Especialistas calculam que cada R$ 1 desviado representa R$ 3 de perdas para a sociedade. Prejuízos com irregularidades chegam a pelo menos R$ 80 bi por ano
Victor Martins, Diego Amorim e Carolina Mansur, em EM
Brasília – Um dos maiores ralos de dinheiro público no Brasil, a corrupção faz estragos incalculáveis. Ela é capaz de impedir o desenvolvimento do país e mesmo tirar vidas. A Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) [SIC] estima uma perda anual de R$ 80 bilhões, mas é difícil saber exatamente quanto se tira dos cofres públicos indevidamente. Além das irregularidades passíveis de punição criminal, falhas de gestão causam danos ao país. Dados do Tribunal de Contas da União (TCU) indicam que a maioria dos contratos firmados entre os setores público e privado tem algum tipo de problema e, invariavelmente, exige mais dinheiro público. O erro na elaboração de editais deixou de ser exceção.
O caso de Águas Lindas é emblemático e, como ele, existem milhares espalhados pelo Brasil. As fraudes estão disseminadas, e elas não são protagonizadas apenas por políticos. A Previdência Social, de abril de 2008 a julho de 2013, registrou perdas na concessão de seguro-desemprego da ordem de R$ 2,3 bilhões. Até o momento, foram recuperados somente R$ 505 milhões.
Para Cláudio Weber Abramo, diretor executivo da ONG Transparência Brasil, as causas dos desperdícios nos municípios são claras: as cidades não geram riquezas e, por isso, a população depende da prefeitura. “O prefeito nada de braçada. A população fica dependente dele”, explica. O presidente do Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (Etco), Roberto Abdenur, diz que a corrupção é a forma de desperdício que mais revolta o cidadão, justamente porque permeia todos os outros problemas e carências enfrentados pela população. O efeito multiplicador da corrupção faz com que cada R$ 1 desviado represente R$ 3 de perda para a sociedade.
INFORMALIDADE A chamada economia subterrânea, que soma as quantias movimentadas pelas atividades informal e ilegal, também gera rombos. Tanto que provocou um prejuízo de R$ 730 bilhões ao país somente no ano passado. A produção de bens e serviços à margem do Produto Interno Bruto (PIB) é calculada pelo Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (Etco) em conjunto com o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV).
A pirataria e a informalidade acumulam formas de desperdício: não geram impostos, não recolhem contribuições trabalhistas, não se preocupam com os direitos do consumidor. “É um dinheiro que deixa de fortalecer as políticas públicas”, diz o presidente do Etco, Roberto Abdenur, para quem, apesar dos avanços econômicos nos últimos anos, ainda falta propagar os benefícios da atividade formal. “A impressão é que as pessoas ainda têm medo”, comenta. (Colaborou Antonio Temóteo)
Enviada para Combate Racismo Ambiental por José Carlos.