O desafio de ser negro em Minas

GIF_5Seguindo a série do Brasil de Fato MG, movimento negro expõe suas demandas e reivindicações para candidatos ao governo do estado

Maíra Gomes, Brasil de Fato

Belo Horizonte (MG) – A população negra predomina no estado de Minas. De acordo com o Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 53,5% dos mineiros se declararam pretos ou pardos. Já no século XVIII, o estado de Minas tinha a maior população negra do Brasil, escravizada para a lida com a extração de ouro e pedras preciosas. 

A doutora em Geografia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Ângela Gomes lembra que o Brasil foi o maior receptor de escravos do mundo, mas os brasileiros ainda tratam os negros como se fossem exceção. “Após a abolição, os negros não foram indenizados nem com terra nem foram reparados pelos 300 anos que trabalharam de graça. Pelo contrário, o que houve foi uma acentuação do racismo e da violência”, aponta. 

Um dos estados mais racistas, Minas não tem ao menos um deputado estadual negro, e diversos espaços no estado funcionam praticamente como o apartheid, segregando negros. “Em cada pedaço de Minas o racismo se manifesta. No território, no trabalho e até no genocídio da juventude”, reforça a professora, que declara que as mulheres negras ganham 40% do que ganham as mulheres brancas e os homens negros, sobretudo no meio rural, chegam a ganhar 70% a menos que os brancos.


Cultura negra: identidade e preconceito

A cultura quilombola é considerada patrimônio cultural e é protegida pela Constituição, no art. 68. No entanto, desde a criação em 1988, até hoje o governo fez muito pouco. Os quilombos são espaços importantes para a livre manifestação da cultura e modo de vida do povo negro. Em Minas, são quase 500 comunidades quilombolas, e apenas uma tem a titulação da terra. 

Manifestações da cultura negra no Brasil contribuíram muito para criar a identidade brasileira, mas são desvalorizadas pela sociedade. Modalidades musicais de raiz negra, como o rap, ainda enfrentam preconceito. “Sempre vai haver um momento na história que a cultura negra vai ser discriminada. Antes era o samba e hoje é o funk, que é a manifestação que predomina nas periferias, que é feita pela juventude preta, pobre e favelada”, explica Bruno Vieira, integrante do Fórum das Juventudes da Grande BH. 

As religiões de matriz negra também são alvo de preconceito sofrido pela umbanda e pelo candomblé, há quatro séculos. Tatetu Arabomi, de BH, diz que a sua religião foi “satanizada” por muito tempo. “Até o início dos anos 80, tinha que ter licença nas delegacias para poder funcionar, e até as delegacias que permitiam prostíbulos não permitiam terreiros”, conta. Apedrejamentos de casas destas religiões são frequentes. 

Uma forma de mudar este cenário de racismo é através da educação, que deve demonstrar de fato o que representa o povo negro na construção do brasileiro. “É muito importante que todos percebam que quando os europeus chegaram à África, não existiam ali um bando de selvagens, e sim reis e rainhas, em um processo até mais avançado que a Europa”, declara Bruno. Para tal, foi criada a Lei 10.639, de janeiro de 2003, que inclui no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”. 

No entanto, movimentos denunciam que a lei ainda não foi totalmente implementada. “Tem política pública e recurso federal, mas falta vontade da Secretaria de Educação de Minas para a aplicação da Lei”, aponta Markim Cardoso, membro da Coordenação Nacional de Entidades Negras (CONEN). Para ele, a solução passa pela formação de professores e criação de materiais didáticos adequados. 

Miriam Alves, do Coletivo de Estudantes Negros (CEN) da UFMG, reforça ainda a importância do investimento na educação como um todo para o empoderamento da população negra. “A educação pública está completamente precarizada em Minas, isso elimina a possibilidade de o negro ter atenção, já que a maioria dos pobres são negros”, diz.

