Padilha critica hostilidade a médicos estrangeiros em Fortaleza

Ministro da Saúde disse que houve um ‘corredor polonês da xenofobia’. Médicos cubanos foram vaiados ‘por tabela’, diz sindicato

André de Souza e Letícia Fernandes – O Globo

BRASÍLIA — O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, criticou nesta terça-feira o protesto promovido por médicos brasileiros contra formados no exterior que estão passando pelo treinamento do programa Mais Médicos em Fortaleza. Na segunda-feira, o protesto terminou em vaias e xingamentos em frente à Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP-CE), onde os estrangeiros participavam de uma solenidade. Padilha classificou o incidente de “corredor polonês da xenofobia”. Durante o protesto, o secretário de Gestão Estratégica e Participativa da pasta, Luiz Odorico Andrade, levou um tapa, segundo a assessoria do ministério.

— Lamento veemente a postura de alguns profissionais, porque eu acho que é um grupo isolado, de ter atitudes truculentas, incitam o preconceito, a xenofobia. Participaram de um verdadeiro corredor polonês da xenofobia, atacando médicos que vieram de outros países para atender a nossa população apenas naqueles municípios onde nenhum profissional quis ir atender a nossa população —afirmou Padilha.

Segundo ele, não há ideologia em firmar parcerias com Cuba. O ministro citou casos de acordos parecidos feitos pela oposição, como o o firmado pelo governo do Tocantins na época que era comandado pelo PFL, atual DEM.

O secretário de Estratégia e Participação do Ministério da Saúde, Odorico Monteiro, também considerou a atitude dos médicos cearenses ‘xenofóbica, preconceituosa e racista’. Na saída da escola, ele foi agredido e atingido por um ovo:

— O que a gente presenciou foi um ato de truculência, violência, xenofobia, racismo e preconceito. Os médicos brasileiros presentes no ato agrediram verbalmente os médicos cubanos, chamando-os de escravos, de incompetentes e mandando eles voltarem para suas senzalas. Quando os médicos saíram, eu fui agredido com murros, empurrões, tapas e um ovo acertou a minha camisa.

Em vídeo postado no Youtube, os manifestantes pedem o Revalida (exame nacional de validação do diploma de médicos) e chegam a chamar os profissionais vindos do exterior de escravos. Entre os médicos que faziam o treinamento, a maioria era cubanos e foram contratados por intermédio da Organização Pan-Americana de Saúde.

O presidente do Sindicato dos Médicos do estado do Ceará (Simec), José Maria Pontes, disse que as vaias e xingamentos não foram contra os médicos cubanos, mas contra os gestores do Ministério da Saúde. Segundo Pontes, o alvo principal era o secretário Odorico Monteiro, mas a imprensa teria deturpado os fatos. O presidente rebateu as críticas e culpou a imprensa pela confusão:

— Os gritos eram para que nossos colegas cubanos não fossem explorados como escravos. Não falamos isso no sentido pejorativo, não foi um xingamento. Eu não vou pedir desculpas porque não fiz nada de errado, eu vou é esclarecer os fatos. Não teve violência, só que a imprensa colocou como sendo hostilidade aos médicos. No dia seguinte, quando fui comprar o jornal, levei um susto com o que vi.

Ainda de acordo com o presidente do Simec, os xingamentos e vaias proferidas aos 96 médicos estrangeiros recém-chegados à Fortaleza pelo programa Mais Médicos — principalmente aos 79 cubanos — teriam vindo por tabela.

— O secretário de Saúde, Arruda Bastos, me ligou e disse que os médicos estavam com medo de sair da Escola e eu garanti que não teria violência, mas disse que daríamos uma vaia nos gestores. A vaia era neles, e principalmente no Odorico. Mas, quando eles saíram, vieram todos juntos (gestores e médicos estrangeiros), e aí não deu para separar. Eles foram vaiados por tabela — conta o presidente do sindicato.

Nesta quarta-feira, o Sindicato dos Médicos do estado do Ceará (Simec) convocou uma assembleia geral dos médicos do estado para discutir a possibilidade de entrarem em greve. Pontes admite a possibilidade, mas disse que vai lutar contra, porque ‘o povo não merece’.

— Nesse momento, somos contra a greve, o povo não merece, o povo está morrendo nas emergências. Acho que não é o momento de fazer greve, assim a gente joga a população contra a gente. Mas, em uma assembleia, tudo pode acontecer — completou Pontes.

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