A Rádio Vaticano provavelmente nunca tocou “A Carta” de Waldick Soriano, que figurava nas paradas de sucesso da Rádio Baré, em Manaus, nos anos 1960. Naquele tempo disse o rei do bolero aos seus discípulos: “irmãos, sigam-me aqueles que dentre vós sofrem com dor de corno”. Embora desconhecida por cardeais, essa epístola cantada, nada canônica, repleta de queixumes e gemidos de amor, foi a inspiradora da missiva abaixo, que nunca será lida pelo seu destinatário.
Escrevo esta carta, mas não repare os senões, para dizer o que sinto com o desempenho de Vossa Santidade na Jornada Mundial da Juventude. Sinto-me estimulado por V.S. que em entrevista dentro do avião, na viagem de volta para a Itália, declarou:
– Eu gosto quando alguém me diz: ‘eu não estou de acordo’. Esse sim é um verdadeiro colaborador.
Conte comigo, Sumo Pontífice. Este vosso humilde servo quer colaborar, até porque tem sérias restrições a essa visita ao Brasil tão paparicada e incensada pelo turíbulo da mídia que trombeteou o tempo todo: “Ah, que belo”. Lembro aqui as palavras de V.S.: “Aqueles que dizem ‘Ah, que belo, que belo’ e depois dizem o contrário por trás, isso não ajuda”.
Desejoso de ajudar V.S., manifestei desacordo público no Taquiprati. Minha voz dissonante foi incompreendida e censurada por amigos, alunos, familiares, não escapou nem meu dileto sobrinho, conhecido como Pão Molhado, que não ouviu o Papa dizer aos jovens em Copacabana: “Não sejam covardes, metam-se, saiam para a vida. Saiam às ruas como fez Jesus”. Meu sobrinho, hoje poderoso analista do Seguro Social na Agência da Previdência Social de Maués (AM), foi mais papista do que o papa: (mais…)