Patrões de esquerda, padrões de direita

Os patrões ditos de esquerda não só arregimentam trabalhadores como conseguem frear parte da inevitável revolta diante das más condições materiais para o exercício da profissão

Por Julio Delmanto

Tenho 27 anos, e em 2013 completam-se cinco anos da conclusão do meu curso de jornalismo. De lá para cá, e também durante meus estágios ainda como estudante, procurei sempre que possível trabalhar em locais que me propiciassem se não exercer minhas convicções de outro mundo melhor, possível e urgente, ao menos não ofendê-las. Para além dos trabalhos em regime freelancer [1], já trabalhei para ONGs, movimentos sociais, um grande portal de Internet e empresas que se colocam no mercado como de esquerda, visando evidentemente um público também com esta visão de mundo. Olhando retrospectivamente, em nenhum destes empregos eu fui explorado e desrespeitado, tão “fudido e mal pago”, como neste último tipo.

Assim, não me surpreendeu em nada a atitude tomada nesta segunda-feira, 11 de março, pelo dono da revista Caros Amigos, Wagner Nabuco, de demitir sumariamente toda a redação da publicação por ter ousado fazer uma greve em busca de condições de trabalho minimamente dignas [2]. Não só porque já trabalhei lá e conheço o caráter (ou a falta de) da direção da revista, que segundo relatos no Facebook chegou a demitir uma funcionária durante sua licença maternidade, e as condições que os funcionários têm que enfrentar por ali, como os péssimos salários (invariavelmente atrasados ainda por cima) e a completa ausência de registro em carteira, benefícios e outros direitos. (mais…)

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Baía de Guanabara: Produtiva, apesar da poluição

Águas da Guanabara ainda sustentam muita gente - Custodio Coimbra

Baía de Guanabara ainda é o mais importante local de pesca do estado do Rio de Janeiro, embora receba diariamente grande quantidade de esgoto

Cláudio Motta

RIO – Você comeria um peixe da Baía de Guanabara? Acrescente a sua resposta o dado a seguir: um dos cartões-postais do Rio de Janeiro recebe diariamente toda sorte de poluentes, inclusive 70% do esgoto doméstico de 8,3 milhões de pessoas que vivem na Região Metropolitana. São aproximadamente 12 mil litros por segundo de efluentes in natura. Quem passa pelo Canal do Cunha, por exemplo, pode observar de longe — e sentir o cheiro — a degradação. Há até quem faça ironia e diga que fritar um pescado da baía é mais barato porque já vem com óleo. Apesar de tanta poluição, as águas da Guanabara têm a maior produção de pescado do estado, com 3.891 toneladas. (mais…)

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Parlamentares vão apresentar proposta de novo zoneamento da cana-de-açúcar

Carolina Gonçalves* – Agência Brasil

Brasília – Nas próximas semanas, parlamentares da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural do Congresso Nacional vão apresentar proposta para novo zoneamento da cana-de-açúcar no país. As atuais regras restringem a expansão do plantio de cana nos biomas Amazônia e Pantanal e na Bacia Hidrográfica do Alto Paraguai.  As normas estão previstas no Projeto de Lei (PL) 6.077 de 2009 e no Decreto 6.961 de 2008

Para alguns deputados e senadores ligados ao setor, os produtores de cana precisam de mais áreas de cultivo. Representantes da Subcomissão Especial para Avaliação do Zoneamento Agroecológico da Cana-de-Açúcar alegam que a produção no país não é suficiente para atender ao mercado de biocombustíveis e o país está lançando mão da importação em decorrência da carência de investimentos e redução da oferta no mercado nacional.

Ontem (12), 13 parlamentares tentaram, mais uma vez, flexibilizar a posição do governo, mas, durante uma reunião no final da manhã, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, reforçou que o Executivo mantém o entendimento de quatro anos atrás. “O governo enviou o projeto de lei em 2009 para tratar o assunto. Na época, o setor produtivo avaliou que aquela era a área necessária para a expansão da cana, com a ressalva de não produzir na Amazônia, provocando novos desmatamentos, nem gerar degradação ambiental na Bacia do Alto Paraguai ou no Pantanal”, disse a ministra. (mais…)

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As mortes do índio Guarani-Kaiowá e do torcedor boliviano

Por Celi Camargo*

A morte prematura de dois adolescentes deixou um fevereiro cinza nas vidas das famílias Quevedo Barbosa e Beltran Espada. Denilson Quevedo Barbosa, de 15 anos, foi brutalmente assassinado com tiros na cabeça no dia 16 de fevereiro. Quatro dias depois, Kevin Douglas Beltran Espada, de 14 anos, foi morto após ser alvejado por um sinalizador. Dos dois casos, com certeza o de Kevin é do conhecimento da grande maioria dos brasileiros. Já do de Denilson não se pode dizer o mesmo, embora ele tenha sido morto em território brasileiro e em circunstâncias estarrecedoras.

