Minha aldeia, minha vida, por Cley Medeiros (2)

Foto: Gabriel Ivan/Mídia NINJA
Foto: Gabriel Ivan/Mídia NINJA

Por Cley Medeiros, enviado especial da Mídia NINJA à Terra Indígena Tenharim

Fernando Tenharim, em frente a sua casa incendiada durante a onda de violência organizada por madeireiros e fazendeiros na Transamazônica (BR 230) no dia 26 de dezembro, próximo a cidade de Humaitá, Sul do Amazonas. Fernando morava no local com sua esposa e três filhos pequenos.

O indígena conta que havia uma cama, alguns colchonetes, um álbum de família, com fotos dos avós e tios; só lhe restou a roupa do corpo. A moto de Fernando também foi incendiada, assim como os brinquedos dos seus filhos. “Eu não acreditei no que estava vendo, corri com meus filhos antes que eles começassem a atirar. Eu vi um deles atirando na minha direção enquanto corria para a floresta,” conta Fernando. E completa: “Eu construí essa casa com meus parentes, e agora ela está assim. Agora é recomeçar tudo outra vez.” 

Numa outra aldeia, perto dali, a história do ataque se repete. Luzianeide e Antonio Tenharim, pais de 9 crianças, revelam que estão tendo muitas dificuldades para continuar tranquilos: “Quando eles chegaram na minha aldeia, eu ouvi o barulho dos carros e eles gritando: ‘Agora vocês [índios] vão ver; vamos acabar com vocês’. Eram muitos homens brancos; também vi crianças e mulheres.”

Antonio continua dizendo: “Eu corri então para minha casa e peguei minhas crianças pequenas nas costas, levei até mais dentro da floresta e voltei para pegar meu filho que não pode andar; eu vi ele se rastejando para ir até mim, coloquei ele nos ombros e fui até onde estavam minha esposa e meus outros filhos.” completa Antonio.

FALTA DE ALIMENTOS

Luzianeide esposa de Antonio Tenharim, está apreensiva quanto à alimentação na aldeia. “Desde quando corremos com medo para o mato, não levamos mantimentos; passamos dois dias escondidos na floresta e, ao voltar à aldeia novamente, vimos que não tinha mais comida. Eles saquearam nossa aldeia.” Afirma Luzianeide.

Índios responsáveis por fazer compra de alimentação na cidade de Humaitá foram impedidos de atravessar a balsa no dia 26. Eles então levaram alguns alimentos para o barco da FUNAI que estava ancorado no porto da cidade. O barco foi incendiado junto com os alimentos. Desde então, os indígenas estão com sérios problemas para se alimentar na região.

Saiba mais sobre os recentes conflitos em Humaitá, AM, em http://bit.ly/humaitaNINJA.

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