Comissão apresentou conclusões da investigação que desmonta versão de militares
Juliana Castro – O Globo
RIO — Parentes das três vítimas da Chacina de Quintino, na qual três militantes da VAR-Palmares foram mortos, se emocionaram ao lembrar do episódio, durante audiência pública da Comissão Estadual da Verdade do Rio (CEV-Rio) nesta terça-feira. Os familiares receberam dossiês da CEV-Rio com documentos e depoimentos que desmontam a versão dos militares para a morte dos três militantes.
Antônio Marcos Pinto de Oliveira, Maria Regina Lobo Leite de Figueiredo e Lígia Maria Salgado Nóbrega foram mortos por militares em 29 de março de 1972, numa casa em Quintino. Segundo a versão oficial, que consta em registro do DOPS, os agentes teriam sido recebidos a balas na casa onde estavam os militantes, e teriam reagido em legítima defesa. A versão, entretanto, foi desmontada após investigação da Comissão da Verdade do Rio.
Francisco Nóbrega, irmão de Lígia, foi um dos que falou nesta terça-feira à comissão. Ele contou sobre o sofrimento dos pais, ao ver a foto de Lígia estampada nos meios de comunicação como uma das mortas na chacina.
– Sugerimos que ela saísse do país, lembro de ter argumentado com ela que a luta armada era uma luta perdida, impossível, e que mais dia, menos dia ela seria morta – declarou Francisco. – Um dia a televisão estampa os rostos de três jovens apresentados como terroristas, que resistiram a prisão e foram mortos pela polícia. O choque foi terrível para os meus pais, principalmente.
Fátima Setúbal, irmã de Antônio Marcos, lembrou o enterro do militante foi feito diante de militares que insultavam a família e faziam ameaças. Nesta terça-feira, ela e os outros parentes das vítimas foram ao local onde houve a chacina, acompanhados de membros da CEV-Rio. Fátima diz ter feito um “enterro simbólico” para o irmão no local.
– Quando minha mãe começava a rezar, muito religiosa que era, e a chorar mais alto, eles (os policiais) chegavam armados e falavam para não falar alto e nem chorar alto – afirmou Fátima.
Iara Lobo, filha de Maria Regina, tinha apenas 3 anos quando a mãe morreu. A irmã dela, Isabel, tinha 4. Iara lembrou do episódio em que a Organização dos Estados Americanos (OEA), em 2010, condenou o Brasil por mortes na Guerrilha do Araguaia.
– Atualmente, o Supremo Tribunal Federal ignora os tratados internacionais de direitos humanos ao declarar que a Lei de Anistia é para todos.
Dois peritos da Polícia Civil do Distrito Federal, que atualmente trabalham para a Comissão Nacional da Verdade, foram cedidos à CEV-Rio para analisar os laudos sobre a morte dos três militantes. Além de analisar os documentos já obtidos com a comissão, Mauro Yared e Pedro Cunha estão em busca de outros laudos que possam mostrar claramente como foram as torturas sofridas pelos militantes no dia em que morreram.
– Temos a convicção que o que se passou foi uma execução sumária dos militantes – afirmou o presidente da CEV-Rio, Wadih Damous.
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Enviada para Combate Racismo Ambiental por José Carlos.