SP – “Nunca estou preparada”, diz coordenadora da Frente de Luta por Moradia que já passou por 11 reintegrações de posse

Maria do Planalto, coordenadora da Frente Nacional de Luta por moradia, que ocupou o antigo Lord Palace Hotel, no centro de São Paulo, diz não estar no local por causa do luxo, mas sim para reivindicar habitações aos sem-teto Mais Fernando Donasci/UOL

Larissa Leiros Baroni, do UOL, em São Paulo

Maria do Planalto, coordenadora da FLM (Frente Nacional de Luta por moradia), passou por outras 11 reintegrações de posse, mas diz não estar preparada para receber a determinação da Justiça para que os sem-teto desocupem o prédio do antigo Lord Place Hotel, no centro de São Paulo, ocupado há pouco mais de um mês. “Nunca estou preparada”, diz.

“Se eu pudesse escolher entre ganhar um bom prêmio para mudar a vida de todo o sem-teto e não comunicar a família sobre a reintegração, eu optaria por não dar a notícia”, afirma Maria, que mesmo tendo conquistado a sua casa própria há dez anos, após trabalhar sete anos em regime de gestão e autogestão do movimento. Ela continua na “luta” como forma de “gratidão” aos sem-teto que a auxiliaram atingir seu sonho.

A desocupação do prédio que estava marcada inicialmente para o dia 12 de dezembro foi prorrogada para do dia 8 de janeiro de 2012. Portanto, o Natal e o Ano Novo para as 300 famílias — entre elas 168 crianças e 38 grávidas– que se tornaram hóspedes do luxuoso hotel da década de 1970 estão garantidos. “A Folia de Reis, no entanto, vai ser na rua se o nosso próximo prefeito não tomar providência”, completa a coordenadora.

Uma reunião com representantes da Polícia Militar e da Prefeitura de São Paulo, atual dona do edifício, que foi desapropriado há dois anos, está agendada para o dia 7 de janeiro. E se não houver nenhum acordo, será Maria do Planalto que terá de informar às famílias da desocupação. “Este é o momento mais difícil. Ao comunicar a notícia, vejo no olhar de cada um dos sem-teto o olhar de desespero. Isso porque a partir do momento que a ‘sentença de morte’ é lançada, é hora de ir para a rua e toda a segurança que existe aqui acaba”, conta ela.

O maior medo da auxiliar de limpeza Carolina Santos Silva, 25, que está grávida de sete meses, é com a segurança de seus três filhos. “Nunca dá para prever qual será a reação dos policiais, nem mesmo qual foi a orientação que tiveram para agir mediante a reintegração”, conta ela, que já enfrentou cinco desocupações, nenhuma delas violenta, mas todas traumáticas.

Para a iniciante no movimento, a doméstica Tamires dos Santos, 25, o medo está no desconhecido e na imagem “violenta” das reintegrações de posse transmitidas pela televisão. Ainda assim o maior receio está na falta de lugar para onde ir caso tenha que deixar o antigo hotel. “Como vou dormir na rua com três crianças pequenas, debaixo de chuva?”, questiona, com os olhos cheios de lágrimas.

“Mesmo que a gente saia pacificamente, como geralmente a gente, o trauma da reintegração marcará cada uma das 168 crianças. Até hoje sou traumatizada. Quando eu vejo a polícia aquele frio na barriga sempre volta”, conta Maria do Planalto, que aponta a rua como destino da maioria das famílias que atualmente moram no antigo hotel de luxo do centro de São Paulo.

Em nota, a Secretaria Municipal de Habitação informou que já entrou na Justiça “alegando esbulho possessório por parte dos invasores do imóvel e acatará a decisão judicial”. A esperança do movimento, no entanto, está no próximo governo, que tomará posse no próximo dia 1º de janeiro de 2013.

A assessoria de imprensa do prefeito eleito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), disse que o petista irá priorizar a questão da habitação na capital paulista, que, segundo ele, foi “banalizada” nos últimos oito anos.

O candidato, segundo a equipe, também se compromete a cumprir o que está descrito em seu plano de governo, que é construir 55 mil moradias em quatros anos e ainda beneficiar 70 mil famílias com um programa de urbanização de favelas.

Haddad anunciou na semana passada o empresário José Floriano de Azevedo Marques Neto como seu secretário de Habitação. O futuro secretário, que atua na área de habitação popular, não é filiado a nenhum partido, mas indicado pelo ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro (PP).

Enviada por José Carlos para Combate ao Racismo Ambiental. http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2012/12/15/nunca-estou-preparada-diz-coordenadora-da-frente-de-luta-por-moradia-que-ja-passou-por-11-reintegracoes-de-posse.htm

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