Denilson Quevedo Barbosa era um jovem índio da tribo Guarani-Kaiowá localizada na reserva de Caarapó, no Mato Grosso do Sul. No dia 16 de fevereiro, ao sair para pescar com um colega e um irmão mais novo, ele foi surpreendido à bala quando o trio passava pela fazenda Sardinha, situada dentro da reserva. O jovem índio não teve a mesma sorte do irmão e do colega. Preso ao arame farpado de uma cerca, ele tornou-se alvo fácil. As informações dão conta de que o jovem foi torturado e depois morto com um tiro na cabeça. O corpo foi jogado na fazenda próxima e largado ao relento.

Kevin Douglas era um jovem boliviano, morador de Cochabamba. No dia 20 de fevereiro, ele viajou com familiares para assistir em Oruro, na Bolívia, à partida do time do coração, San José, contra o campeão do mundo, Corinthians, pela Libertadores da América. Para tristeza dos torcedores bolivianos, o Corinthians abriu o placar logo no início do primeiro tempo. E para aumentar ainda mais esta tristeza, um sinalizador, disparado durante a comemoração da torcida corintiana, atingiu, em cheio, o olho esquerdo de Kevin. O acidente foi fatal e a comoção tomou conta da América do Sul. (mais…)

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Os arquivos e os segredos da ditadura

Por José Cleves*

Muito boa a reportagem da Folha de S.Paulo sobre os arquivos da ditadura retidos pelo governo. Mandou bem o jornal ao tentar revelar os segredos dos milicos, parte deles ainda enterrados em cova rasa. Aliás, o acordo feito pelos militares com os civis para entregar o poder, em 1985, incluía exatamente a guarda, por um período não definido (ad eternum, imagino), dos arquivos da repressão com os carimbos ultra-secreto, secreto, sigilosos, reservado e confidencial. Documentos que tivessem um destes carimbos deveriam ser mantidos fora do alcance da imprensa para que o segredo do sistema não fosse revelado.

Não foi à toa que os milicos impuseram a eleição indireta do primeiro presidente civil. Eles queriam ganhar tempo. Se a emenda das Diretas Já, de Dante de Oliveira, tivesse passado no Congresso, os generais de linha dura não entregariam o poder sem disparo de armas. Tancredo Neves e Ulysses Guimarães sabiam disso, mas estavam convictos de que o processo de transição já havia sido acertado com a tropa do general Ernesto Geisel, que governou o país (1974-1979) e iniciou o processo de abertura política. O presidente João Baptista de Figueiredo (1980-1984), portanto, teria que entregar a faixa na marra, é o que pensavam.

Eu não tinha certeza absoluta disso. Vivi intensamente esse período em Brasília, a partir de depoimentos segredados de homens que faziam parte da comunidade mantida pelo Serviço Nacional de Informação (SNI), então chefiado pelo general Otávio de Aguiar Medeiros, que pretendia ser o candidato dos milicos na eleição indireta. Ou seja, o plano dos generais previa que as cinco divisas do Exército continuariam no poder por mais um mandato. O suficiente para destruírem todos os arquivos e redigirem uma nova Constituição ao modo deles (se é que haveria outra Constituição, talvez continuássemos com a mesma, modificada para pior). (mais…)

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Ditador argentino Reynaldo Bignone é condenado à prisão perpétua

Da Redação*

A Justiça argentina condenou nesta terça-feira (12) Reynaldo Bignone, o último presidente da ditadura militar do país, à prisão perpétua por crimes cometidos contra 23 pessoas no centro de detenção clandestino de Campo de Maio. Dentre as vítimas estariam sete mulheres grávidas que tiveram seus filhos enquanto presas e continuam desaparecidas. Bignone esteve no poder entre os anos de 1982 e 1983.

