Proletários do giz: Entrevista com Alfredo Bosi

Alfredo BosiPor Mônica Manir, no Estadão

Quando mestre de literatura no colegial, nos anos 1960 e 70, Alfredo Bosi oferecia Camões aos alunos. E recebia em troca Gigantes Adamastores empoleirados nas cadeiras, recitando estrofes completas do poeta português. Era sua voz contra a “pedagogia da preguiça”, que dava o mínimo do mínimo à juventude, quando ela estava pronta para o máximo.

Professor há quatro décadas na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, ele continua num traçado pessoal pela qualidade do ensino. Daí sua preocupação com o resultado do último Índice de Desenvolvimento Humano das cidades brasileiras, que aponta a educação como a bigorna a puxar o índice para baixo.

Não é questão de distribuir kits e comprar mais computadores. Nem de sair às ruas pedindo Mais Professores, nos moldes do Mais Médicos. Para ele, falta valorizar econômica, social e culturalmente a profissão que seus alunos da faculdade não querem mais seguir. “O punctum ainda é o desestímulo sofrido pelo professor pelo excesso de trabalho, quase sempre em mais de uma escola, e pela angustiante falta de tempo para preparar as aulas e acompanhar de perto o aproveitamento dos alunos.” Sem retorno, eles preferem trabalhar em empresas, laboratórios ou em pesquisa avançada. Não aceitam ser proletários do giz e da lousa. Ou do pincel atômico e do power point, que seja. (mais…)

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Polícia suspeita que corpo removido da Rocinha em caminhão da Comlurb seja de Amarildo

Foto: Marcos de Paula/AE
Foto: Marcos de Paula/AE

Segundo PM que trabalha em UPP na favela, cadáver foi transportado ilegalmente por motorista de caminhão da Companhia de Limpeza Urbana; soldado será intimado

Por Clarissa Thomé, em O Estado de S. Paulo

RIO – O delegado Rivaldo Barbosa, titular da Divisão de Homicídios, vai intimar um policial militar que tem informações sobre a retirada da Rocinha de um corpo que poderia ser do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, desaparecido desde 14 de julho. O soldado, lotado na Unidade de Polícia Pacificadora local, contou que o tio dele, motorista de caminhão da Companhia de Limpeza Urbana (Comlurb), empresa de limpeza urbana da prefeitura carioca, foi obrigado a transportar o cadáver de um homem.

Segundo o relato, homens armados saíram da mata, renderam o motorista e ordenaram que seguisse direto para o depósito final, no Caju, sem fazer outras paradas. O episódio ocorreu no dia 28 de julho, 14 dias depois da morte do pedreiro.

Neste sábado, 3, o delegado Rivaldo Barbosa fez nova perícia complementar na UPP da Rocinha – a segunda, em dias consecutivos. Barbosa disse que a medida faz parte de uma estratégia de aproximação dos moradores da favela. (mais…)

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UFPB – Núcleo de Estudos e Pesquisas Afrobrasileiros e Indígenas lança Cadernos Afro-Paraibanos (para baixar!)

Caderno1NEABI – A expressão Cadernos, numa era de ferramentas virtuais, soa um pouco escrever artesanalmente à moda dos românticos oitocentistas: ao bico de pena. A par disso, também podem implicar corpus fragmentários de atividades intelectuais que, encadernados, sustentam imaginários científicos, históricos e culturais.

Antonio Gramsci, no cárcere do fascismo italiano, não deixou de escrever suas cartas filosóficas e políticas que, mais tarde, teriam grande aceitação entre os intelectuais das esquerdas como reflexões de renovação da própria tradição marxista e da “cultura revolucionária” com o título de Cadernos do Cárcere.

Borradores filosóficos, notas esparsas ou cadernos literários parecem não ser muito considerados na nossa cultura escolar quando são produzidos por escritores e escritoras negras nesse Brasil contemporâneo com forte atualização culturalista das mestiçagens, hibridizações e crioulizações.

Lembramos, também, dos Cadernos Negros, produzidos ao longo de trinta e cinco anos (1978-2013) que pensaram uma história do Brasil vista pela ótica da matriz cultural africana e de uma escrita negra marcadamente poética. (mais…)

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“Eles estão em perigo”: Globo dedica destaque de capa e quatro páginas do 1° caderno aos Awá, com fotos de Sebastião Salgado!

globo awáTania Pacheco – Combate Racismo Ambiental

“Se o cachorro mordeu o menino, não aconteceu nada. Se o menino mordeu o cachorro, agora é notícia”. Essa é das piadas mais caquéticas dos cursos de jornalismo deste País. Pois não é que lembrei exatamente dela, ao olhar a primeira página de O Globo de hoje, com uma grande foto, acrescida de um título em destaque – Paraíso Sitiado: Eles estão em perigo – e uma chamada longa e explicativa para quatro páginas inteiras dedicadas aos Awá? Mais: a chamada nos informa que esta é a primeira matéria de “uma história que começa a ser contada hoje”. Ou seja: teremos mais?!

Vou conferir e, de fato, pelo menos hoje é verdade: da página 12 à 15, lá estão belíssimas fotos de Sebastião Salgado (mais essa!) e ótimo texto de Míriam Leitão. Um novo título – A luta dos ‘índios invisíveis’ – nos conduz a uma excelente reportagem, falando de ‘desintrusão’ (a começar neste mês de agosto), mostrando a vida dos Awá e denunciando os crimes dos madeireiros, que abrem espaço para as plantações de maconha.

Míriam Leitão passou lá uma semana; Sebastião Salgado (que custeou sua viagem) permaneceria por mais duas, se embrenhando na mata com os indígenas. Para amanhã, a continuação prometida terá por título Paraíso Sitiado: Madeireiros emboscam forças federais. Considerando esta primeira matéria, mas vale.

Fora isso, não sei por quanto tempo (hoje cedo não estava acessível, mas a partir do final da manhã tornou-se), mas agora é possível ter acesso à matéria online clicando AQUI.

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