Janaelle Neri, em Casa de Cultura Xakriabá
É com todo o prazer do mundo que hoje escrevo sobre uma iniciativa partida do maior povo indígena do Estado de Minas Gerais, o povo Xakriabá.
Em uma das mais de 30 comunidades indígenas, mais especificamente na comunidade de Sumaré, no coração da Terra Indígena encontramos a “Casa de Cultura Xakriabá”; uma intercessão que reúne elementos dos sonhos e ações do povo indígena disperso em um território de um pouco mais de 50 mil hectares.
O projeto “Casa de Cultura Xakriabá” surgiu através de uma iniciativa tomada pelo artesão Xakriabá Edvaldo Gonçalves de Oliveira (Dé), da Aldeia Sumaré, que teve a ideia de ampliar um barraco no qual ele já trabalhava fabricando objetos indígenas para iniciar oficinas de artesanato para as pessoas da comunidade.
A carinhosa ideia foi tão bem acolhida que não foi difícil encontrar parceiros para a empreitada. A Universidade Federal de Minas Gerais, que já tinha contato com o Povo Xakriabá a partir da Faculdade de Educação (FAE) foi a principal parceira do projeto a partir da intervenção da professora Ana Gomes e a Associação Indígena Xakriabá Aldeia Barreiro Preto, que realiza a mediação com a comunidade local, a Província de Modena (Itália), que participa com financiamento, a ISCOS – Emilia Romagna e a ANAÍ, que respondem pela gestão administrativa, além do apoio da Prefeitura Municipal de São João das Missões, que tem prefeito indígena (mais de 70% dos munícipes de São João das Missões são indígenas).
O Projeto da Casa de Cultura Xakriabá é composto por basicamente duas ações. A primeira delas foi a própria construção da Casa de Cultura e a segunda como subprojeto complementar denominado “Ponto de Cultura Loas”, que é financiado pelo Fundo Estadual de Cultura, é basicamente de apoio às atividades de fabricação de artesanato, oficinas ligadas à arte e cultura do Povo e usufruto do território.
As oficinas são disponíveis para indígenas de todas as idades e também de todas as comunidades Xakriabá. A Casa de Cultura fomenta o intercâmbio entre comunidades Xakriabá, mas também é referência para comunidades de outros indígenas doestado e do país. Todas as atividades da Casa de Cultura são construídas com a participação coletiva. Até o momento foram realizadas oficinas de Sabão, Fitoterapia (Plantas Medicinais do Cerrado), Website, produção de livros com materiais recicláveis, oficina de Fotografia e Vídeo, entre outras.
Remando contra a maré, o Povo Xakriabá tem atualmente usado de mídias alternativas para o fortalecimento do vínculo com a terra e a cultura e tem experimentado resultados muito positivos com os grupos de jovens indígenas. Isto é o resultado de um processo de formação de jovens realizado pelas oficinas da Casa de Cultura. Edgar Corrêa Kanaykõ, jovem indígena xacriabá, morador da comunidade Barreiro Preto diz:
“Os jovens aprendem a usar ferramentas de multimídia para captar e registrar aspectos da cultura para que não se percam e possam ser repassados para a comunidade e também usados como material didático pelas escolas. Ainda é bem recente, mas alguns produtos já foram feitos, como pequenos livros e documentários etnográficos em andamento. Lembrando que muitos desses produtos surgem dos projetos realizados pela AIXABP – Associação Indígena Xakriabá Aldeia Barreiro Preto, no qual a Casa de Cultura Xakriabá está ligada.”
O projeto Casa de Cultura Xakriabá veio para o fortalecimento da identidade cultural e revitalização das práticas tradicionais indígenas. Valorizando assim os conhecimentos tradicionais do povo Xakriabá, retomando práticas do fazer artesanal tradicional, muitas vezes não registrada, além do aperfeiçoamento do processo de construção do artesanato através das oficinas realizadas.
Para isto o idoso tem um lugar singular na organização das atividades que reforça o processo mais amplo de retomada das tradições por parte do povo Xakriabá. Uma lindíssima edificação pensada pelo arquiteto Roberto Montemor (UFMG) com ideias dos indígenas, alunos, orientandos, professores indígenas e que respeitosamente se confunde com a paisagem muito pelo que representa ao povo; mais um instrumento de articulação que adentra pouco a pouco todos os lares Xakriabá, além paredes escolares.
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Enviada por Pablo Matos Camargo para lista CEDEFES.