Mapa dos Conflitos Ambientais de Minas Gerais: mais um belo instrumento na luta pela cidadania

Quilombolas: mencionados em 26 conflitos

Tania Pacheco

Um rápido passeio pelo Mapa dos Conflitos Ambientais de Minas Gerais, produzido pelo Gesta (Grupo de Temáticas em Estudos Ambientais /UFMG), Ninja (Núcleo de Investigação em Justiça Ambiental/UFSJ) e pesquisadores da Universidade Estadual de Montes Claros, traz gratas e interessantes surpresas, nos seus 445 casos.

Com uma interface bastante amigável, ele torna possível já na página de abertura uma múltipla escolha entre os enfoques priorizados: “atividades/ processos produtivos”, “tipo de poluição/ contaminação”, além do município e/ou da mesorregião a serem pesquisados. Além disso, uma aba leva diretamente a 12 Textos Analíticos, previamente produzidos e envolvendo diferentes visões sobre os temas do Mapa.

Do ponto de vista do Combate ao Racismo Ambiental especificamente, algumas curiosidades a serem olhadas com mais vagar. Inicialmente, o Mapa registra 26 casos envolvendo a palavra “quilombola”, na maioria absoluta conflitos pelo reconhecimento, expulsão de invasores e demarcação de suas terras. Mas há, também, diversos embates com mineradoras, principalmente, e ainda outros relacionados à criação de reservas biológicas em seu território; a barragens e hidrelétricas; e, ainda, a monoculturas. 

Uma questão ligada à pesquisa na base de dados merece ainda algum cuidado. Um exemplo: pesquisando “povos indígenas”, o resultado foi zero; “indígenas” apontou quatro conflitos; “indígena”, no singular, seis; e “índios” – provavelmente a palavra privilegiada pelos pesquisadores – relacionou 12. Considerando esse último resultado, o Mapa de Minas nos mostra que, na maioria, os Pataxó,  Caxixó,  Araxá, Krenak, Mokuriñ, Maxakali, entre outros, também lutam contra fazendeiros, monoculturas (da cana e do eucalipto, principalmente) e pela demarcação de suas terras. As ações da mineração, da Vale (VRDC) e da UHE de Aimorés estão igualmente presentes no mapeamento.

Deixando para trás quilombolas e povos indígenas e já tratando das “comunidades tradicionais”, o Mapa mostra os vazanteiros em três conflitos, provocados pela criação e sobreposição de unidades de conservação de proteção integral em seus territórios – Parques Estaduais da Mata Seca, Verde Grande e Lagoa do Cajueiro. Neste último, os quilombolas estão presentes, junto com os vazanteiros.

Uma busca rápida à palavra ribeirinhos nos mostra cinco casos, o que talvez seja pouco, considerando o número de barragens e UHEs de Minas. Já a expressão “pescadores artesanais” leva a apenas um conflito, mas, se usarmos “pescadores”, outros 20 aparecerão na tela. Finalmente, os geraizeiros aparecem uma só vez, talvez porque tenham sido classificados, em outros casos, como agricultores familiares.

Que fique claro: essas questões de “afinação” são totalmente naturais para um Mapa que acaba de entrar – e muito bem! – no ar. Na verdade, mesmo para outros, que já comemoraram seu primeiro aniversário, como é o caso do Mapa da injustiça ambiental e saúde no Brasil: de quando em vez se descobre algo a aprimorar ou a consertar. E com certeza a turma de Minas saberá fazer com que seu Mapa de Conflitos fique a cada dia mais completo e melhor, para o bem de tod@s nós.

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