Paulo Toledo Piza, do G1 São Paulo
O Shopping JK Iguatemi fechou as portas na tarde deste sábado (18) por volta das 14h para evitar a entrada e o protesto de cerca de 200 pessoas que realizam o “Rolé Contra o Racismo no JK Iguatemi” convocado pela União de Negros de Educação Popular para Negros e a Classe Trabalhadora (Uneafro) no Facebook. Não há nenhuma liminar colada nas portas que indique proibição de entrada.
Elizeu Soares Lopes, advogado de movimentos negros, sugere fazer fila na frente do shopping, sem bandeiras, para entrar no estabelecimento de “maneira ordeira”. Caso não deixem, ele diz que pretende ir à delegacia para fazer boletim de ocorrência de racismo e constrangimento ilegal.
Diferentemente dos “rolezinhos” que ocorreram nos últimos finais de semanas em shoppings, principalmente, da Zona Leste, o “rolé” em frente ao JK Iguatemi reúne a militância que luta pelo direito dos negros. Por volta das 13h40, os manifestantes fecharam a Avenida Henrique Chamma, próxima ao shopping, onde homens reforçam a segurança. Uma faixa estendida por manifestantes diz, em inglês, que o “No país da Copa do Mundo, shoppings racistas proíbem a entrada de pessoas pretas e pobres”.
Segundo o militante da Uneafro, Lucas de Assis, de 19 anos , o objetivo do protesto é chamar a “atenção do mundo para o que está faltando no Brasil” e pelo fim da “opressão contra o pobre e o preto”.
“O protesto não é contra a ninguém: é a favor dos pobres, a favor dos funkeiros, e a favor da liberdade”, disse Assis.
De acordo com João de Oliveira, diretor da Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen), a proibição dos jovens de periferia na porta dos shoppings é exemplo do “racismo institucionalizado no Brasil”. No sábado anterior, o JK Iguatemi conseguiu liminar para evitar um “rolezinho”.
“É o racismo do judiciário que não é novidade para nós. Isso é histórico”. Para Oliveira, a realização dos “rolezinhos”, principalmente na Zona Leste, já era prevista.
“Cortaram os bailes funks, proibiram os pancadões e empurraram a periferia para a barbárie. Na Zona Leste tem que opção de lazer? Tem só shopping, Parque do Carmo e o Sesc”, completou.
Na página de convocação do evento no Facebook, onde 4.665 pessoas confirmaram presença, há um texto que fala sobre o racismo em São Paulo e sobre as liminares que impediram a entrada de jovens nos shoppings.
“Esse racismo se traveste cotidianamente a medida da necessidade do opressor. Nesse momento vivemos em São Paulo e em outros grandes centros mais uma das faces do racismo estrutural brasileiro: A reação dos Shoppings, da Polícia e agora da Justiça em relação a presença de “jovens funkeiros” nestes estabelecimentos”, diz o texto.