Rio – Advogado de jornalistas diz que prisão de ativistas foi ‘infundada’

 

Presos pela Polícia Civil este sábado (12)
Presos pela Polícia Civil este sábado (12)

Conexão Jornalismo

A decisão da Justiça que pediu a prisão de 19 pessoas no Rio de Janeiro, no sábado (12), não apresenta fundamentos e usa argumento “incabível”, segundo o advogado Lucas Sada. O advogado é do Sindicato de Jornalistas do Rio de Janeiro e está atuando em defesa da jornalista e radialista Joseane de Freitas, da EBC. A mesma operação deteve a ativista Sininho, além de professores e advogados. As prisões ocorreram na véspera da final da Copa do Mundo, por supostamente planejar um protesto violento no domingo.

“Ninguém sabe quais são as acusações. É uma prisão sem nenhuma fundamentação e não há motivos específicos”, disse Lucas Sada. O advogado questiona a decisão porque não existem detalhes do crime que seria cometido pelos presos: “Que atividade criminosa é essa? Que grupo é esse?”. O advogado também disse, que Joseane de Freitas não participava de manifestações e não conhece os outros presos.

Os indiciados foram presos em suas casas pela Polícia Civil. A operação Firewall 2 da Delegacia de Crimes de Informática, devia executar 26 mandatos de prisão na véspera da final da Copa do Mundo. A Justiça carioca não esclareceu os mandados porque a investigação do caso corre em sigilo desde julho de 2013.

A acusação, que inicialmente era de “formação de quadrilha” mudou para “formação de quadrilha armada” depois de um revólver ser encontrado na casa de um dos presos. Mas a arma pertencia ao pai do ativista, que foi detido por estar com a licença vencida.

A decisão de uma página do juiz Flávio Itabaina de Oliveira Nicolau, da 27ª Vara Criminal, diz que “há sérios indícios de que está sendo planejada a realização de atos de extrema violência nos próximos dias, a fim de aproveitar a visibilidade decorrente da Copa do Mundo de futebol”.

Joseane de Freitas, jornalista da EBC, foi presa no Rio com 18 ativistas
Joseane de Freitas, jornalista da EBC, foi presa no Rio com 18 ativistas

Para Lucas Sada, o argumento é “incabível” com o tipo de prisão efetuada. “Isso seria uma prisão preventiva, quando se quer impedir que que o criminoso cometa mais crimes. A prisão temporária é feita para tirar de circulação alguém que vai ser investigado, o que não é o caso”, explicou.

Os 19 presos foram levados para o Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu, onde devem permanecer até a quinta-feira (17). Os pedidos de habeas corpus encaminhados pelos advogados de defesa foram recusados no domingo. (leia mais sobre as prisões aqui)

O advogado deve entrar ainda com um pedido de reconsideração, mas admite que talvez não haja tempo para a medida, por conta da burocracia: “O que resta fazer agora é muito pouco, porque não deve haver tempo hábil até quinta-feira”.

O Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro e a Comissão de Empregados da EBC publicaram uma nota exigindo que a empresa de Joseane apoie a jornalista:

“Exigimos que a Empresa Brasil de Comunicação preste todo o apoio necessário à sua funcionária e também à família dela. De nossa parte, Jose pode contar com toda a solidariedade e apoio. Esperamos que ela possa estar de volta ao nosso convívio no menor tempo possível”.

Procurada, a EBC ainda não havia emitido um posicionamento público sobre a situação de Joseane.

JUSTIÇA RESTRINGE JORNALISTAS

A Justiça carioca já havia restringido a liberdade de imprensa antes das prisões. No dia 9 de julho, a juíza Angélica dos Santos Costa negou um pedido do Sindicato dos Jornalistas para permitir que repórteres circulassem nas ruas em torno do Maracanã em dias de jogos.

A justificativa foi que a alteração no esquema de segurança causaria “transtornos”. A juíza também disse que as […].

Para o advogado Lucas Sada, que encaminhou o pedido do sindicato, a decisão é ilegal e inconstitucional, porque não está de acordo com a Lei da Copa, nem com os princípios de liberdade de expressão e de imprensa.

A juíza, porém, considerou que a imprensa não foi cerceada porque os repórteres credenciados pela Fifa tinham acesso livre ao Maracanã.

‘POLÍCIA MÃE DINAH’

Em entrevista ao portal Viomundo, o juiz João Batista Damasceno, membro da Associação Juízes para a Democracia (AJD), classificou as prisões de ativistas e da jornalista Joseane de Freitas como ilegal.

Damasceno disse que a Polícia carioca se transformou em “Mãe Dinah”, por tentar prever o futuro e disse que as prisões ameaçam a democracia: “implementaram-se medidas típicas de um Estado de Sítio”.

