Ele foi atrás de uma tradição. Começara perguntando onde ela estaria. As pessoas, a quem perguntava, riam em seus íntimos. Quase ninguém se interessava mais por ela. Não por aqui. Nem em qualquer outro lugar. As perguntas o levaram até Urbano Santos. Quem o receberia naquela cidade quando desembarcasse? O presidente do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Urbano Santos providenciara um motociclista a fim de recepcioná-lo e carregá-lo até o povoado de São Raimundo. Esse nome não saíra de sua mente. Lera-o num documento da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos. Nesse documento figuravam vários nomes de comunidades atormentadas por conflitos com a Suzano Papel e Celulose e com proprietários.
A tradição da luta pela terra se embrumara. Eles rodaram um caminho de piçarra e areia. A presidente da associação de São Raimundo se assustou. Ele despejou várias perguntas sobre ela e pareciam algo incongruente e irreal. Quem era aquele moço que viera de tão longe? A que eles deviam sua passagem por ali? Ele, enfim, topara com a tradição que andava atrás por tanto tempo, e ali o seu tempo, o tempo que aprendera, dissipava-se em um vastíssimo tempo do qual não haveria saída.
O rio Preguiças estipula o tempo em que suas águas percorrem as vastas extensões dos municípios de Santana, Santa Quitéria, Anapurus, Urbano Santos e Barreirinhas, Baixo Parnaíba maranhense. Quem afirma com segurança qual das nascentes do rio Preguiças se afirma como aquela imprescindível?
Sim, por muito tempo, havia uma crença que o rio Preguiças nascia na Barra da Campineira, município de Anapurus. Essa crença se desvaneceu em parte pelas pesquisas realizadas ao longo da bacia do rio Preguiças e por outra parte pelos desmatamentos desfechados pela Suzano Papel e Celulose e pelos plantadores de soja.
Os plantios de eucalipto da Suzano esmagaram a mata ciliar em Anapurus. A Secretaria de Meio Ambiente do Maranhão e o Ibama fingem que não veem o descalabro socioambiental que resulta dos plantios de eucalipto e de soja na bacia do rio Preguiças. Acaso dependesse apenas da Secretaria de Meio Ambiente esse descalabro se perpetuaria em todas as bacias hidrográficas do Maranhão e mais enfaticamente na bacia do rio Preguiças, onde se localiza a comunidade de São Raimundo que desde o final de 2012 impede o senhor Evandro Loeff de desmatar 945 hectares de Chapada.
A comunidade obteve uma liminar na comarca de Urbano Santos que paralisou o projeto do senhor Loeff de transformar a Chapada inteira em carvão vegetal a fim de pagar suas dividas. O secretario de meio ambiente Victor Mendes e o então secretario adjunto Cesar Carneiro assinaram a autorização de desmatamento baseado num laudo fajuto de um analista da secretaria em uma área onde a própria SEMA concedera a licença prévia ao Incra no processo de desapropriação de São Raimundo. A concessão da licença prévia atesta que aquela área prestes a ser desapropriada tem viabilidade ambiental.