Pungesti, o vilarejo romeno que resiste ao gás de xisto

AFP Photo: Daniel Mihailescu
AFP Photo: Daniel Mihailescu – Manifestações do dia 7 de dezembro

Por Antonin Sabot, no Le Monde/UOL

No final da barreira que cerca a fazenda de Constantin Spiridon, em Pungesti, uma bandeira branca e vermelha instalada pelo ex-prefeito do vilarejo proclama: “Stop Chevron”. Desde outubro, esse vilarejo situado 200 quilômetros a nordeste de Bucareste tem vivido no ritmo da resistência contra o gás de xisto.

Nada predispunha esse vilarejo perdido nas suaves colinas da Moldova romena a conduzir uma luta obstinada contra a gigante americana que vem tentando instalar ali uma plataforma de perfuração. No entanto, a imagem de seus habitantes – entre eles muitos idosos – enfrentando policiais da tropa de choque rodou a internet romena.

Há dois anos a petroleira já vinha de olho no subsolo da região, uma das mais pobres do país. Mas as coisas se aceleraram a partir do dia 4 de outubro, quando a Chevron recebeu as aprovações necessárias para a exploração da jazida de Pungesti. A empresa logo se deparou com a resistência da população e inúmeros ativistas ambientalistas vindos das cidades vizinhas, Barlad e Vaslui. Houve conflitos com as forças policiais que vieram em reforço e as obras tiveram de ser interrompidas várias vezes, até que fatalmente foram retomadas.

“É um teste”, afirma Marius Ignat, com a bandeira romena enrolada no pescoço e uma câmera na mão, percorrendo a rua principal de Pungesti. Ele, que normalmente coordena a torcida do Vaslui FC, acredita que “se essa instalação de gás der certo, eles colocarão uma segunda torre de perfuração e depois uma terceira, e talvez mais duzentas”. Cerca de vinte militantes montaram um acampamento improvisado bem em frente ao terreno da Chevron, um antigo pasto comunitário. Mas o acampamento foi esvaziado e parcialmente destruído no dia 2 de dezembro. Somente alguns militantes puderam permanecer no local, abrigados no vilarejo de Silistea, a algumas centenas de metros do futuro poço.

Anti fracjing
AFP Photo: Daniel Mihailescu

Mas nem por isso os manifestantes contra a Chevron desistiram. Constantin Spiridon tem uma fazenda bem grande a cerca de 800 metros do terreno da empresa. “Aqui vivemos de agricultura de subsistência”, ele explica. “Temos algumas vacas, algumas cabras. Vivemos da terra. Então se eles a poluírem e a água for contaminada, como vamos sobreviver?”

Essa ligação com a terra é o principal obstáculo para a exploração do gás de xisto nesse vale deserdado. Aqui, o pouco que as pessoas têm elas devem a seus pequenos pedaços de terra e às duas ou três vacas que cada um cria. Todos estão certos de que não têm nada a ganhar e tudo a perder com o caso.

Na ocasião da primeira abordagem da Chevron, no verão de 2012, foram os membros de uma associação de Barlad, uma cidade cerca de 60 quilômetros ao sul, que primeiro se mobilizaram. Eles foram falar com os moradores que na época não se preocupavam com os veículos 4 x 4 dos americanos que prospectavam o local. Eles lhe explicaram os riscos causados pela fratura hidráulica, lhes indicaram websites onde poderiam se informar. E, mais importante, eles lhes mostraram o filme “Gasland” – que se tornou controverso desde então – de Josh Fox, uma denúncia contra as devastações do gás de xisto nos Estados Unidos.

Nas conversas com os moradores do vilarejo, a cena em que um homem coloca fogo na água que corre da torneira de sua cozinha sempre é mostrada. Independentemente de que a veracidade da associação entre essas imagens e a exploração do gás de xisto seja contestada, sua menção é sempre acompanhada de uma pergunta perturbadora: “Se não tivermos mais água, com o que vamos matar a sede de nossos animais?”

“Não somos ricos, mas temos tudo de que precisamos e não morremos de fome”, diz Maria Dediu, que mora logo em frente à única rua asfaltada do vilarejo, onde talvez passem em breve os caminhões das obras. “Eles achavam que éramos alcóolatras analfabetos”, ela vocifera. “Mas temos televisão e internet aqui, nós nos informamos sobre o que é o gás de xisto.”

Seu marido participou das manifestações das últimas semanas. Hoje, ela não o deixa mais sair, pois ele recebeu várias multas por motivos que ela diz serem “totalmente inventados”. “Eles querem nos intimidar e dissuadir aqueles que nos ajudam”, desabafam os ativistas.

No dia 7 de dezembro o vilarejo foi colocado em zona de restrição especial de segurança, um status inicialmente reservado à luta contra o crime organizado e o tráfico. Centenas de policiais militares patrulham de forma permanente e controlam cuidadosamente os passantes. As caminhonetes dos camponeses são sistematicamente revistadas.

Enquanto os telefones dos habitantes mais envolvidos na luta não param de receber ligações de toda a Romênia, a Chevron responde, impassível: “Estamos dispostos a trabalhar juntamente com as comunidades locais e a lhes explicar  os benefícios do gás natural”. A empresa americana também informa que durante a fase de exploração em andamento, não será feita a fratura hidráulica, mas sim perfurações convencionais.

Apesar disso, Ioan Cretu, um jovem de um vilarejo vizinho também visado pela Chevron, tenta pensar em um futuro sem gás de xisto: “Estamos pensando muito em resistir, no momento”, ele suspira. “Isso toma toda nossa energia. Espero que depois, uma vez que a Chevron tiver ido embora, consigamos nos sentar todos juntos e discutir projetos de desenvolvimento sustentável para melhorar a situação dos habitantes.”

AFP Photo: Daniel Mihailescu
AFP Photo: Daniel Mihailescu

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