Caso Angelelli: após 38 anos, justiça condena militares à prisão perpétua

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Natasha Pitts – Adital

Quase 38 anos depois de seu assassinato, a justiça prevaleceu no caso de Enrique Angelelli, bispo da província argentina de La Rioja. Durante o julgamento, realizado na última-sexta-feira, 04 de julho, a morte do religioso foi considerada um delito de lesa humanidade. Os militares Luciano Benjamín Menéndez e Luis Estrella, principais acusados de ordenar a execução do religioso durante a última ditadura cívico-militar na Argentina foram punidos com prisão perpétua.

O Tribunal Oral Federal (TOF) de La Rioja revogou a prisão domiciliar dos repressores e determinou que eles fossem detidos na prisão de Bower, em Córdoba. A sentença ditada também considerou a tentativa de assassinato do ex-sacerdote Arturo Pinto, amigo e colaborador de Angelelli. Arturo acompanhou o julgamento.

O bispo Angelelli morreu no dia 04 de agosto de 1976 quando o veículo em que viaja junto com Arturo capotou após colidir com outro. Durante muito tempo, os militares quiseram explicar o assassinato como sendo um acidente automobilístico. Outros militares tiveram envolvimento, mas morreram antes do início do julgamento.

O debate oral já se prolongava por oito meses e foi acelerado nas últimas semanas por intervenção do Papa Francisco. O religioso enviou ao Tribunal documentos secretos, entre os quais estava uma carta enviada pelo bispo, um mês antes de sua morte, ao núncio apostólico na Argentina Pío Laghi, na qual revelava estar sendo ameaçado. Até então, a carta estava incorporada ao arquivo oficial da Igreja.

A leitura do veredicto foi breve, mas repleta de emoção, aplausos e de manifestações. “Monsenhor Enrique Angelelli, presente, agora e sempre!”, diziam os amigos e familiares do religioso no tribunal. A Diocese de La Rioja e integrantes da organização Tempo Latino-Americano também estiveram presentes no julgamento histórico para comemorar a decisão da justiça.

“Chegamos a um dia feliz: se disse a verdade, se fez justiça”, comemorou Arturo Pinto. María Elena Coseano, sobrinha de Angelelli, também celebrou a decisão. “É muito forte escutar isso depois de 38 anos de luta. Prometi a meus avós que não ia parar até conseguir a punição dos responsáveis”, manifestou. Ela considerou a decisão como histórica e disse que o resultado do julgamento foi importante não só para sua família, mas também para toda a província de La Rioja.

O dia anterior ao julgamento foi repleto de atividades para lembrar a vida de Angelelli. O bispo de La Rioja celebrou uma missa na catedral em homenagem ao padre e às Mães da Praça de Maio e, em seguida, foi realizada uma marcha com tochas até o edifício judicial, onde se permaneceu em vigília. As atividades foram acompanhadas pelo secretário nacional de Direitos Humanos, Martín Fresneda, e pelo secretário provincial de Direito Humanos, ex-sacerdote e testemunha do julgamento, Delfor “Pocho” Brizuela.

Além de determinar a sentença dos militares e recusar os pedidos de nulidade, os juízes Quiroga Uriburu, Carlos Cascano e Juan Carlos Reynaga deram “carta branca” às secretarias de direitos humanos provincial e nacional para que avancem nas investigações sobre quem integrava e o que faziam as “Cruzadas da Fé”, grupo de proprietários de terra conservadores que perseguiam a pastoral de Angelelli.

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