No julgamento, realizado pelo tribunal federal de San Martín, também receberam a pena máxima o ex-comandante Santiago Omar Riveros e os ex-repressores Luis Sadi Pepa, Eduardo Oscar Corrado e Carlos Tomás Macedra. Foram condenados ainda Carlos del Señor Garzón e María Francisca Morill, a 15 e 12 anos de reclusão, respectivavemente; Carlos José Somoza, a 25 anos; e Hugo Castagno Monge e Julio San Román, a 20 anos. (mais…)

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Guarani-Kaiowás vão a Brasília pressionar por demarcação e segurança

Os indígenas cobrarão a demarcação territorial estabelecida no Termo de Ajustamento de Conduta, cujos prazos expiraram em 2012 | Foto: Marcello Casal Jr. / ABr

Da Redação*

Uma delegação de sete lideranças indígenas Guarani-Kaiowá do Mato Grosso do Sul chegou em Brasília nesta terça-feira (12). Eles pretendem exigir do governo a demarcação de terras e a execução emergencial de um programa de segurança para as áreas em conflito. (mais…)

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MA – Acampamento Negro Flaviano, entre 12 e 15 de março

O Acampamento Negro Flaviano é uma atividade permanente do movimento quilombola do Maranhão – MOQUIBOM, que luta em defesa da garantia e titulação dos territórios tradicionalmente ocupados por centenas de comunidades quilombolas espalhadas no Estado do Maranhão.

Diante da morosidade do Estado Brasileiro em efetivar o dispositivo constitucional ADCT 68, que determina a titulação das terras remanescentes de quilombos, e da violência praticada contra estas comunidades, vimos mais uma vez exigir o cumprimento de acordo celebrado pelo presidente nacional do INCRA, bem como pelo superintendente regional desta mesma instituição no ano 2011.

A atividade está programada inicialmente para acontecer entre os dias 12 e 15 de marco de 2013, na capital do estado do Maranhão, e participarão 350 pessoas de diversas comunidades quilombolas do Maranhão.

A Coordenação

Enviada por João Da Cruz.

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MPF é contrário ao retorno de fazendeiros para colheita da soja dentro da terra indígena Marãiwatsédé

Fazendeiros alegam surto de ferrugem asiática. Para o MPF, Ministério da Agricultura e Funai são responsáveis pela contenção da ferrugem asiática nas lavouras

Fazendeiros que ocupavam a Terra Indígena Marãiwatséde têm recorrido à Justiça Federal pedindo autorização para retornar à área para aplicar defensivos agrícolas e colher a safra de soja. Em todos os pedidos, o Ministério Público Federal tem se manifestado contrário ao retorno dos produtores e responsabilizou a União pela gestão das lavouras.

A procuradora Vanessa Ribeiro Scarmagnani, que se manifestou diante do pedido de um dos fazendeiros que pleiteiam o retorno à area para a colheita da soja, afirmou que a partir do momento que foi reconhecida a ilicitude da posse e a má-fé daqueles que ocupavam a terra indígena, cessou qualquer direito dos não-indígenas sobre a área ocupada.

Os produtores alegam a contaminação da lavoura pela ferrugem asiática. Diante desse argumento, a procuradora afirmou que compete à União, por meio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e à Fundação Nacional do Índio (Funai) adotarem providências para a aplicação de defensivos agrícolas para prevenir o surto de ferrugem asiática. “Inexiste direito à aplicação de defensivos agrícolas ou de colheita da safra cultivada, uma vez que, com a desintrusão da terra indígena, as ações para conservação dos bens devem ser levadas a efeito pela depositária (Funai) e pela proprietária da área (União)”. A Justiça Federal tem indeferido os pedidos dos fazendeiros. (mais…)

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A duplicação das vias do Pantanal e Carvoeira

Elaine Tavares

O jornalismo catarinense televisivo peca pela indigência. Assisti ontem as notícias sobre a reunião do prefeito César Junior e a reitora da UFSC, Roselane Neckel, acerca da velha pauta da duplicação das ruas que dão acesso à UFSC pelo Pantanal e pela Carvoeira. Como sempre, a informação é totalmente desconectada da história. Não há contexto, não há recuperação do tema desde suas origens. O tom das reportagens passa a impressão de que a UFSC se nega a doar parte do terreno e, portanto, é contra o progresso da região e contra as pessoas que vivem em engarrafamentos gigantes.

Ora, a questão da duplicação das ruas de acesso à UFSC é um tema velho e muitos debates já foram feitos sobre isso. Estudos de todo o tipo já foram apresentados e a maioria deles mostra que duplicar as referidas ruas não resolve o problema. Quem circula pelas vias todos os dias sabe que, nos horários de pico, um via de cada ponto (Pantanal e Carvoeira) ficam entupidas. Se duplicarem e inverterem as mãos, duas vêm e duas vão, o resultado é zero a zero. De manhã serão duas vias entupidas e de tarde as outras duas. É uma coisa tão óbvia.      (mais…)

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