PM usou bombas de gás contra manifestantes que pediam libertação de presos de outros protestos; pelo menos seis foram detidos no ato
Débora Melo – Terra
O protesto que pedia a libertação de dois manifestantes presos em ato contra a Copa terminou com um saldo de ao menos seis detidos nesta terça-feira, em São Paulo. Dois dos presos são advogados do coletivo Advogados Ativistas, grupo que oferece assistência jurídica a manifestantes.
A manifestação, que reuniu cerca de 300 pessoas na praça Roosevelt, no centro em São Paulo, começou por volta das 18h com uma espécie de debate para discutir a repressão da Polícia Militar nos protestos. Por volta das 19h30, os advogados Daniel Biral e Silvia Dascal foram detidos após um desentendimento com um policial.
Depois, por volta das 20h, a PM lançou bombas de gás lacrimogêneo na direção de um grupo de manifestantes que protestava contra a abordagem da PM a um artesão que passava pelo local e estava sendo revistado. Houve correria, e ao menos outras três pessoas foram presas durante a confusão, segundo informações do coletivo Observadores Legais – o motivo das detenções não foi informado. Durante as detenções, a PM tentou impedir a aproximação de manifestantes e jornalistas usando spray de pimenta. Informações não confirmadas dão conta de que os detidos foram levados para o 78º DP (Jardins).
Segundo André Zanardo, dos Advogados Ativistas, a detenção dos dois profissionais ocorreu depois que a advogada questionou o fato de policiais estarem no local sem identificação nominal. “O policial se exaltou e pegou o Daniel pelo colarinho. Depois os dois foram levados. A OAB precisa tomar providências. O advogado não pode ser detido no exercício de sua profissão. Estávamos em um momento pacífico, que não exigia sequer a presença da polícia”, disse Zanardo.
Os dois advogados ativistas presos foram liberados. Eles tiveram que assinar um termo circunstanciado por desacato e seguiram do 78º DP para o Instituto Médico Legal (IML), para a realização do exame corpo de delito. De acordo com o advogado Zanardo, Biral teria apanhado dos PMs mesmo estando algemado. Outros três manifestantes seguem detidos no 78º DP – o motivo das prisões não é conhecido.
O protesto de ontem, convocado para pedir a libertação do estudante e funcionário da USP Fabio Hideki Harano, 26 anos, e do ex-PM e professor Rafael Marques, 29 anos, detidos em ato contra a Copa no último dia 23, contou com policiamento ostensivo: centenas de policiais – incluindo Tropa de Choque, Força Tática e Cavalaria– cercaram a praça Roosevelt e revistaram manifestantes que se aproximavam. PMs com câmeras também filmaram todo o protesto.
Debate contra a repressão
O debate contra a repressão, convocado por diversos coletivos, entre eles, o Território Livre, contou com a presença do padre Julio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua da Arquidiocese de São Paulo, e do juiz Jorge Souto Maior, 3ª Vara do Trabalho de Jundiaí (SP).
Uma mesa com microfones foi montada na praça Roosevelt e, em seu discurso, o padre Julio afirmou que a prisão de Fabio Harano na semana passada não teve base legal. “Eu vi o Fábio (Hideki Harano) ser preso de maneira covarde, sem nenhuma prova nem nada na mochila”, disse o padre, que estava presente no momento em que o servidor da USP foi detido, dentro da estação Consolação do metrô. “Já enfrentei a Tropa de Choque muitas vezes na minha vida e não vai ser agora que terei medo de dizer: covardes”, continuou o padre Julio.
Para Rafael Padial, integrante do coletivo Território Livre, a PM está fazendo “terrorismo psicológico”. “Estamos em estado de exceção. A polícia cercou toda a praça e revistou e provocou as pessoas, além de entrar no meio dos manifestantes para filmá-los. Na cabeça deles, todo mundo é vândalo e baderneiro”, concluiu.
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Enviada a Combate Racismo Ambiental por Rodrigo de Medeiros Silva.