Daniel Zamudio tinha 24 anos e foi brutalmente agredido durante seis horas. O crime bárbaro, que terminou causando sua morte, foi motivado pelo fato de que o jovem era homossexual
Foram 24 dias lutando contra as consequências de seis horas de torturas sofridas durante um ataque de um grupo neonazista. Na noite desta terça-feira (27/03), o corpo do estudante chileno Daniel Zamudio, que tinha 24 anos, não conseguiu mais resistir. O crime bárbaro, que terminou causando sua morte, foi motivado pelo fato de que o jovem era homossexual.
Na madrugada do dia 3 de março, quando se encontrava nas imediações do Parque San Borja, no centro de Santiago, Zamudio foi cercado por quatro pessoas que o agrediram com socos, chutes e pedradas. Foram cerca de seis horas de tortura, que terminou com parte dos agressores cortando parte de uma orelha, queimando pontas de cigarro e fazendo diversos cortes com um pedaço de vidro, formando duas suásticas, uma pequena sobre o abdômen e outra grande nas costas.
O corpo do estudante foi encontrado na manhã daquele dia, no estacionamento de um supermercado próximo ao parque. Permaneceu desde então em estado de coma induzido, até que, no dia 19 de março, uma parada cardiorrespiratória complicou gravemente o seu estado. Dois dias depois, foi detectada uma isquemia cerebral.
Os agressores de Zamudio foram capturados no sábado seguinte ao do ataque. São eles Patrício Ahumada (26 anos), Raul López (25), Alejandro Angulo (25) e Fabián Mora (20). Os três primeiros já tinham antecedentes por crimes de agressões a homossexuais e imigrantes. Os quatro estão em prisão preventiva, aguardando o julgamento por homicídio frustrado, cuja figura jurídica, agora, deve ser alterada para homicídio doloso – a pena máxima, que seria de 10 anos de prisão na situação anterior, passa a ser de 40 anos, a partir de agora.
Na noite de sábado (24/03), a família de Zamudio anunciou, em comunicado lido por seu advogado, Jaime Silva, que o estudante havia “entrado em um estado vegetativo que era irreversível”. Nas duas noites seguintes, dezenas de pessoas realizaram uma vigília com velas, em frente ao Pronto Socorro Central de Santiago, onde o jovem estava internado.
Lei Zamudio
As duas vigílias foram organizadas pelo Movilh (Movimento de integração e Liberação Homossexual), principal entidade chilena em defesa da causa LGBT. Seu presidente, Rolando Jiménez, afirmou que este e outros atentados contra homossexuais, muitos dos quais seguidos de mortes, tornaram mais evidente a necessidade de se retomar a discussão do projeto da Lei Antidiscriminatória. “Já não basta somente a lei, ela precisará estar acompanhada de medidas complementares, que protejam o direito à diversidade e que tenham caráter preventivo”, agregou Jiménez.
O Caso Zamudio despertou a mais nova tentativa de se legislar sobre o tema. O governo do presidente Sebastián Piñera, através do porta-voz Andrés Chadwick, anunciou que vai apoiar novamente a lei, apesar de que tem sido o partido UDI, o mais conservador do país e o de maior representação dentro da coalisão governista, o responsável por todas as derrotas anteriores. Chadwick também revelou que se estuda uma petição do Movilh, para que a lei, se aprovada e implementada, venha a se chamar Lei Zamudio.
A Lei Antidiscriminatória, que pretende punir qualquer ação de exclusão, rechaço ou restrição motivada por diferenças étnicas, sexuais e socioeconômicas, entre outras, foi elaborada em 2005, durante o governo de Ricardo Lagos Escobar, com o apoio e a colaboração do Movilh, e desde então tem colecionado diversas derrotas em votações no Congresso Nacional chileno, apesar de contar com o apoio de todos os presidentes que governaram o país desde que ela foi criada.
Ainda assim, Jiménez diz que o principal problema agora são os artigos incluídos no projeto através dos anos, que o Movilh considera que poderiam tornar a lei inócua. Segundo ele, alguns desses novos artigos já estariam cometendo discriminação no próprio texto da lei, e chama a atenção para um artigo em especial, que defenderia que a lei não pode amparar crimes de pedofilia ou abusos sexuais: “nós como movimento estamos contra esses crimes, sejam eles cometidos por homossexuais e heterossexuais, mas o texto desse artigo atribui a nós esse tipo de conduta, e nos parece uma falta de respeito”.
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