“Estado de emergência para os Yanomami”*

Homme au cours d'une présentation cérémonielle Yanomami. Amazonas, 1997. Luis Donisete Benzi Grupioni
Homem num ritual Yanomami. Amazonas, 1997. Luis Donisete Benzi Grupioni

Por Nicolas Bourcier, enviado especial do Le Monde a Surucucu, Brasil
Traduzido do francês por Stéphan Bry

É uma batalha silenciosa, áspera, que está ocorrendo no coração da floresta amazônica, ao longo da fronteira com a Venezuela, nos planaltos brasileiros de noites frias e dias de calor. Só as crianças, “vestidas de sol”, como dizem com pudor os padres missionários, parecem não dar nenhuma importância ao que está acontecendo ao redor.

Em todos, o cansaço se vê nos rostos. São uns vinte homens e mulheres, sentados debaixo de uma vasta lona, abrigados num pedaço de sombra. Mais longe, outros se amontoam nas tendas, deitados nas suas redes ou acocorados em volta de um fogo aceso para espantar os mosquitos e esquentar os beijus. (mais…)

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PM arromba porta da Câmara do Rio para retirar manifestantes

Policiais usaram spray de pimenta contra manifestantes. Fotos: Paulo Araújo / Agência O Dia / Estadão Conteúdo
Policiais usaram spray de pimenta contra manifestantes. Fotos: Paulo Araújo / Agência O Dia / Estadão Conteúdo

Câmara enviou ofício à PM para que fosse feita reintegração de posse. Três foram detidos, segundo a polícia; sindicato diz que há 5 feridos.

G1

A Polícia Militar arrombou uma porta lateral da Câmara Municipal do Rio de Janeiro na noite deste sábado (28) para retirar os professores que ocupavam o local desde quinta-feira (26). Os professores disseram que foram retirados à força e, de acordo com o sindicato da categoria, cerca de 20 pessoas teriam ficado feridas. A 5ª DP (Mem de Sá) confirmou a detenção de três manifestantes, que foram liberados ainda na madrugada.

Professores contaram à GloboNews que os policiais agiram com violência e que muitos foram empurrados, o que resultou em ferimentos nas pernas e braços. Desta vez, os policiais não usaram balas de borracha no confonto, mas levaram um galão que expelia uma grande quantidade de gás de pimenta, segundo a GloboNews. (mais…)

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Maria Rita Kehl ouve Davi Kopenawa: “Não quero mais morrer outra vez”

Martin Kovensky
Charge de Martin Kovensky

Por Maria Rita Kehl, na Folha

Em agosto deste ano, visitei pela Comissão da Verdade uma aldeia ianomâmi, para investigar as violações sofridas pelos indígenas durante a abertura da estrada Perimetral Norte, a partir de 1974.

Ao final do testemunho de quatro anciãos, Davi Kopenawa, um dos mais influentes pajés da aldeia, concedeu o depoimento que se segue.

Os ianomâmis e irmãos indígenas irão a Brasília no dia 2 para protestar contra a proposta de emenda constitucional 215, que retira do Executivo o poder de demarcar terras indígenas, em favor dos congressistas.

“Eu não sabia que existia governo. Veio chegando de longe até nossa terra: são pensamentos diferentes de nós. Pensamentos de tirar mercadoria da terra: ouro, diamantes, cassiterita, madeira, pedras preciosas. Matam árvores, destroem a terra mãe, como o povo indígena fala. Ela é que cuida de nós. Ela nasceu, a natureza grande, para a gente usar.

Eu não sabia que o governo ia fazer estradas aqui. Autoridade não avisou antes de destruir nosso meio ambiente, antes de matar nosso povo. Não só os ianomâmi: o povo do Brasil. A estrada é um caminho de invasores, de garimpo, de agricultores, de pescadores. Tiram ‘biopirataria’ sem avisar nós. Estradas que o governo construiu começaram lá em Belém, depois Amapá, Manaus, Boa Vista. Mataram nossos parentes waimiri-atroari. É trabalho ilegal. O branco usa palavra ilegal. (mais…)

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Massacre de Ipatinga será investigado pela Comissão da Verdade após 50 anos

Imagens do dia do confronto. Pelos dados oficiais, oito pessoas morreram, mas há os que contestam esta versão e falam em até 30 mortes
Imagens do dia do confronto. Pelos dados oficiais, oito pessoas morreram, mas há os que contestam esta versão e falam em até 30 mortes

Até hoje o número oficial de mortos no confronto entre policiais militares e operários é contestado

