Lições de Fukushima, um ano depois

No dia seis de março, a organização Greenpeace apresentou, na Espanha, um relatório sobre as lições de Fukushima, onde defende que o terremoto e o tsunami não foram as causas principais do acidente nuclear da planta de Fukushima Daiichi, na costa leste do Japão, há um ano. O documento enfatiza as responsabilidades políticas e técnicas do governo japonês e da empresa responsável pela usina, um assunto que vem se mantendo em segundo plano nos meios de comunicação ocidentais.

Por Greenpeace – Eurasianhub. / Tradução: Libório Junior

No povoado de Kabawata, que tem um índice de radioatividade 22 vezes acima do normal, ainda permanecem alguns moradores. Em zonas com índices entre 52 e 238 vezes acima do normal, os habitantes talvez nunca regressem a suas casas. Para algumas das famílias afetadas foi oferecida uma compensação única de 1.043 dólares. Os advogados da Tokyo Electric Power Co. (TEPCO) pretendem que a empresa também não cumpra com sua obrigação de fazer frente aos custos da descontaminação argumentando que a radiação, como a busca de soluções, é agora responsabilidade dos donos das terras e não da empresa.

No dia seis de março, a organização Greenpeace apresentou, na Espanha, o relatório: Las lecciones de Fukushima, onde defende que o terremoto e o tsunami não foram as causas principais do acidente nuclear da planta de Fukushima Daiichi, na costa leste do Japão, há um ano. É de destacar que o documento enfatiza as responsabilidades políticas do governo japonês, um assunto que vem se mantendo em segundo plano nos meios de comunicação ocidentais, algo que alguns autores do Eurasian Hub puderam constatar na prática naqueles dias.

As razões de tal atitude são várias. Em primeiro lugar, de forma destacada, interessava ressaltar que a catástrofe era “natural” e imprevisível, esfriando desta maneira o debate político sobre a problemática da energia nuclear.

Relacionado a isso, foram visíveis os esforços dos meios de comunicação para dissociar a tragédia de Chernobil da de Fukushima, relato do qual se obteriam rendimentos importantes. Dessa forma, ficava salvo o clichê sobre a suposta fiabilidade da tecnologia ocidental sobre a soviético-russa ou outros países emergentes. Ao mesmo tempo, se preservava a imagem do governo ou sistema político japonês, livrando-o da polêmica, o que contribuiria também para manter afastado o debate sobre os países “responsáveis” e “irresponsáveis” na hora de manter e impulsionar programas de energia nuclear. Isso em um momento no qual a pressão sobre o Irã crescia ruidosamente.

Em tal contexto, o relatório Greenpeace sobre Fukushima se investe de especial interesse, porque foge do tratamento politicamente correto de uma catástrofe realmente devastadora.

A seguir, incluímos o resumo das conclusões que o leitor pode encontrar na página do Greenpeace, lembrando que ali também se pode acessar o link: Fukushima, nunca mais e a publicação, gratuita (em.pdf): As lições de Fukushima. Para concluir, na mesma página se pode visitar a exposição: Shadowlands, com fotografias de Robert Knoth e entrevistas de Antoinette de Jong.

Conclusões do relatório do Greenpeace

A principal conclusão do Greenpeace sobre este desastre nuclear é que ele poderia se repetir em qualquer central nuclear no mundo, o que põe em situação de risco milhões de pessoas, levando em conta que um acidente nuclear aconteceu aproximadamente a cada sete anos, em média.

O Greenpeace conclui que as três razões principais do acidente nuclear são:

1. – Um reator vulnerável – o desenho. Durante décadas foram sendo conhecidas, no Japão e a nível internacional, as vulnerabilidades do desenho do reator de água em ebulição Mark I (BWR, suas siglas em inglês). Mesmo assim foram ignoradas de forma reiterada as advertências.

2. – Uma regulamentação fraca – o Governo e a gestão. Foram toleradas manobras de encobrimento da companhia proprietária, TEPCO, que em 2006 admitiu ter falsificado relatórios sobre a água de refrigeração e, apesar disso, a Agência de Segurança Nuclear e Industrial (NISA, na sigla em inglês) concedeu à empresa autorização para estender a vida dos reatores de Fukushima Daiichi dez anos mais.

3. – Erros sistemáticos na avaliação – a segurança nuclear. A TEPCO e a NISA sabiam que a zona da central nuclear poderia sofrer o impacto de um tsunami de mais de dez metros. Mesmo assim, a central só estava desenhada para suportar tsunamis de até 5,7 metros.

Entretanto, do relatório As lições de Fukushima se obtém três conclusões importantes:

1. – Os riscos reais eram conhecidos, mas as autoridades japonesas e os operadores da planta de Fukushima deram pouca importância e se omitiram.

2. – Os planos de emergência nuclear e evacuação para a proteção das pessoas fracassou totalmente, apesar de o Japão ser um dos países melhor preparado do mundo para a gestão de catástrofes.

3. – Os contribuintes pagarão a maior parte dos custos. O Japão é um dos três países nos quais, por lei, o operador da central nuclear é responsável pela totalidade dos custos de um desastre nuclear, mas os regimes de responsabilidade e indenização da lei são insuficientes. Para sobreviver, as pessoas afetadas terão de buscar seus próprios recursos.

Cifras sobre Fukushima

Alguns dos dados que surgem do relatório As lições de Fukushima são, por exemplo:

– No Japão foi necessário deslocar 150.000 pessoas;

– Existem 28 milhões de metros cúbicos de solo contaminado por substâncias radioativas;

– O Japão terá que assumir o custo total do desastre (de 520 a 650 bilhões de dólares), uma cifra que se aproxima do custo da crise bancária das hipotecas de alto risco nos Estados Unidos;

– Apenas dois reatores nucleares se mantém operando, dos 54 que existem, contra as pressões do Governo e da indústria nuclear, sem que por isso sofram nenhum problema de abastecimento.

Enviada por Dina Oliveira.

http://eurasianhub.com/2012/03/08/lecções-de-fukushima-um-ano-despues-greenpeace/

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