Mais pretos e pardos chegam à faculdade

A proporção de brasileiros com ensino superior completo que se declaram pretos ou pardos dobrou em dez anos, mas o patamar era tão baixo em 1999 que, apesar do aumento, os contingentes dos dois grupos ainda representam um terço do porcentual de brancos graduados. A reportagem é de Felipe Werneck e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 18-09-2010.

Dados da Síntese de Indicadores Sociais, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que, em 2009, apenas 4,7% dos pretos e 5,3% dos pardos com 25 anos ou mais tinham curso superior – ante 15% dos brancos.

Dez anos antes, o porcentual era de 2,3% para cada um dos dois primeiros grupos e de 9,8% para brancos. “Obviamente é positivo o aumento, com a ressalva de que o ponto de partida dos pretos e pardos era muito baixo”, diz o pesquisador do IBGE Leonardo Athias. Ele lembra que, em 1999, a situação dos pretos e pardos com grau universitário era semelhante à da população negra adulta na África do Sul durante o fim do apartheid.

Estudo do professor da Universidade de Brasília (UnB) José Jorge de Carvalho estima que 45% dos alunos beneficiados pelo Programa Universidade para Todos (ProUni) eram pretos ou pardos, lembra Leonardo, citando esse como o principal fator para o aumento do número de graduados nos dois grupos.

“Além do ProUni, políticas de transferência de renda podem ter contribuído. E também as cotas, mas nesse caso a participação é muito pequena”, acrescenta. Os dados indicam que para os três grupos o aumento foi maior na segunda metade da década: em 2004, os porcentuais eram de 11,4% para brancos, 3% para pretos e 3,2% para pardos.

O coordenador da ONG Educafro, frei David Santos, comemorou o resultado, mas disse que esperava uma participação maior de pretos e pardos. “Estamos conseguindo mexer para cima com os dígitos do IBGE, mas ainda é muito pequena a mudança”, disse ele, citando o trabalho voluntário realizado pela Educafro em 2 mil pré-vestibulares comunitários.

Santos concorda com a análise de que o maior efeito se deve ao ProUni, que oferece bolsas em instituições particulares. “A exclusão era muito radical. Nos últimos 5 anos colocamos mais negros em universidades que nos últimos 500.”

Tendência

A distribuição do rendimento familiar per capita das pessoas com 10 anos ou mais mostra que, no grupo dos 10% mais pobres, 8% eram pretos e 62,9% eram pardos em 1999. Dez anos depois, essas proporções subiram para 9,4% e 64,8%. Quanto ao analfabetismo, tanto pretos como pardos, com 13% cada um, ainda têm mais que o dobro da incidência entre os brancos, de 5,9%.

A tendência para os próximos anos é de que os números melhorem, dizem os pesquisadores. “Isso porque temos um quadro grande de universidades públicas com ações afirmativas e os candidatos às eleições presidenciais no topo das pesquisas afirmam que vão manter o ProUni”, explica Paulo Vinícius da Silva, pesquisador da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Valter Roberto Silvério, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), destaca a mobilização social como outro fator que implicou no crescimento. “A conscientização social, que vem com os cursinhos para negros e alunos carentes, é um exemplo disso”, explica. Para ele, os números significam um avanço, mas ainda há muito a se fazer. “Esses alunos normalmente estão em graduações de menor prestígio. Precisamos diagnosticar as áreas em que eles estão se formando.”

Para a bolsista Zilá Ferreira, de 30 anos, que cursa o último ano de Direito em uma faculdade particular de São Paulo, chegar ao ensino superior foi uma vitória. “Percebi que o fato de eu estudar empolgou familiares e vizinhos”, conta ela. “Mas, sem a bolsa, acho que dificilmente eu conseguiria chegar até aqui, porque os vestibulares das grandes faculdades exigem cursinhos caros.”

http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=36426

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