Confira os depoimentos dos amigos do MST, celebrando os 30 anos de vida e lutas do movimento:
Eduardo Galeano, escritor:
Toda a minha solidariedade a essa causa tão justa, talvez a mais justa de todas as causas, que nos devolve a fé perdida no trabalho, na terra e nos ajuda a lutar contra os parasitas que vivem ganhando fortunas à custa dos que querem viver honestamente.
Neste mundo ao contrário, que tem a cabeça nos pés, esses canalhas mandam.
O MST nos confirma que essa maldição não é nosso destino. Abraços e desejos de muitas sortes, que vocês merecem.
Noam Chomsky, Linguista, ativista político e filósofo:
O 30º aniversário do MST é um momento tanto de celebração de conquistas importantes durante muitos anos, e da renovação do compromisso de devotar sérios esforços para atigir as metas que o movimento persegue com tanta coragem.
Durante esses anos difíceis e problemáticos, quando as pessoas do mundo foram subjugadas a uma ofensiva neoliberal pelas forças concentradas e coordenadas do poder estatal-privado, o MST tem sido um clarão de esperança para os que sabem que um mundo diferente e muito melhor é possível, um monde no qual os amplos recursos disponíveis estejam sob controle direto do povo, não de aristocracias poderosas, e que sejam usados para as necessidades do povo, que não sejam explorados para o lucro de poucos.
As conquistas do MST para seus militantes tem sido impressionantes, mas o impacto maior do movimento como uma inspiração para outros que compartilham seus ideais dá um significado ainda maior para esses trinta anos de luta dedicada. Parabéns, com expectativas de maior sucesso pela frente.
Fábio Konder Comparato, Professor Emérito da Faculdade de Direito da USP:
A partir do surgimento do MST, começou-se a compreender no Brasil que a terra agrícola não deve ser objeto de propriedade privada a ser explorada por outrem, mas sim do direito de uso exclusivo por parte dos que a lavram diretamente.
Paulo Eduardo Arantes, professor aposentado do Departamento de Filosofia da FFLCH da USP.
Celso Furtado declarou certa vez que o MST era o mais importante movimento social já ocorrido no Brasil durante o século XX. Quando lhe perguntaram por que neste século, respondeu: porque no anterior houve a Abolição da Escravatura, colocando no mesmo nível a luta do MST e a dos escravos.
Convenhamos que não é pouca coisa. É por essas e por outras, e enquanto perdurar o cativeiro da terra, que o MST não vai acabar. O Brasil cruzou a barra do século XXI majoritariamente urbano, estendendo o cativeiro da terra até à periferia das grandes cidades.
Há 30 anos atrás nascia o movimento que reinventou entre nós a estratégia da ação direta autônoma, responsável pela mais expressiva, surpreendente e rápida vitória popular de que se tem notícia na história recente do país.
Não só a estratégia, mas também o mesmo espírito de rebeldia voltou às ruas nas revoltas de junho. A rua é hoje o campo expandido da luta, onde estão as novas cercas a serem rompidas.
Ao se reconhecer e se juntar ao jovem e novo proletariado urbano que se insurgiu desde junho, o MST demonstra que continua o mesmo movimento que inspirou a declaração histórica de Celso Furtado: velho de guerra porém novinho em folha.
Sabemos que devemos contar com a luz e com a força do Espírito, que renova todas as coisas. Somos um movimento de rebelião e utopia. Lutamos com a enxada, plantamos sementes limpas, fazemos a Reforma Agrária popular possível no cada dia.
Alongaremos este processo no congresso maior convocado pelas instâncias de luta e de organização que sonham e plantam a mesma utopia. Por muitos 30 anos de caminhada até libertar a terra e tornando “com terra” todo o povo.
Maria Rita Kehl, psicanalista e integrante da Comissão da Verdade:
Tinha notícias do MST pela péssima cobertura da imprensa, desde sua origem. Mas só entendi a grandeza deste que é o maior movimento social do país (ou do mundo?) a partir de 2006, quando tive a oportunidade de participar pelas bordas, oferecendo atendimento em psicanálise na Escola Nacional Florestan Fernandes.
Depois de 6 anos escutando pessoas que vinham de todas as partes do país, e das mais diversas experiências de sofrimento e superação, posso afirmar duas coisas.
1. Uma organização social cuja militância se baseia em princípios de solidariedade é capaz de produzir importantes diferenças subjetivas, além das transformações sociais objetivas a que se propõe.
É claro que o sofrimento psíquico tem fundamentos comuns a todo o ser humano, mas encontrei, em meus atendimentos na ENFF, pessoas com recursos subjetivos que me parecem gerados pelo sentimento de pertença coletiva que o MST possibilita – desde que não se tente anular as diferenças individuais, que fazem a riqueza de toda comunidade humana.
2. A partir de 2012, iniciei pela Comissão Nacional da Verdade uma pesquisa sobre as graves violações de direitos humanos entre trabalhadores rurais, no Brasil inteiro, entre 1946 e 1988.
Confirmei então a opinião de minha colega de atendimentos na ENFF, Noemi Araújo: só a força da união dos trabalhadores rurais no Brasil foi capaz de interferir no padrão de violência de latifundiários e agentes do Estado contra os camponeses.
Não foi a polícia nem o exército nem os pequenos poderes municipais que alteraram o padrão de resolução de conflitos de terras pela “pistolagem”: foi a força da união dos trabalhadores rurais.
Mas não me esqueço que a redemocratização do Brasil foi contemporânea da criação de uma organização criminosa de latifundiários a contratar pistoleiros armados contra posseiros e pequenos agricultores: a UDR, nascida e tolerada pelo governo “democrático” do presidente Sarney, para tentar derrotar a proposta do MST, de Reforma Agrária com participação popular e justiça social.
A Reforma Agraria é um tema “interditado” no Brasil. Desde sempre. O presidente Jango foi derrubado em 1964 quando enviou um corajoso projeto de Reforma Agrária ao Congresso. Militares, meios de comunicação e empresários estavam (e estão, até hoje) contra a Reforma Agrária.
Jornalista de profissão, sei que a terra e os meios de comunicação são as riquezas mais concentradas em nosso país: seguem nas mãos de poucas famílias. O Brasil é dominado por uma oligarquia – no campo, nas TVs e jornais… Os governos do PT, especialmente a administração Dilma, não avançaram nessa área.
Cederam, fizeram acordos demais. E assim o interior do Brasil vai se transformando num “deserto verde” – com plantações, pasto, mas quase sem agricultores. O MST é a garantia de que esse debate não vai morrer.
O MST é a pedra no sapato de conservadores que tentam fugir do debate sobre Reforma Agraria no Brasil. O MST é alimento do Brasil. Por isso, vida longa ao MST!
Vida longa aos trabalhadores e trabalhadoras que brigam pela Reforma Agrária – acampados em barracas de lona, ou produzindo nos lotes conquistados graças a muita luta!”
Frei Betto, é escritor e religioso dominicano brasileiro:
Salve o MST! 30 anos de luta pela Reforma Agrária, de conquista da terra através de ocupações, de assentamentos e acampamentos pelo Brasil afora. Ao comemorar 30 anos, o MST chora seus mortos e assassinados, celebra suas marchas e caminhadas, renova seu compromisso de buscar outros mundos possíveis como alternativa ao capitalismo neoliberal.
Viva o MST! Deus encoraje cada militante a prosseguir na luta pelos próximos 30 anos! Meu abraço fraterno.