Evandro Corrêa
Um incêndio consome, desde o início da semana, a reserva indígena dos Xikrin do Cateté, em Parauapebas. Homens do Corpo de Bombeiros de Marabá auxiliam o grupamento de Parauapebas desde terça-feira, na tentativa de debelar as chamas e impedir que o fogo destrua uma grande área da reserva indígena, onde um helicóptero do Ibama permanece para dar apoio ao Corpo de Bombeiros. Segundo o major Francisco Cantuária, comandante do 5º Grupamento de Incêndio de Marabá, a presença do helicóptero se faz necessária porque existem alguns focos de incêndios numa serra, onde o acesso dos brigadistas é difícil porque seriam necessários oito quilômetros de caminhada. Ainda de acordo com Cantuária, alguns fatores da região podem piorar a situação na área indígena, como o tempo quente e a baixa umidade do ar.
Na área rural, as queimadas são desenfreadas. Segundo o Ibama, o grande número de assentamentos, invasões de terras e empreendimentos agropecuários que utilizam ilegalmente as queimadas para manejar suas pastagens, acentuam ainda mais o problema. Por outro lado, inúmeros focos de incêndios se espalham por municípios do sul e sudeste paraense, sendo que as incidências mais graves se verificam em São Félix do Xingu, Cumarú do Norte, Santana do Araguaia e São Geraldo do Araguaia. De acordo com Paulo Amaral, do Imazon, os combates aos focos de incêndios são realizados com brigadas que trabalham em parcerias com os municípios. “Infelizmente, o combate emperra em burocracia, uma vez que depende de convênios com os municípios”, relata.
Segundo Amaral, persiste na Amazônia a cultura do fogo como a principal ferramenta de limpeza de áreas para cultivo e limpeza de pastos. “Para atacar o problema são necessárias políticas contínuas de educação, combate ao desmatamento e intensificação de uso de áreas já desmatadas. As operações de combate a incêndios são importantes, mas são paliativas”, afirma.
No final de agosto, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, divulgou dados que indicam que mais de 67% do total de focos localizados estão em áreas privadas e acontecem porque fazendeiros e índios usam o fogo como manejo e perdem o controle das queimadas provocadas. De acordo com o levantamento, 13% dos focos estão em áreas indígenas, 8% em assentamentos da reforma agrária e 7% em unidades de conservação.
O Ibama e o Instituto Chico Mendes fizeram, também, um levantamento das ações do governo no combate ao fogo. Foram consumidos R$ 30 milhões nas operações, que envolvem mais de cinco mil homens, oito aviões, sete helicópteros e pelo menos 90 viaturas, trabalhando em todos os turnos e em todas as 109 áreas críticas.
Atualmente, o Corpo de Bombeiros de Marabá recebe uma média diária de oito chamadas de incêndios. “Muita gente queima o terreno para limpar o mato ou entulho. É isso que está colocando a cidade em risco. As pessoas têm de se conscientizar da responsabilidade sobre o meio ambiente. Marabá está sendo afetada também pela fumaça e pela fuligem provocadas pelos incêndios. O vento distribui a poluição por toda a cidade”, ressalta o major Cantuária. O Grupamento de Marabá tem apenas 250 homens responsáveis por cobrir uma região de 15 municípios. Em São Geraldo do Araguaia, as equipes tentam apagar focos de fogo no Parque Estadual da Serra das Andorinhas, fronteira com Tocantins.
Por outro lado, o Corpo de Bombeiros está com projeto pronto para fazer a descentralização dos serviços na cidade, com a implantação de um posto avançado na Nova Marabá, para atender as ocorrências com maior celeridade, livrando-se do congestionamento em torno da ponte sobre o rio Itacaiúnas. Ainda segundo o comandante Cantuária, uma reunião já agendada com representantes da SDU (Superintendência de Desenvolvimento Urbano) de Marabá deve definir a área onde será implantado o posto avançado. “Além disso, outro posto com as mesmas características deve ser implantado no Distrito Industrial de Marabá para atender as demandas específicas que o empreendimento requer”, finaliza.
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