou apenas a perspectiva de administrar o caos, preferi a atuação no terceiro setor”.

CartaCapital: O que está acontecendo hoje, como explicar esse ataque aos direitos indígenas?

Márcio Santilli: O ataque é aos direitos do povo brasileiro e as terras indígenas são apenas o foco momentâneo. O objetivo das empreiteiras e ruralistas é a apropriação de terras públicas, sejam indígenas, de quilombos, de unidades de conservação, de assentamentos da reforma agrária ou que possam ser privatizadas por mecanismos legais de concessão. É uma disputa pelo que ainda resta do território, visando a expansão da fronteira agrícola com grilagem de terras. (mais…)

Ler Mais

Uma onda anti-indígena. Entrevista com o ex-presidente da Funai Márcio Meira

mobilização indígenaDurante a gestão de Márcio Meira, o mais longevo presidente da Funai, foi realizada a reforma do órgão e a “desintrusão” da Terra Indígena Raposa Serra do Sol

Por Felipe Milanez, Carta Capital

Márcio Meira é antropólogo do Museu Paraense Emilio Goeldi, com trabalho acadêmico no alto Rio Negro. Foi o mais longevo presidente da Funai, ocupando o cargo entre abril de 2007 a abril de 2012. Durante a sua gestão foi aprovada a construção da polêmica usina de Belo Monte, e também foi realizada a reforma da Funai, com um decreto de reestruturação em 2009, seguido de uma intensa mobilização dos índios contrário a reforma da forma como foi feita. Foi durante a sua gestão que ocorreu a desintrusão da Terra Indígena raposa Serra do Sol, e também o julgamento, no Supremo Tribunal Federal, da demarcação da reserva. É nesse julgamento que o falecido o juiz Menezes Direito sugeriu em Plenário ao Tribunal adotar 19 “condicionantes” – e até hoje não está claro se essas condicionantes estavam restritas ao caso, como é o padrão jurídico, ou se assumem uma característica de uma “nova legislação”, estendendo-se de forma universal. A questão tem sido utilizada pelos ruralistas para impedir demarcações em outras regiões, bastante distantes de Roraima, onde fica a Raposa Serra do Sol. (mais…)

Ler Mais