João Pereira Coutinho, Folha de SP
Samuel Fuller é um dos meus diretores de eleição. E o seu “Cão Branco” (1982) está no topo da lista. O leitor conhece?
Se não conhece, aconselho. É a história, inicialmente idílica, de uma jovem atriz de Hollywood que encontra um pastor alemão branco a vaguear, perdido, pela vizinhança. A moça apaixona-se pelo cão. E vice-versa. Inevitável: o bicho é doce, a moça, idem. Uma história de amor.
Só existe, digamos, um probleminha: sempre que o cão encontra um negro pela frente, o seu instinto é atacá-lo e matá-lo com uma violência digna de Dr. Jekyll e Mr. Hyde.
O cão branco é um “cão branco” -e não me refiro à cor do pelo. Foi treinado para atacar negros desde a infância por um dono que lhe transmitiu esse ódio assassino.
Horrorizada com essa “dupla personalidade”, a moça procura ajuda para o cão. E, na era da terapia, também existem terapeutas caninos dispostos a “curar” o racismo do bicho. Pormenor magistral: o terapeuta que aceita tratar o cão é negro. (mais…)