Circuito MT – “Um incêndio de grandes proporções se alastra pela Reserva Indígena Areões, no município de Nova Nazaré, na altura do quilômetro 600, próximo a agrovila do projeto de Assentamento Santa Maria em Água Boa (730 km de Cuiabá).
O fogo se alastra rapidamente em razão da forte seca que assola a região e a baixa intensidade do ar, consumindo uma grande área da reserva, estimada[-]se que já tenha queimado mais 1.000ha de cerrado na reserva, além de ter[-]se alastrado para as fazendas vizinhas. Não foi encontrado no local ou na região onde o fogo se alastra nenhuma equipe de combate a incêndios.
A fumaça cobre a visibilidade na rodovia BR 158, dificultando o tráfego e pondo em risco a vida das pessoas que trafegam pelo local.
Segundo informações repassadas ao site por índios xavantes encontrados ao longo da rodovia, colocar fogo na vegetação nativa [,] é uma tradição dos índios xavantes, pois [,] com o fogo os bichos ficam cercados facilitando a caça. No entanto, os índios negaram que tenham sido eles que atearam o fogo, [im]pondo a culpa a empresa que faz manutenção nas margens da rodovia, que, para limpar os matos na beirada da estrada, colocaram fogo e este escapou para o cerrado, tornando impossível controlar o incêndio”.
Ensina-se nas escolas, divulga-se na imprensa, diz-se nas conversas, que Mato Grosso é o produto bem ou mal sucedido de um longo processo de colonização. Ouvimos e lemos que, no período mais recente (segunda metade do século XX para aos dias atuais), empresas, famílias, bancos e tantas outras instituições subiram ao médio norte do estado, migraram do sul para o norte, para trazer o progresso, que é medido por tamanho de área cultivada, sacos colhidos, bois criados, potência de tratores e número de linhas das plantadeiras e colhedeiras.
Essa história, por um lapso de memória, creio eu, pois ela não é mentirosa, assim dizem, esqueceu de dizer, de fazer ouvir, de escrever, de fazer ler, que este mesmo estado foi construído por outros processos de ocupação, que não ouso dizer colonização, pois não queria negar a história de outros, apenas fazer a sua própria. Ao longo do século XX, trabalhadores, famílias, grupos de famílias, comunidades, povos indígenas, por um caminho inverso, agora do norte para o sul, também migraram para Mato Grosso. Não trouxeram consigo bancos, escolas, instituições de pesquisa, não porque não queriam apenas por que não os tinham. Vieram ao encontro de novos territórios, de novas possibilidades, em que pudessem se estabelecer, produzir e garantir a vida de suas famílias. Chegaram primeiro. Estabeleceram-se. Produziram. Ensinaram. Formaram territórios. Criaram tradição – São Retireiros! São Povos Indígenas! São Quilombolas! São Ribeirinhos! São Extrativistas! São Camponeses! São Posseiros! São Tantos Outros que os nossos olhos, nossos ouvidos ainda não aprenderam a ver e ouvir. (mais…)
“No dia 19 de setembro de 2013, equipe do projeto Nova Cartografia Social da Amazônia, núcleo Mato Grosso, deslocou para o município de Luciara (MT) com o objetivo de realizar Oficina de Cartografia Social com os Retireiros do Araguaia. Aproximadamente às 9:00 horas, a equipe deparou com o bloqueio da estrada (MT 100), impedindo o acesso à sede do município.
A equipe foi abordada por dois homens que estavam à frente do bloqueio. Após inquirirem sobre os motivos da viagem, afirmaram que a presença dos pesquisadores já estava sendo esperada e que não iriam permitir a entrada no município para a realização dos trabalhos. Recomendaram, sob ameaças, a volta da equipe, e que seria melhor para a preservação das nossas vidas não mais retornar ao município. O carro utilizado pela equipe foi seguido, a certa distância, por uma caminhonete, até a localidade denominada Alto da Boa Vista. (mais…)
Ameaça sobre os povos indígenas e sobre a Amazônia: enquanto os movimentos indígenas se mobilizam em Brasilia, o cacique Afukaka, da tribo Kuikuro, está procurando apoio da sociedade civil francesa
Texto traduzido por Stéphan Bry
A maior manifestação indígena no Brasil, pela primeira vez num movimento unitário, ocorrerá do dia 30 de setembro até o dia 5 de outubro , em Brasilia, São Paulo, Belém e Rio Branco. Convocada pela APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), ela responde aos ataques generalizados sofridos pelos povos a respeito de seus direitos territoriais e articulados pelo lobby das grandes empresas e do latifúndio, a bancada ruralista.
Este movimento está sendo apoiado por organizações internacionais dos direitos humanos e de proteção ambiental, articuladas em Paris pelo cacique Afukaka Kuikiro. (mais…)
“Em 1988 os Mebengokrê, também conhecidos como Kayapó, em parceria com lideranças indígenas de diversas etnias foram a Brasília lutar pela garantia de seu direitos na Constituição Federal. O artigo 225 garante que um meio ambiente equilibrado é direito de todo cidadão, indígena ou não indígena. De certa forma, se reconhece que o índio utiliza a sua terra de forma sustentável, sem destruir as matas os rios.
