por Willian Novaes* – União Campo Cidade e Floresta
Por que os jornalistas tinham medo do povo ?
Ontem ao sair de um congresso, subi para a Avenida Paulista na intenção de pegar o metrô na estação Trianon MASP. Eram exatamente 18h30. Sabia da manifestação e tinha dúvida sobre quem estava organizando e o seu propósito.
Não resisti e segui em direção aos caminhões do Gate que passavam a 100 km/h na contramão em plena Paulista, em direção a Consolação. Em dez minutos, cheguei à esquina da Paulista com a Augusta. Ali permaneci por várias horas para entender e ver o que era real e o que era invenção da imprensa. O resultado foi trágico e desesperador. O MOVIMENTO DO PASSE LIVRE pode nem ter a ideia disso, mas representa uma parte da sociedade que está de saco cheio desse sistema político e das suas conhecidas mazelas.
Em certa hora, me imaginei dentro dos livros que ando trabalhando sobre a ditadura militar. Vamos publicar uma série grande de títulos sobre o período sombrio. E, ali na minha frente estavam os mesmos “inimigos” de 50, 40 e 30 anos atrás.
A velha e tenebrosa POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO, com a sua eterna forma de combater. Sem preparo, sem estratégia e com uma vontade absurda de violar, espancar e maltratar jovens, adultos e velhos. A ROTA também apareceu e não fez por menos: jogava no mais puro sadismo a viatura em cima da rapaziada. O pior: com ordem do governador e apoio da imprensa. Que país é este em que não se pode manifestar ou simplesmente pedir por paz e uma tarifa mais baixa?
Em três horas de conflito que presenciei, não vi nenhum manifestante quebrar nada. Alguns começaram a gritar; PAZ, PAZ, PAZ. Um policial do GATE não teve dúvidas, apontou a sua espingarda e atirou. Um garoto se revoltou e outros tantos começaram a gritar FACISTAS, FACISTAS, FACISTAS. Depois disso, as primeiras bombas começaram a explodir e caíram pelo menos até as 23h.
Ninguém se feriu na minha frente, apenas um garoto negro, magro e fraco foi algemado e tomou alguns chutes na bunda de dois PMs. A maioria se jogava ao chão, corria a esmo e a PM fazendo o seu espetáculo de baratas tontas com sirenes, bombas e tiros para tudo que é lado.
Certa hora, um caminhão do GATE estacionou na mesma esquina e de lá desceram soldados babando para colocar a molecada e eu para correr, com bombas, tiros e as impressionantes risadas irônicas. Jornalistas, alguns antigos conhecidos da rua, fingiam ser curiosos e se escondiam da galera. Nunca vi isso, em manifestações, jornalistas com medo do povo -porque será? Por outro lado, é até irônico um repórter da Globo, o único a usar mascara e a trabalhar atrás dos policiais. Esse mesmo fulano, na mesma hora, lembrei que ele usava galocha na primeira gota de água que caía nos períodos de enchentes em São Paulo de anos atrás. O que vi e apoio foram os gritos de uma ou duas gerações que suportaram as atrocidades dos governantes caladas nos últimos anos, e, talvez, agora parece que estão buscando algo que a maioria não sabe o que é.
Conheci sujeitos inteligentes, como um neurocirurgião, uma advogada, um balconista, um aposentado. Todos apoiando os jovens e também cansados das picaretagens que os políticos andam fazendo na nossa cara. Acabei de ouvir que não fui o único da editora que estava lá: a maioria dos nossos funcionários também foi e trouxe histórias de abusos da PM.
Sobre o futuro, peço que o Prefeito aceite pelo menos dialogar, já que o governador tem uma posição muito bem conhecida.
*Jornalista, trabalha na Geração Editorial.