Por Iremar Antonio Ferreira*
No último dia 25 de junho, o presidente da Frente Parlamentar em Defesa dos Povos Indígenas (FDPI) e membro da Comissão de Direitos Humanos (CDH) da Câmara Federal, deputado Padre Ton, delegado por ambas, esteve reunido com centenas de indígenas Tenharin na Aldeia Kampinho´hu, no km 137 da BR Transamazônica.
Na chegada, foi recebido com honras indígenas, sendo conduzido até o local da reunião por um ancião e lideranças, que entoavam canto um canto de boas vindas.
Logo no início da reunião, as anciãs Maria, Joana e Yretá, todas com mais de 90 anos e sobreviventes do grande massacre promovido com a abertura da BR Transamazônica, foram convidadas a dar sua mensagem ao representante da CDH. Elas foram enfáticas em afirmar, em sua língua materna (tupi kagwahiwa), o quanto estão sofrendo com tudo isso. Dona Joana inicia perguntando: “quando vai acabar essa violência… depois de termos vivido o período de escravidão na época do seringal, depois abertura de estrada, mineração, tudo isso… e agora tiraram nossos netos… quando vai acabar isso”? Dona Yretá falou que “estou cansada de chorar, não consigo nem andar, quero ver meus netos; ajudem eles voltar”.
As falas das anciãs foram precedidas de dezenas de outras, dos representantes de cada aldeia presente (Kampinho´hu, Mafui, Bela Vista, Marmelo 1, Marmelo 2, Marmelo 3, Vila Nova e Tracuá), afirmando que o único objetivo agora é a liberdade dos cinco parentes presos injustamente (Domiceno, Gilvan, Gilson, Valdiná e Simeão). Todos manifestaram preocupação com a segurança do povo diante da certeza de que até o final de julho será julgado novo habeas corpus e estes terão a liberdade merecida.
Porém, o que mais nos chama a atenção são as constantes ameaças de morte que lideranças estão sofrendo na cidade de Humaitá e a omissão da Polícia Civil que, ao ser procurada para registrar boletim de ocorrência, afirma estar sem sistema. E isso não foi somente uma vez que ocorreu, segundo as lideranças, as quais não se sentem mais seguras em buscar este tipo de serviço, porque o sentimento de descaso para com a proteção de suas vidas os faz se esconder cada vez mais. O direito de ir-e-vir e o direito à segurança está comprometido diante disso.
As ameaças vão desde perseguição no hotel onde se hospedam e até mesmo na hora de comer um churrasquinho no cair da tarde. Querem cercear até o direito das pessoas se alimentarem, cujas ameaças intimidatórias vão desde palavrão a até dizer que devem sair do local porque não são bem vindos à cidade. Como pode algum cidadão se dizer dono da cidade e exigir que o outro se retire para não sofrer atentado? Será que Humaitá é terra de ninguém? Cadê as centenas de policiais utilizados na busca dos corpos e na criminalização dos indígenas? Cadê a prisão dos incendiários de bens públicos e privados?
Já passou da hora da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), juntamente com o Departamento Nacional de Infra-Estrutura e Transportes (DNIT), regularizar a circulação de veículos durante o dia e a noite nos limites que envolvem a terra indígena, a exemplo dos Waimiri Atroari – Manaus sentido Roraima. Os Jiahui e Tenharin, que somam mais de mil pessoas, não podem pagar com suas vidas pela irresponsabilidade do Estado brasileiro, que cortou seu território tradicional com a BR Transamazônica e agora os abandona à própria sorte.
Passou da hora de cumprir a Constituição Federal e promover os direitos originários, assim como garantir o direito de ir-e-vir de todos e todas que moram nesta região, porém fazendo justiça diante daqueles que querem a todo custo destruir vidas que vivem à margem dos direitos conquistados.
Justiça Já e Liberdade aos cinco Tenharin, criminalizados por serem indígenas e por apresentarem um modo diferente de vida na relação com a natureza, do Bem Viver.
–