RJ – Brasil 2014: Uma Nação na Encruzilhada da História?

encruzilhada geral bis

As manifestações do ano passado trouxeram à tona a enorme insatisfação, frustração e/ou mal-estar de amplas camadas da população, sobretudo jovens das grandes e médias cidades. Interpelaram de maneira radical mútliplas dimensões e aspectos do modelo de desenvolvimento vigente, o padrão de desenvolvimento urbano, as políticas de investimentos públicos, os megaeventos esportivos. Mostraram tanto o desencanto quanto a possibilidade de encontrar alternativas através da renovação das instituições representativas (congresso, assembleias, câmaras), quanto a desconfiança em relação aos agentes que as fazem funcionar (políticos, partidos), sejam os que estão nos governos, sejam os que estão nas oposições. É profunda a descrença no que a imensa maioria dos brasileiros vê como sendo o “mundo da política”.

Por seu lado, as forças políticas e econômicas que controlam e operam os mecanismos institucionais de ação política, nos níveis nacional, estadual e municipal, assim como os que controlam os grandes meios de comunicação de massa, revelaram-se incapazes de dialogar com os milhões que foram às ruas. Não apenas não foram atendidas a maioria de suas demandas como pode-se afirmar que, em certa medida, nem mesmo foram entendidas.

Frágeis tentativas de recuperação vindas de todo o espectro político e tentativas diversionistas têm pouco fôlego. A intensificação da violência policial em bairros populares, a criminalização de movimentos sociais e  a repressão a jovens militantes tampouco ajudarão a enfrentar a nova conjuntura aberta em junho de 2013.

Estaríamos diante de uma nação dividida entre, de um lado, as forças vivas da juventude urbana cheia de criatividade e combatividade e, de outro lado, a elite política, nascida e/ou recauchutada no processo de democratização dos anos 1980, precocemente anquilosada, reduzida a puro e simples “partido da ordem”?

Se os primeiros se mostram, até agora, incapazes de convergir minimamente para o que poderia vir a ser um projeto alternativo de sociedade, de modelo econômico, de poder, de democracia, os segundos parecem condenados a ter como exclusiva lógica e dinâmica sua própria reprodução, que é também a reprodução dos padrões societários e políticos que estão sendo questionados.

50 anos após o golpe militar, 26 após a constituição “cidadã”, a “transição democrática”, pactuada entre elites e militares, deixa às claras suas limitações, lacunas, fragilidades. E não se trata apenas dos crimes da ditadura não esclarecidos e punidos, mas também da reiterada incapacidade de romper com uma herança histórica de desigualdades e desequilíbrios profundos, com um estado ainda e sempre autoritário, patrimonista e clientelista, com um aparato de segurança corrupto e brutal, uma educação e uma saúde que permanecem privilégio de classe, uma cidade segregada e segregadora.  Opondo coalizões com escassa consistência programática, o debate político-eleitoral deste ano corre o risco de passar à margem das grandes questões nacionais levantadas pelas grandes manifestações.

Neste contexto, mais que nunca, a Universidade, instituição nacional por excelência, está desafiada a constituir-se em campo da reflexão, interpelando tanto os movimentos nascidos das lutas de junho, quanto os que, engajados no terreno político institucional, buscam, com consistência e dignidade, algo mais que a simples reprodução de mandatos.

Sem arvorar-se em vanguarda intelectual ou política, nem pretender produzir soluções mágicas, cabe à Universidade, neste momento, convocar a parcela mais comprometida de nossa intelectualidade crítica e a sociedade civil organizada a refletir e pensar alternativas, a dialogar e enfrentar com rigor e seriedade os desafios que nos coloca a História. Estamos numa encruzilhada histórica? Que possibilidades e caminhos estão colocados? Que possibilidades e caminhos estão para ser construídos?

Com este objetivo, o Ciclo de Debates “Brasil 2014: Uma Nação na Encruzilhada da História?” propiciará um diálogo que reconhece três interlocutores: representantes da comunidade acadêmico-científica, representantes do campo político institucional e porta-vozes ou intérpretes dos movimentos emergentes.

 

  1. Estado, Participação Popular e Democracia

2ª feira, 11/08/2014, 18:00 horas
Colégio Brasileiro de Altos Estudos
Avenida Rui Barbosa, 762 – Flamengo

  1. Memória e Verdade: O presente e o futuro reféns do passado?

2ª feira, 18/08/2014, 18:00 horas
Faculdade de Direito
Avenida Moncorvo Filho, 8 – Centro  Salão Nobre

  1. O Brasil no Mundo

2ª feira, 25/08/2014, 18:00 horas
Instituto de Filosofia e Ciências Sociais – IFCS
Largo de São Francisco, 1 – Salão Nobre

  1. Educação: prioridade sempre proclamada, nunca concretizada

2ª feira, 1º/09/2014, 11:00 horas.
Praia Vermelha
Avenida Pasteur, 250 – Salão Pedro Calmon

  1. Economia: Neo-desenvolvimentismo, neo-colonialismo ou neo-imperialismo?

2ª feira, 8/09/2014, 11:00 horas
Praia Vermelha – Avenida Pasteur, 250 – Salão Pedro Calmon

  1. Saúde e Previdência: direito social, estado e mercado

2ª feira, 15/09/2014,  11:00  horas
Centro de Ciências da Saúde
Cidade Universitária – Auditório

  1. Comunicação e Mídia: mídias emergentes e velhos monopólios

2ª feira, 22/09/2014, 11:00 horas
Praia Vermelha – Avenida Pasteur, 250 – Salão Pedro Calmon

  1. Questão Urbana: novas estratégias, velhas desiguadades.

2ª feira, 29/09/2014, 9:30

Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional
Cidade Universitária – Prédio da Reitoria – 5º andar – Auditório do IPPUR

Enviada por Carlos Vainer para a lista da RBJA.

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