Museu do Índio: ‘tribo Maracanã’ promete lutar por terreno

O terreno do antigo Museu do Índio, no Maracanã Eduardo Naddar / O Globo

Crea diz que imóvel tem valor histórico. Governo publica decreto de demolição na segunda

Celia Costa

RIO — Em defesa de um “solo sagrado”, cerca de 20 índios — de vários estados do país — que vivem no terreno das ruínas do Museu do Índio, vizinho ao Maracanã, prometem lutar até o fim contra a demolição do imóvel. A decisão do governador Sérgio Cabral, anunciada na quinta-feira, promete causar polêmica. O governo do estado, no entanto, não quis comentar as divergências e informou que o decreto de demolição será publicado na segunda-feira no Diário Oficial. A área onde está localizado o imóvel, erguido há 150 anos, abrigou a tribo indígena Maracanã.

A Defensoria Pública da União vai contestar na Justiça a demolição e tem como base um parecer do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro (Crea-RJ), que elaborou um parecer afirmando que o imóvel não apresenta risco de desabamento e que não interfere na mobilidade de pessoas durante a Copa do Mundo. A Fifa enviou um ofício ao defensor público federal André Ordacgy afirmando que não pediu a demolição do prédio.

Ao anunciar a decisão, o governador argumentou que o museu dará espaço a um projeto da prefeitura para melhorar o acesso dos torcedores ao estádio, com vistas à Copa de 2014. Ontem no entanto, a Secretaria municipal de Obras afirmou que ainda não há uma definição sobre o que será feito no local após a demolição.

A prefeitura informou ainda que o projeto de reurbanização do entorno do Maracanã já está em andamento e não interfere na área do museu.

Índios querem atrair turistas

O presidente do Crea-RJ, Agostinho Guerreiro, disse que há três semanas engenheiros foram ao local para fazer uma avaliação. Concluíram que a parte de alvenaria do prédio está conservada e que não há risco de desabamento. Segundo ele, a preservação do imóvel é possível. Agostinho Guerreiro argumentou que o imóvel tem valor histórico. O governador, no entanto, ao anunciar a demolição, declarou que o museu não tem valor histórico.

Em meio à discussão, os índios que fizeram um centro cultural no local esperam que o imbróglio dê visibilidade aos anseios da tribo. Afonso Apurinã, do movimento indígena, quer que o local se torne mais uma atração turística.

— Isso aqui é um solo sagrado que conta a história dos índios que aqui viviam. Foram eles que deram nome ao estádio e até ao rio que passa por aqui. Temos uma árvore que até hoje atrai os pássaros maracanã, que chegam em busca de comida. Seria muito bom que os turistas que visitam o estádio pudessem ver também toda essa história e um pouco da cultura indígena — disse Apurinã, de uma tribo do Amazonas e integrante do grupo que ocupou o prédio do museu há seis anos.

Como o prédio principal do museu está em ruínas, os índios que moram no terreno construíram nove casas, algumas erguidas com forros de estuque (massa preparada com gesso, água e cola). O centro cultural promove encontros, concursos e até festivais gastronômicos com peixes trazidos da Amazônia. No quintal, eles ainda criaram uma iguaria: um enorme formigueiro de saúvas que, segundo Afonso Apurinã, engordarão até janeiro, quando poderão ser degustadas.

A demolição também está deixando apreensivos os funcionários do Laboratório Nacional Agropecuário do Ministério da Agricultura, que também funciona no local. Segundo o chefe do laboratório, Alfredo José Morandini Vila, lá são realizadas três a quatro mil análises de alimentos por ano:

— Recebi orientação da Defensoria Pública da União de que só sairemos daqui com ordem de Brasília ou de Minas Gerais, onde fica a sede.

http://oglobo.globo.com/rio/museu-do-indio-tribo-maracana-promete-lutar-por-terreno-6467136#ixzz29rns77ar

Enviada por Alenice Baeta.

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