A civilização indígena brasileira tem preservado e continua a preservar o meio ambiente até hoje. A biodiversidade da floresta e seu potencial farmacológico está lá ainda hoje graças aos indígenas. O regime de chuvas, a qualidade e quantidade das águas tão importantes para consumo das populações urbanas e essencial para produção de energia hidroelétrica. O volume de água está diminuindo. Preservar o direito do índio sobre sua terra é também preservar e proteger a vegetação riparia, mananciais e as nascentes. (mais…)
“Os Apyãwa fizeram questão de sepultá-la, segundo seus costumes, como se mais uma Apyãwa tivesse morrido. Os cantos fúnebres, ritmados com os passos se prolongaram por muito tempo… Segundo o ritual Apyãwa, Genoveva foi enterrada dentro da casa onde morava”. Antônio Canuto, secretário da coordenação nacional da CPT, membro e fundador da Pastoral, viveu muitos anos no Mato Grosso, próximo a Veva e a Dom Pedro Casaldáilga. Ele traz o relato emocionado do funeral de Veva, a Irmã Genoveva, que viveu 60 anos com os Tapirapé, ou melhor, com os Apyãwa, como eles se autodenominam. Confira:
Cheguei hoje às 6h00 da manhã em Goiânia, vindo lá da aldeia Urubu Branco, onde estive para os funerais de Irmãzinha Genoveva. Queria partilhar um pouquinho com vocês do que vi e vivi. (mais…)
Por Nicolas Bourcier, enviado especial do Le Monde a Surucucu, Brasil Traduzido do francês por Stéphan Bry
É uma batalha silenciosa, áspera, que está ocorrendo no coração da floresta amazônica, ao longo da fronteira com a Venezuela, nos planaltos brasileiros de noites frias e dias de calor. Só as crianças, “vestidas de sol”, como dizem com pudor os padres missionários, parecem não dar nenhuma importância ao que está acontecendo ao redor.
Em todos, o cansaço se vê nos rostos. São uns vinte homens e mulheres, sentados debaixo de uma vasta lona, abrigados num pedaço de sombra. Mais longe, outros se amontoam nas tendas, deitados nas suas redes ou acocorados em volta de um fogo aceso para espantar os mosquitos e esquentar os beijus. (mais…)
A Polícia Militar arrombou uma porta lateral da Câmara Municipal do Rio de Janeiro na noite deste sábado (28) para retirar os professores que ocupavam o local desde quinta-feira (26). Os professores disseram que foram retirados à força e, de acordo com o sindicato da categoria, cerca de 20 pessoas teriam ficado feridas. A 5ª DP (Mem de Sá) confirmou a detenção de três manifestantes, que foram liberados ainda na madrugada.
Professores contaram à GloboNews que os policiais agiram com violência e que muitos foram empurrados, o que resultou em ferimentos nas pernas e braços. Desta vez, os policiais não usaram balas de borracha no confonto, mas levaram um galão que expelia uma grande quantidade de gás de pimenta, segundo a GloboNews. (mais…)
Em agosto deste ano, visitei pela Comissão da Verdade uma aldeia ianomâmi, para investigar as violações sofridas pelos indígenas durante a abertura da estrada Perimetral Norte, a partir de 1974.
Ao final do testemunho de quatro anciãos, Davi Kopenawa, um dos mais influentes pajés da aldeia, concedeu o depoimento que se segue.
Os ianomâmis e irmãos indígenas irão a Brasília no dia 2 para protestar contra a proposta de emenda constitucional 215, que retira do Executivo o poder de demarcar terras indígenas, em favor dos congressistas.
“Eu não sabia que existia governo. Veio chegando de longe até nossa terra: são pensamentos diferentes de nós. Pensamentos de tirar mercadoria da terra: ouro, diamantes, cassiterita, madeira, pedras preciosas. Matam árvores, destroem a terra mãe, como o povo indígena fala. Ela é que cuida de nós. Ela nasceu, a natureza grande, para a gente usar.
Eu não sabia que o governo ia fazer estradas aqui. Autoridade não avisou antes de destruir nosso meio ambiente, antes de matar nosso povo. Não só os ianomâmi: o povo do Brasil. A estrada é um caminho de invasores, de garimpo, de agricultores, de pescadores. Tiram ‘biopirataria’ sem avisar nós. Estradas que o governo construiu começaram lá em Belém, depois Amapá, Manaus, Boa Vista. Mataram nossos parentes waimiri-atroari. É trabalho ilegal. O branco usa palavra ilegal. (mais…)
A maioria dos motoristas que passa por Ipatinga pela BR-381, na altura do Shopping Vale do Aço, não imagina que o lugar já foi cenário de um dos fatos mais trágicos da história mineira. Bem às margens da rodovia, ficava em 1963 a portaria principal da usina siderúrgica da Usiminas – na época empresa estatal –, onde um confronto entre policiais militares e operários deixou mais de 120 trabalhadores feridos e um número de mortos que até hoje não foi esclarecido. Prestes a completar 50 anos, em 7 de outubro, a tragédia que ficou conhecida como Massacre de Ipatinga ainda é motivo de tristeza para os que estiveram no local e viveram uma das primeiras demonstrações da repressão que viria a se espalhar pelo país seis meses depois com o golpe militar. (mais…)