Canoa de tolda; uma lembrança viva para quem viu, um exemplar para vê agora
Ao passar pela orla de Penedo deparei-me com uma cena que há décadas Penedo não mostra mais. A presença de uma canoa de tolda ancorada no resto de leito do Velho Chico, nas imediações Rodoviária da cidade.
A minha memoria ainda fértil das lembranças de uma conversa que mantive com Murilo Resende, oriundo da fazenda Intans, pertencente ao Curral das Pedras, município de Gararu que nos relatava no ano comemorativo dos 500 anos do rio São Francisco.
Com a propriedade de quem viveu nos tempos da canoa de tolda, Murilo puxou pela memória que lhe fazia encher os olhos de lágrimas o que passo a narrar.
“Vi ainda menino canoas de tolda que eram responsáveis pelo transporte de todo o arroz produzido por essa beira de rio acima, caso da Marialva do seu Augustinho Gonçalves de Propriá-SE, que carregava 1200 sacos, o equivalente a 72 toneladas, tio empresário aposentado de Penedo Arnaldo Gonçalves. Outras tantas que carregavam 800 sacos, 48 toneladas descendo e subindo o velho Chico singrando as águas povoadas de peixes e que anualmente se rebelavam durante as cheias dragando o leito do rio da unidade nacional dando vida ao povo barranqueiro”. Triste faz silêncio para uma pausa Murilo Resende.
Retomando, também conheci ainda menino parte da história do mudo Davi, homem de estatura atarracada – baixo e forte – dono de uma força descomunal, acostumado a desencalhar canoas carregadas de arroz quando presas às margens do rio ou em seu meio quando de uma encalhada em uma croa.
A rainha das águas era a Marialva, que era seguida da Buenos Aires do seu Elísio Maia de Pão de Açúcar, Goiana do seu Joaquim Resende da citada cidade, Lindoya do Dr. Etelvino Tavares dono da fazenda Araticum localizada à margem direita do Velho Chico nas imediações do povoado Limoeiro e a cidade alagoana de Belo Monte, Aviadora da fazenda Salgado do senhor José Braúna de Propriá, a Canindé, a maior de todas elas de Ercílio Brito também de Propriá.
Entre a menores se destacavam a Itaberaba da cidade sergipana de Gararu, do pai do nosso entrevistado – Murilo Resende – Ouro Branco de Antônio Salú da cidade alagoana de Belo Monte, a São José de Aristides Alves melo, Nova Conquista de José Dandão, sendo todas elas as responsáveis pelo transporte do arroz, da Cal e das pedras de paralelepípedo para o baixo São Francisco.
A canoa de tolda é parte de uma cultura e do desenvolvimento de todas as cidades ribeirinhas entre as cidades de Piranhas até a foz do rio São Francisco, pois sem elas as mercadorias que saiam de Penedo não chegariam ao alto sertão nem de lá viriam à produção de tudo o quanto se imaginar para Penedo.
Como diz Alexandre e outros heróis, seriado apresentado pela Rede Globo de Televisão na semana passada, “quem viu, viu, e quem não acredite”!
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Enviada para Combate Racismo Ambiental por Ruben Siqueira.