Em julho de 2014, todas as famílias do P.A São Francisco, zona rural de Bom Jesus das Selvas, foram despejadas por ordem judicial ilegal. No último dia 15 de agosto, a casa da liderança José Ribamar Silva, 57 anos, foi incendiada e metralhada por sete homens armados
Diogo Cabral – advogado da CPT no Maranhão
Como se não bastasse o despejo de famílias assentadas da reforma agrária, no último dia 15.08.2014, sete homens armados com pistolas e escopetas, a mando dos grileiros Anderson Silva Pinto e sua irmã Concita Silva, invadiram a casa da liderança rural José Ribamar da Silva, 57 anos, ocasião esta que incendiaram parte de sua residência e metralharam toda a parte interna da casa, lar de 6 trabalhadores rurais. Por sorte, o lavrador havia saído alguns minutos antes, para visitar sua mãe no Hospital de Bom Jesus das Selvas. Sabedores de seu paredeiro, o bando de jagunços se deslocou até o hospital com intento de matar José Ribamar, contudo, ao perceber a movimentação estranha, conseguiu fugir e se refugiar em local desconhecido. Até a presente data, Ribamar não conseguiu retornar para sua casa.
O sudoeste do Maranhão é uma região castigada por conflitos agrários, trabalho escravo, assassinato de lideranças e impunidade. Apesar da gravidade da situação, o Estado é completamente ausente. Apesar das inúmeras audiências realizadas entre lavradores e a Ouvidoria Agrária Nacional e o INCRA, quase nada foi feito para garantir aos trabalhadores do P.A São Francisco paz e sossego em seus lares. José Ribamar Silva, em conversa telefônica, pensa em ir embora do assentamento. Tem medo que seus filhos e esposa sejam vítimas da violência no campo, crônica neste canto esquecido da nação.
O Projeto de Assentamento São Francisco, zona rural de Bom Jesus das Selvas, sudoeste do Maranhão, foi criado no ano de 1999 pelo INCRA, com capacidade para atender 106 famílias. Atualmente, vivem 88 famílias distribuídas em 3 mil hectares de terra. Ocorre que em razão da grilagem de terras na região, de forte investimento do agronegócio, da má-fé de servidores do INCRA, da corrupção de vários cartórios e da chegada da Suzano Papel Celulose, mais de 1.500 hectares de terra pública foram apossados ilegalmente por fazendeiros da região, que, através de seguidas decisões judiciais, expulsaram várias famílias camponesas da localidade, para garantir o plantio de 3 mil hectares de eucalipto pela Suzano Papel Celulose.
Mais recentemente, em julho de 2014, mais uma liminar foi concedida pelo juiz de Buriticupu, Ailton Gutemberg, que apesar de ser incompetente para julgar a ação, determinou o desalojamento compulsório de várias famílias, operação esta que resultou na prisão de 4 lavradores.
–
Enviada para Combate Racismo Ambiental por CPT Maranhão.