Fotógrafo registra filhos albinos de uma família negra que vivem fugindo da luz

por Jaque Barbosa – Hypeness

“Nasceram sem cor, numa família de pretos. Três irmãos que sobrevivem fugindo da luz, procurando alegria no escuro. O mais novo diz que é branco vira-lata. Os insultos do colégio viraram identidade. A mãe cochicha que são anjinhos. Eles têm raça sim. São filhos de mãe negra. O pai é moreno. Estiraram língua para as estatísticas e, por um defeito genético, nasceram albinos. Negros de pele branca. A chance dos três nascerem assim na mesma família era de uma em um milhão. Nasceram. Dos cinco irmãos, apenas a mais nova é filha de outro pai.

Essa é a história do contrário. Os dedos cruzados são sempre para chover. É o convite para o banho de mar na Praia Del Chifre, em Olinda. Rezam para espantar o domingo de sol. Só assim, com o céu pintado de preto, são crianças. Kauan, 5 anos, Ruth Caroline, 10, e Esthefany Caroline, 8, têm a liberdade controlada pelo fator do protetor solar. Não é só isso. São pobres e feridos. Não há dinheiro para parcelar a proteção. O PhotoDerm 100 é o maior sonho dos “galeguinhos” da V-9, favela de Olinda. Custa R$ 96 e só dura três semanas. O jeito é se esconder em casa mesmo. Televisão grudada no rosto. Vez por outra, Kauan, num estouro de criança, desafia o maior inimigo. Fecha os olhos e corre feito louco no meio da rua. Grita para o sol e escuta outro grito maior lá de dentro. É a mãe, Rosemere Fernandes de Andrade, 27, tentando evitar mais uma noite de ardor e ventilador ligado no máximo.” É assim que o jornalista João Valadares descreve a realidade tocante dessa família nordestina brasileira.

Até um fato simples como ir para a escola, que fica à 200 metros de casa, é um martírio para eles. É preciso colocar roupas que cubram a maior parte da pele sensível sem melanina.

A visão deles também é prejudicada pelo albinismo. Difícil é manter os óculos intactos, porque, tendo que manter os olhos fechados por causa do Sol, as quedas são frequentes, e eles já têm coleção de óculos quebrados. Sem os óculos, o aprendizado é comprometido.

Segundo o Jornal do Commercio, 0 professor do Departamento de Genética da Universidade Federal de Pernambuco Valdir Balbino explica que “os dois são heterozigotos, possuem pares de genes que apresentam um gene diferente do outro. O pai e a mãe têm um gene dominante e outro recessivo. Cada filho herda metade de carga genética do pai e a outra metade da mãe. Com dois pais heterozigotos, a chance de cada filho ser albino é de 25%.” Há outra conta. A chance de os pais das crianças, entre os quatro primeiros filhos, terem produzidos três deles albinos era de 1,5%. O gene recessivo, que apresenta o defeito, ocasiona um problema na enzima tirosinase, responsável pela síntese de produção de melanina, pigmento responsável pela coloração e proteção de olhos, cabelos e pele. Pelo caso apresentado, se os pais são negros, os meninos são tão negros quanto eles. Etnicamente e geneticamente. Só não produzem melanina.”

Para ilustrar essa história incrível, o fotógrafo pernambucano Alexandre Severo acompanhou a realidade dos meninos de Olinda durante três dias, e as fotos publicadas no  Jornal do Commercio e aqui replicadas, tocaram as pessoas que logo se movimentaram para organizar uma forma de ajudar os irmãos.

Enviada por Vanessa Rodrigues para Combate Racismo Ambiental.

Comments (4)

  1. estou indo fazer um giro no brasil e olinda esta no meu roteiro…procurando noticias,historias sobre o brasil acabei encontrando a historia dessa linda familia. gostaria de saber o endereço pra poder levar algumas coisas dar uma ajuda….ja foi enrola por bem 2 vezes com gente que pede ajuda pra aajudar as familia carentes e na verdade nao era verdade….nesse casio como estou indo conhecer essa cidade posso ajudar diretambem….agredeço muito quem poder me passar o endereço.

  2. Essa caso lembra muito o dos quilombolas da comunidade de Filus em Alagoas (http://www.conflitoambiental.icict.fiocruz.br/index.php?pag=ficha&cod=144), outro grupo de crianças e adultos negros albinos que enfrentam dificuldades para sobreviver (ainda maiores devido ao isolamento geográfico e social). Seria interessante se a mobilização conseguida com o caso de Olinda pudesse ir além desse caso específico e conseguisse sensibilizar a sociedade e o Estado para as dificuldades de outras famílias pobres portadoras dessa condição genética.

  3. Precisamos criar uma rede de ajuda a essa família. e SUS dar assistencia médica e remédio, protetor solar gratuíto,pois são de uso contínuo…
    Vamos ajudar

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.