O combate a este preconceito deveria estar sendo feito principalmente pelo Estado, mas entidades denunciam que o racismo institucional é o maior inimigo. “Falta estrutura administrativa, recursos orçamentários e vontade política do governo do estado. . Nestes 12 anos o governo de Minas não fez nada”, aponta Markim. 

página 5_0Genocídio da Juventude Negra

A cada três assassinatos cometidos no Brasil, dois são de jovens negros de 15 a 24 anos de idade, revela o Mapa da Violência 2013, elaborado pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos (Cebela). Em Minas, de 2001 a 2011, o número de homicídios subiu 80%, caracterizando o maior crescimento da região sudeste, enquanto Rio de Janeiro e São Paulo tiveram quedas nos índices.De acordo com Míriam, os policiais são formados para classificar as pessoas de acordo com os estereótipos, criminalizando os jovens negros da periferia. “Quando a polícia entra na favela, já procura o jovem negro. Temos dados que apontam que quanto mais ação policial tem dentro da favela, maior é o número de mortes na localidade”, conta.

Principais demandas em Minas Gerais

• Transformar a atual Coordenadoria Estadual em Secretaria de Estado de Promoção da Igualdade Racial;

• Demarcação e Titulação dos Territórios Quilombolas;

• Aprovação e imediata aplicação do Plano Estadual de Políticas Promoção da Igualdade Racial para o Estado de Minas Gerais;

• Criação do Comitê Técnico Estadual de Saúde Integral da População Negra no SUS;• Implementar o Plano Nacional de Enfrentamento à Mortalidade da Juventude Negra, “O Plano Juventude Viva” como prioridade da gestão;

• Implementar a Lei 10.639/11.645, que trata da inserção da História e Cultura Afro nas escolas;

• Criação de um Grupo de Trabalho para a promoção da liberdade, valorização e respeito às religiões de Matriz Africana;

• Criação do Centro de Informação e Referência da Cultura Negra de Minas Gerais;

• Criação de ouvidorias dentro das escolas para crimes de racismo;

• Garantir o direto das populações tradicionais de usarem a fitoterapia. 

Enviada para Combate Racismo Ambiental por José Carlos.

Comments (3)

  1. Minha bisavo e avo eram indias bugres . Minha bisavo foi pega a laco e amarrada por 1 mes em uma arvore .Minha vo teve meu pai com meu avo Portugues .Quando meu pai nasceu , o pai do meu pai matou o meu avo materno e ninguem queria meu pai (um mestico) .A tia irma do meu avo criou papai junto com seu marido . Eu nunca conheci minha bisavo e nem mesmo minha vo.Somente uma tia irma de me pai,e eu tinha 9 anos de idade .Mamae sempre nos proibiu de procurar a familia de papae e muitos anos ja se passaram,mas meu maior desejo no mundo e ver o que restou da familia de papai e minha tambem ,somente eu acalento este desejo na familia!!!!

  2. Quem NÃO TEM História não tem DIGNIDADE! Peço que leiam e assistam aos links abaixo do MGQUILOMBO:
    DIA DA DIGNIDADE NEGRA MINEIRA
    http://www.mgquilombo.com.br/site/Artigos/bens-quilombolas-materias-e-imateriais/dia-da-dignidade-negra-mineira.html
    e
    Quilombo do Campo grande e Triangulo Mineiro
    http://www.mgquilombo.com.br/site/Multimidia/vdeos/quilombo-do-campo-grande-e-triangulo-mineiro-historias-roubadas-do-povo.html

    Ajudaí, gente.
    TJ

  3. NÃO VOU ESCREVER NADA. Ao terminar essa matéria senti uma tristeza antiga, doida, inflamada, como se fosse uma unha encravada ou uma postema inflamada no fundo da alma. Minas não tem negros. Os negros de minas olham pro chão. São descendentes de índios. Tiveram uma avó bugra apanhada a laço. Não conhecem o Rei Ambrósio e acham que o Chico Rei existiu. Chora Minas Gerais! Chora povo que deglutiu seus negros.

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