O “3º Congresso Nacional da Juventude Camponesa – Terra, Pão e Dignidade” ocorrerá entre os dias 14 e 15 deste mês, no Parque de Exposições do Cordeiro, em Recife, no Pernambuco. Confira a Carta de convocação da Pastoral da Juventude Rural (PJR) aos jovens do campo:
Carta à Juventude Camponesa
Da: Coordenação Nacional da Pastoral Da Juventude Rural
Para: Toda Juventude Camponesa do Brasil
Olá querida Juventude camponesa!
Gostaríamos de convidar vocês pra um “dedinho” de prosa, de nos fazer presente ao lado de cada um e cada uma de vocês pra gente conversar umas coisas.
Ultimamente temos ouvido falar muito sobre a juventude, seja nas discussões e ações da igreja, seja no debate da redução da maioridade penal no legislativo brasileiro, seja no marketing dos cursos profissionalizantes que preparam a juventude para o mercado de trabalho, e em outras inúmeras formas e dispositivos de comunicação, até mesmo na nossa comunidade. O assunto está na boca do povo, é ou não é?
Cada um com sua opinião, sua convicção, descrevendo como é o jovem de hoje, as tantas coisas que eles têm acesso, que antes não se tinha, e todos fazendo sua avaliação.
Bem, se estão certos ou errados não sabemos, mas os fatos são: não nos perguntam pra saber o que achamos; conversamos pouco entre nós sobre isso; e muitas vezes acabamos assumindo o discurso deles e ainda até reproduzimos a imagem que se tem de nós. Mas com isso tudo, já estamos até acostumados.
O interessante em todo esse papo sobre a juventude, é que o que aparece é a imagem de uma juventude geral, com um rosto único, padronizada, todos iguais, prontos e acabados. E isso é uma incoerência com o próprio ser juventude. Não somos todos, uma massa só, temos características, temos história, que nos tornam diferentes. Diferença que não pode ser excludente, bem como a igualdade não pode ser opressiva.
O que nos incomoda cada vez mais, é que nesse papo todo, quem é a juventude camponesa? Ninguém. Alguém que não existe, invisível, ou melhor, invisibilizada, alguém que não precisa ser vista, que precisa estar escondida, camuflada. Parece até que a intenção é fazer com que procuremos outro lugar pra viver, para assim sermos lembrados. A invisibilidade é uma das maiores expressões da exclusão social.
A PJR grita, clama, desde 1985 que “Jovem da Roça também tem Valor!” e parece que este grito está cada dia mais atual, cada vez é mais necessário ser feito, para que todos ouçam, para que todos saibam que existimos, que nossos direitos precisam ser respeitados e que queremos construir uma vida digna no lugar onde vivemos, no campo, na roça. Lutar contra a exclusão social é uma das características da ação da PJR.
A PJR completou 30 anos a serviço da Juventude Camponesa, um espaço de ação realizado por nós jovens e para nós jovens, onde cada um pode assumir-se construtor da história, do presente e do futuro que nos pertence e pertence a todos.
Uma possibilidade de cada jovem se tornar ator do seu processo histórico, de serprotagonista, não de uma telenovela, mas sim da vida real. Um espaço onde coletivamente pode-se refletir sobre a vida e vivencia-la, enfrentando junto com outros seus desafios e comungando suas alegrias, sonhos, perspectivas. O Jovem Protagonista é mais uma característica da ação da PJR.
A maioria dos espaços de participação da juventude desconsidera o ser jovem. Uns, ao entrar nele o sujeito deixa de ser jovem, outros os jovens são executores de tarefas e/ou direcionados/tutelados por alguém não jovem ou por um jovem-não-jovem. Vejam se não é assim onde vocês participam. Observem!
Falando do campo que é o espaço em que vivemos e onde queremos dignidade, fomos ao longo de nossa história sempre reafirmando, que este é um espaço de produção e reprodução de vida, de trabalho, de lazer, de cultura, e de uma relação estreita com a natureza, por isso percebemos ser necessário cuidar dele como se cuida de um amigo, de um irmão, e mais, como se cuida de uma mãe. É representando esse cuidado que a chamamos de MÃE-TERRA. Ter o campo como espaço de vida é outra característica da ação da PJR.
Para efetivar concretamente esse cuidado com a MÃE-TERRA, com a natureza como um todo, inclusive com as pessoas que fazem parte dela, afirmamos:
- É preciso realizar uma reforma agrária popular no campo brasileiro, para termos assim uma “Terra Livre Brasil”;
- É preciso cultivar a terra de maneira agroecológica, atuar em cooperação, produzir alimentos e renda;
- Ter acesso a direitos fundamentais como a saúde, Educação Do Campo, informação e comunicação, transporte, e outros mais;
Enfim, é lutar por Terra, Pão e Dignidade.
Também lutamos por isso, por que Jesus Cristo, um jovem camponês de Nazaré usou sua vida a serviço da construção de uma sociedade justa, onde todos pudessem ter vida e tê-la em abundância.
Um jovem que morreu na certeza de ter nos deixado a possibilidade de construirmos um mundo diferente, onde não haja injustiças, onde não haja opressão, onde não haja prisões nem ilusões.
Um jovem que morreu para nos salvar. Salvação que para nós é sinônimo de Libertação. Portanto se você, assim como Jesus, sente indignação contra as diversas formas de injustiças deste mundo e luta para construir um mundo que liberte/salve as pessoas, então somos companheiros. A construção de um mundo justo é mais uma característica da ação da PJR.
Que outras características vocês acham que fazem parte do ser PJR? Pensem e vamos construindo o que de fato nós somos e precisamos ser.
E por fim, depois dessa prosa bonita, gostaríamos de convidar todas as jovens e todos os jovens camponeses do Brasil, para o nosso 3° Congresso Nacional da Juventude Camponesa, que acontecerá nos dias 14 a 19 de Janeiro de 2014 em Recife – Pernambuco, para juntos mostrarmos nossa cara, celebrar nossa caminhada e lutar por Terra, Pão e Dignidade rumo a Terra Livre Brasil.
Deixem tudo e venham para o Nordeste! Esperamos todos vocês!
Coordenação Nacional da PJR