“Do ponto de vista substancial, não há como defender a legalidade de tais prisões”, disse o jurista. “Violou-se o direito constitucional de liberdade de manifestação do pensamento e direito de reunião.”

O vídeo à seguir mostra a prisão da ativista Elisa Quadros, ou Sininho, na casa do namorado em Porto Alegre:

JORNALISTAS AGREDIDOS

O Sindicato dos jornalistas do Rio de Janeiro publicou uma nota que denuncia agressões profissionais da imprensa e cita a prisão Joseane de Freitas: o sindicato diz que ela foi “presa neste sábado (12/7) em casa, sem qualquer motivo esclarecido”, e divulgou uma lista de comunicadores agredidos.

Jornalistas e comunicadores agredidos:

  • Samuel Tosta – diretor do Sindjor-Rio – freelancer – ferido nas costas por estilhaços de bomba
  • Gizele Martins – diretora do Sindjor-Rio – editora do jornal Cidadão – crise de asma por inalação de gás lacrimogêneo
  • Mauro Pimentel – repórter fotográfico do Terra – chutado e golpeado no rosto e nas pernas com cassetete, teve a lente da câmera quebrada e a máscara de gás quebradas
  • Ana Carolina Fernandes – repórter fotográfica da Agência Reuters – teve a máscara de gás arrancada por um PM que a atacou com spray de gás de pimenta
  • Boris Mercado – repórter fotográfico peruano – chegou a ser detido e agredido
  • Jason O’Hara – repórter cinematográfico canadense – internado no Hospital Municipal Souza Aguiar em decorrência dos ferimentos
  • Oswaldo Ribeiro Filho – jornalista da agência inglesa Demotix – teve uma bomba de gás jogada em seu rosto
  • Filipe Peçanha – comunicador da Mídia Ninja – vítima de espancamento por oito PMs e a lente da câmera quebrada.
  • Leo Correa – repórter fotográfico freelancer – vítima de agressões físicas por PMs.
  • Tiago Ramos – jornalista do SBT Rio – ferido por estilhaços de bomba em um dos braços.
  • Luigi Spera – Jornalista italiano – vítima de agressões físicas por PMs.
  • Aloyana Lemos – documentarista – detida com violência por PMs e levada para a 21ª DP (Bonsucesso)
  • Bernardo Guerreiro – comunicador da Mídia Ninja – teve sua lente quebrada e foi agredido com spray de pimenta no olho a curta distância
  • Augusto Lima – jornalista do Coletivo Carranca – teve o celular quebrado quando foi agredido a golpes de cassetete.
  • Loldano da Silva – repórter fotográfico – agredido com dois golpes de cassetete no braço esquerdo, levado para o Souza Aguiar.

Relação de presos na Operação Firewall 2: 

  • Eliza Quadros Pinto Sanzi, “Sininho”
  • Gerusa Lopes Diniz, “G Lo”
  • Tiago Teixeira Neves da Rocha
  • Eduarda Oliveira Castro de Souza
  • Gabriel da Silva Marinho
  • Karlayne Moraes da Silva Pinheiro, “Moa”
  • Eloysa Samy Santiago
  • Camila Aparecida Rodrigues Jourdan
  • Igor Pereira D’ Icarahy
  • Emerson Raphael Oliveira da Fonseca
  • Rafael Rêgo Barros Caruso
  • Filipe Proença de Carvalho Moraes, “Ratão”
  • Felipe Frieb de Carvalho
  • Pedro Brandão Maia, “Pedro Funk”
  • Bruno de Souza Vieira Machado
  • Rebeca Martins de Souza
  • Joseane Maria Araújo de Freitas
  • Eronaldo Araújo da Fonseca (prisão em flagrante por arma e munições)
  • Sarah Borges Galvão de Souza (prisão em flagrante por drogas)
  • Outros dois menores apreendidos (cujos nomes estão preservados como determina o Estatuto da Criança e do Adolescente)

Continuam foragidos:

  • Luiz Carlos Rendeiro Junior, “Game Over”
  • Luiza Dreyer de Souza Rodrigues
  • Ricardo Egoavil Calderon, “Karyu
  • Igor Mendes da Silva
  • Drean Moraes de Moura Corrêa, “DR”
  • Shirlene Feitoza da Fonseca
  • Leonardo Fortini Baroni Pereira
  • Pedro Guilherme Mascarenhas Freire
  • André de Castro Sanchez Basseres
Decisão judicial da prisão de 26 pessoas tem apenas 1 página
Decisão judicial da prisão de 26 pessoas tem apenas 1 página

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.