#14N na Europa: Greve unificada em quatro países e atos em diversos outros

Manifestação em Barcelona

Sérgio Botton Barcellos, para Combate ao Racismo Ambiental

Ontem, no dia 14 de novembro, ocorreu uma greve unificada que há muito tempo não acontecia na Europa, inclusive propagandeada por muitos como a primeira greve unificada de trabalhadores/as do Século XXI. A greve geral, isto é, o dia de paralisação geral, que foi organizada pelos principais sindicatos do sul da Europa contou com forte participação popular, na qual milhares de pessoas saíram às ruas das principais cidades da Grécia, Itália, Espanha e Portugal, e com atos de apoio em mais de dez países para protestar contra as medidas de austeridade fiscal aplicadas por seus respectivos governos. A greve geral que foi organizada também pela Confederação Européia dos Sindicatos (CES) e mobilizou cerca de 40 organizações sindicais teve como lema “Pelo emprego e a solidariedade na Europa, não à austeridade”.

Esta greve ocorre ao mesmo tempo em que parlamentos de Portugal, Espanha e Grécia aprovarão para 2013 orçamentos que aprofundam as medidas (cortes na previdência, educação, assistência social e na saúde pública) ditadas pela Comissão Européia (CE), Banco Central Europeu (BCE) e FMI, capitaneados pelo governo da Alemanha, investidores e especuladores financeiros. Na Grécia, por exemplo, além do corte 13 bilhões de euros no Orçamento, a Troika imporá uma reforma trabalhista que vai diminuir os custos das demissões dos empresários. Na Itália, os cortes no Orçamento também são acompanhados por reformas que retiram direitos trabalhistas históricos.

Em todos os países até agora constata-se e é denunciado diariamente por diversas organizações e movimentos sociais que essas medidas de ajuste fiscal deixam um saldo claro: a dívida pública aumentou, o déficit não diminui, o desemprego disparou, e a crise segue se aprofundando. Mas a política dos governos do Sul da Europa continuam a mesma: fazer com que os trabalhadores paguem pela crise no setor financeiro, em especial a dos Bancos, com cortes no orçamento das políticas sociais e nos salários.

Nessa quarta-feira, no 14N como foi chamado também, foram registradas dezenas de prisões em decorrência de confrontos entre manifestantes e a polícia nesses países. Em Atenas, pelo menos cinco mil pessoas, segundo a polícia, participaram de uma passeata contra as políticas de austeridade na qual desfraldaram bandeiras dos países mais afetados pelas políticas de cortes: Grécia, Espanha, Portugal, Itália e Irlanda.

Na capital belga, Bruxelas, nos bairros onde está a sede das instituições da União Européia, mais de mil pessoas, segundo a polícia local, se manifestaram na sede da Comissão Européia. Os protestos convocados pelos sindicatos sob o lema “Pelo trabalho e pela solidariedade na Europa. Não à austeridade” também ocorreram frente às representações da UE no Chipre, Irlanda, Portugal, Espanha, Grécia e Alemanha. Mais fotos e informações das manifestações estão disponíveis em Opera Mundi.

A população desses países experimentam um significativo retrocesso das suas condições de vida desde que a crise foi anunciada. Os trabalhadores gregos vivenciam cortes em seus salários e pensões entre 30% e 40%, demissão de 15% dos empregados públicos e foram fechadas centenas de escolas e serviços de saúde. Em Portugal, foram retirados os subsídios de Natal e de férias dos empregados públicos e pensionistas, e a reforma trabalhista reduziu as indenizações por demissão, as férias, os subsídios de desemprego e a remuneração das horas extras. Já o governo italiano passou o Imposto geral (IVA) de 21% para 23%, elevou a idade de aposentadoria até os 66 anos e congelou as pensões, ao mesmo tempo em que procedeu à privatização de numerosas entidades públicas.

Enquanto isso na Espanha…

Violência contra manifestantes em Madri

As primeiras horas da greve geral na Espanha nesta quarta-feira iniciaram com extensos cordões policiais protegendo os principais estabelecimentos do capital, como garagens, shoppings centers, supermercados e o transporte público. De acordo com alguns meios de comunicação ocorreram centenas de prisões e de pessoas com ferimentos até a noite, período no qual ocorreram as maiores passeatas. Segundo divulgação do próprio governo, foram cerca de 35.000 manifestações no país durante a semana, até o dia de ontem.

Na Espanha, esse conjunto de manifestações, que culminaram no 14N, foram embaladas pelo aumento do imposto geral sobre compras em até 14%, cortes salariais e cerca de 5 milhões de demissões e que afetaram de forma generalizada os trabalhadores, tanto no setor público como no privado. A reforma nos direitos trabalhistas facilitou as demissões, enquanto os cortes de recursos na saúde e no ensino foram generalizados e massivos. Cerca de 500 ações de despejo por dívidas hipotecárias diariamente estão sendo realizadas na Espanha, e uma série de suicídios foram registrados, o que inclusive fez os bancos declinarem por algum tempo dos despejos. Registra-se que na Espanha os juros da dívida pública aumentaram em 114.000 milhões de euros durante o período de 2008 a 2012 (equivalente a 12% do PIB).

Anuncia-se que a greve teve a adesão de cerca de 80% dos trabalhadores, com menor participação nos setores de educação e administração pública. O transporte público funcionou em 33% de sua capacidade e mais de 400 vôos foram cancelados junto às companhias Iberia, Spanair e Air Europa neste dia. Canais de televisão com a Telemadrid, Canal Sur, Canal 9 e TV3 não tiveram transmissão durante horas. As Comissões de trabalhadores informaram que o Metro de Madrid esteve totalmente paralisado.

Os incidentes de destaque ocorridos ontem nas manifestações em Barcelona foram acompanhas durante todo o dia e envolviam em geral a intervenção dos manifestantes junto a estabelecimentos comerciais abertos; pichações, pinturas e depredações em bancos e lojas multinacionais, como a loja de departamento Zarah e El Corte Inglês, bem como a rede de lanchonetes Mcdonald’s. Também ocorreram incidentes junto a policiais infiltrados nas manifestações, e, quando eram identificados tentando criar tumulto nas passeatas, foram agredidos pelos manifestantes.

Durante o dia o maior incidente entre os/as manifestantes e a polícia ocorreu por voltas das 20h no bairro de Quirnaona, centro de Barcelona, onde, após a identificação de  policiais infiltrados e pessoas encarregadas em causar confusão durante a manifestação, ocorreu ação de agressão da polícia, não identificada e com uso de máscara, com cacetadas, bombas de efeito moral, balas de borracha e a detenção de cerca de 100 manifestantes (ainda não há contabilização dos feridos). Um vídeo gravado com as agressões cometidas pela polícia podem ser vistas pelo canal Bambuser.

Fotos das manifestações em diversas cidades da Espanha podem ser visualizadas no perfil do Facebook do grupo Occupy Spain e no periódico Público.es.

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