A Comissão Nacional da Verdade (CNV) ouviu ontem (22) o depoimento do coronel reformado Roberto Amorim Gonçalves falou sobre sua participação na Operação Sucuri, que infiltrou militares na área ocupada pela Guerrilha do Araguaia. Gonçalves foi o quinto dos 16 depoentes que a comissão pretende ouvir esta semana sobre violações de direitos humanos no período da ditadura militar.
Após o depoimento, o ex-ministro da Justiça, José Carlos Dias, integrante da CNV, classificou como “um pouco arrogante” a postura de Gonçalves, que “parece manter a mentalidade dos anos de chumbo”. Segundo Dias, ao ser perguntado se a população na região do Araguaia não gostava da presença de militares, Gonçalves respondeu: “Por que alguém vai ter alguma coisa contra um militar neste país?”.
Segundo Dias, o depoente se recusou a utilizar a palavra “guerrilheiros”, a quem chamou apenas de “terroristas” durante a oitiva. O coronel disse que moradores relatavam casos de “justiçamento”, assassinatos de moradores, por parte desses “terroristas”, mas não soube dizer nenhum nome ou especificar nenhum caso.
Gonçalves confirmou que agentes militares foram infiltrados na região, se passando por posseiros, e que recebia informações de alguns desses informantes sobre as atividades no local. Além de atuar durante a Guerrilha do Araguaia, ele também trabalhou no Destacamento de Operações de Informações – Centro de Defesa Interna (DOI-Codi) em Brasília, com o codinome “Fabrício”, mas negou ter participado de qualquer violação a direitos humanos.
Hoje (23) serão ouvidas mais três pessoas. Uma delas é Cláudio Guerra, investigador da Polícia Civil do Espírito Santo, ligado ao Esquadrão da Morte, e que atuou em operações com agentes da repressão no Rio de Janeiro. Antes, às 9h, membros da CNV vão se encontrar com a ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH), Ideli Salvatti. A pauta do encontro deve ser a análise dos restos mortais do ex-presidente João Goulart.
Na próxima semana, serão ouvidos 26 depoentes no Rio de Janeiro. Além dos 25 já previstos, a CNV pretende ouvir o general José Antônio Nogueira Belham. O depoimento dele estava marcado para esta semana, em Brasília, mas foi transferido para o Rio de Janeiro.