Por Felipe Milanez, Da Carta Capital
Nas últimas semanas, as ameaças de morte contra Laisa Santos Sampaio se intensificaram no interior do Pará. Laisa é irmã de Maria do Espírito Santo da Silva, extrativista assassinada junto de seu marido, José Cláudio Ribeiro da Silva, por dois pistoleiros em uma emboscada quando deixavam o assentamento Praia Alta Piranheira, em Nova Ipixuna (PA), em maio de 2011.
Menos de um ano depois do crime, Laisa continua a viver no assentamento onde os dois foram mortos, e declara receber ameaças da mesma família que encomendou e executou o assassinato do casal. Os familiares continuam residindo no lote que era reivindicado por José Rodrigues, apontado como mandante do crime, e que foi objeto das denuncias de grilagem de terra pelo casal de ambientalistas.
O último “recado” ocorreu na sexta-feira 30 de março, com dois tiros no inicio da noite. Um, vindo da casa de Zé Cláudio e Maria (em frente à casa de Laisa), outro, na porta da sua casa. Mas as ameaças tem sido constantes, através de recados e intimidações: mensagens para os filhos, aviso para amigos, tiros no cachorro.
Zé Cláudio e Maria, quando sofreram a emboscada, não tinham nenhum tipo de proteção, apesar de denunciarem crimes que estavam ocorrendo no assentamento e sofrerem ameaças constantes. A omissão do Estado pode provocar, nesse caso, mais uma vítima. Tanto da União, que através do Incra, órgão responsável pelo assentamento, não investiga denuncias de grilagens e aceita a posse ilegal das pessoas que são acusadas dos assassinato do casal. Como a área não foi titulada e pertence à União, é também competência da Polícia Federal investigar os conflitos. Quanto estadual, que não confere proteção policial solicitada pela vítima. Pelo estado do Pará, foi oferecida à Laisa o tipo de proteção a “testemunha”, pela qual ela deveria mudar de cidade com a família. Nem na esfera estadual, nem federal, as ameaças resultaram em punição aos ameaçadores.
“Está muito difícil a nossa situação. A pressão e as ameaças estão muito grande, toda a hora, estamos com muito medo”, disse, por telefone José Maria Gomes Sampaio, o “Zé Rondon”, marido de Laisa. “Parece que as pessoas aqui tem medo da gente, olham como se algo vai acontecer em breve”, diz. “Eu tô com muito medo.” Após o atentado na sexta-feira, Laisa ligou para a delegacia civil de Marabá para prestar depoimento. Laisa retornou para a delegacia na segunda-feira 2, e agora diz estar sem segurança para sair do assentamento onde vive: “o perigo aqui é o caminho, a estrada, o deslocamento, onde pode ocorrer uma emboscada”, disse.
Na terça-feira 3, José Batista Afonso, advogado da Comissão Pastoral da Terra (CPT), foi até Brasília cobrar do governo uma reposta às seguidas promessas de conferir segurança à Laisa. Ele teve um encontro com coordenadora nacional de defensores de direitos humanos – responsável por proteger pessoas ameaçadas de morte. No dia 7 de fevereiro Laisa foi recebida por Gilberto Carvalho, ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República. A reunião foi gravada e, em video disponível na internet, ele fala em “tomar uma atitude” para resolver o caso de Laisa:
No dia seguinte à reunião com o ministro, Laisa foi para a ONU, em Nova York, onde recebeu o prêmio especial Heróis da Floresta, em homenagem a sua irmã e seu cunhado, assassinados no ano definido pela ONU como “Ano Internacional das Florestas”. Em Nova York, Laisa denunciou a situação em que vive, de tensão e ameaças.
Sobre o último atentado, ao delegado a filha de Laisa disse: “que há aproximadamente um mês, uma colega no colégio, filha de uma agente de saúde comentou que era perigoso a mãe da declarante andar pelo local de motocicleta, assim como também residir no local, e ao perguntar porque teria feito tal afirmação, a coleguinha do colégio não soube responder”. Laisa é professora na escola municipal de primeiro grau, e diz receber, dos filhos de outros assentados, “recados”. Entre seus alunos, está a sobrinha do acusado de ter encomendado a morte do casal: José Rodrigues.
Ao delegado Victor Leal foi também contado o contexto em que se dá as ameaças. O detalhamento se faz importante pois a policia civil do Pará dizia nunca ter sido informada das ameaças contra o casal Zé Cláudio e Maria – que constavam na lista de ameaçados de morte da CPT, seja ele, seja ela, desde 2001.
http://www.mst.org.br/Familiares-do-casal-de-extrativistas-assassinado-recebem-intimidacoes-no-Para