“Agradecer”: Mensagem de Raphael Silva Nascimento, das manifestações em SP, via facebook

“Vou aproveitar que ainda tô tremendo, tossindo e angustiado pra fazer algo importante pra mim: AGRADECER.

Eu quero agradecer por ver a choque chegando por trás de mim, parar na minha frente a menos de 1 metro de distância e começar do nada a disparar no meio de uma multidão que nada fazia a não ser caminhar, dançar e cantar.

Eu quero agradecer o moleque que tinha sua mochila revistada na hora que passei pelo cordão policial e me salvou de ser encontrado com uma letal garrafinha com vinagre.

Eu quero agradecer a cada uma das nove bombas que foram lançadas perto de mim, em momentos que estávamos parados, conversando, tentando fugir da polícia, da Rocan, da Choque, da cavalaria. E quero agradecer também em nome de todos os transeuntes que nada tinham a ver mas estavam chorando, passando mal e se desesperando com os tiros e as bombas.

Eu quero agradecer aos policiais que riam, xingavam, incitavam e depois partiam pra truculência. Vou agradecer também em nome do senhor com uma go-pro no capacete da bicicleta que foi encurralado por eles porque estava provavelmente badernando, com certeza ele também tá bastante agradecido.

Eu quero agradecer o esforço conjunto da polícia militar de São Paulo, que se mostrou organizada, preparadíssima para a Copa, aterrorizando, dispersando, perseguindo e encurralando quem quer que estivesse na rua, seja lá o que estavam fazendo. Pô, show de bola o trabalho de vocês. Valeu Alckmin!

Quero agradecer pelas crianças que eu não vi mais quando a confusão começou, pelos velhinhos no metrô de bengala correndo de gás, pela galera dentro do ônibus que ganhou uma bomba janela adentro. menos os skatistas, esses baderneiros, que fugiam de skate augusta abaixo enquanto a gente tinha só que correr mesmo. Chame de recalque, mas é foda.

Quero agradecer por ter visto com meus próprios olhos, por estar tão perto de tudo.

Quero agradecer por SENTIR o que estou sentindo. que tá ruim, mas tá bom, mas parece que piorou.

Mas principalmente, quero agradecer porque não sinto mais nenhum medo.”

Enviada por Ruben Siqueira para Combate Racismo Ambiental.

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