Por Marcelo da Fonseca, no Estado de Minas

A maioria dos motoristas que passa por Ipatinga pela BR-381, na altura do Shopping Vale do Aço, não imagina que o lugar já foi cenário de um dos fatos mais trágicos da história mineira. Bem às margens da rodovia, ficava em 1963 a portaria principal da usina siderúrgica da Usiminas – na época empresa estatal –, onde um confronto entre policiais militares e operários deixou mais de 120 trabalhadores feridos e um número de mortos que até hoje não foi esclarecido. Prestes a completar 50 anos, em 7 de outubro, a tragédia que ficou conhecida como Massacre de Ipatinga ainda é motivo de tristeza para os que estiveram no local e viveram uma das primeiras demonstrações da repressão que viria a se espalhar pelo país seis meses depois com o golpe militar. (mais…)

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“Nota da CPT/MG informando sobre a ocupação no Quilombo Brejo dos Crioulos corrigindo informações equivocadas repassadas pelo Incra/MG e OAN”

cptPor Paulo Roberto Faccion, da CPT – Norte de Minas

“Ouvindo os quilombolas e seus representantes queremos desmentir essa calúnia criada pelo INCRA. Nunca vi o INCRA ser tão rápido em algum assunto referente a Brejo dos Crioulos a não ser essa mentira que foi pelo presidente da Associação de Brejo dos Crioulos desmentida. Segundo os quilombolas o gerente nem lá se encontrava pois está viajando para Virgem da Lapa. A ocupação foi ordeira e pacífica e inclusive a PM na sua presteza ao latifúndio esteve lá e ouviu dos quilombolas toda a versão aqui dada, inclusive solicitada pelos quilombolas que constasse no BO. Resta saber se consta.

Tivesse o dr. Rosário Dheon César Mota, procurado a CPT essa mentira não estaria na internet. Ele não deve conhecer a CPT. A CPT presta um serviço pastoral à Brejo dos Crioulos e um desses serviços é esclarecer aos quilombolas que o maior problema do conflito agrário de Brejo dos Crioulos está na inoperância do INCRA, que há 13 anos ainda não conseguiu terminar o processo de Brejo dos Crioulos. Não tenha dúvida que no processo de formação da CPT a Brejo dos Crioulos um deles é responsabilizar o governo federal (MDA, INCRA, SEPPIR, Casa Civil, etc) como o maior responsável pelo conflito agrário no território. Uma área já desapropriada há 2 anos e até agora não houve titulação. Do Incra são 12 anos de promessas não cumpridas e agora o fomento de mentiras deslavadas. É estranho um órgão que está há 12 anos enrolando os quilombolas e não consegue ter o telefone do presidente da Associação de Brejo dos Crioulos para confirmar ou não tais mentiras. Estaria assim pelo menos tendo uma postura imparcial. A quem este órgão serve? Quanto à CPT não tenham dúvidas que servimos pastoralmente aos quilombolas”.

Enviada por Élcio Pacheco para a lista do Cedefes.

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Nota de apoio da Rede de Antropologia da Ciência e da Tecnologia à Mobilização Nacional Indígena

Nós, [dezenas de] pesquisadores, professores e estudantes reunidos no âmbito da IV Reunião de Antropologia da Ciência e da Tecnologia, realizada na Universidade Estadual de Campinas, manifestamos nosso apoio irrestrito e incondicional à Semana da Mobilização Nacional Indígena, que ocorrerá de 30 de setembro à 05 de outubro do presente ano. Afirmamos nossa solidariedade às causas indígenas, dos quilombolas e das demais populações tradicionais, enfatizando que toda e qualquer perspectiva de desenvolvimento tecno-científico deve ser situada como um planejamento que expresse a diversidade das formas de conhecer e apreender o mundo em que vivemos.

Sendo assim, a Rede de Antropologia da Ciência e da Tecnologia (ReACT) apoia à Mobilização Indígena, a defesa dos direitos indígenas assegurados pela Constituição Federal, principalmente os direitos à terra, territórios e bens naturais, por um país realmente justo e democrático.

Campinas, 24 de setembro de 2013.

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Remoção de militares pinochetistas em “prisão de luxo” é cancelada após protestos no Chile

Presidente Sebastián Piñera ordenou transferência de ex-generais pinochetistas; ex-general de alta patente se suicidou

Opera Mundi

Uma tentativa de transferência prisional de ex-generais pinochestistas que estavam presos por crimes durante a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990) terminou foi interrompida após protestos no Chile na madrugada deste sábado (28/09). O presidente do país, Sebastián Piñera anunciou na sexta-feira (27) que a penitenciária conhecida como Penal Cordillera seria fechada, e os dez militares pinochetistas lá aprisionados seriam transferidos para o presídio Punta Peuco. Tudo porque um relatório judicial revelou que esses militares viviam em condições de luxo. Pela manhã, um dos presos que seria transferido se suicidou na residência de sua família, quando desfrutava de um indulto para o fim de semana.

De acordo com a administração do presídio, o militar que tirou a própria vida era o ex-general Odlanier Mena, primeiro diretor-chefe da CNI (Central Nacional de Informação, polícia secreta de Pinochet, que funcionou entre 1978 e 1989). Antes de ser general, Mena foi um dos mais destacados militares que participaram das operações de execução de perseguidos políticos, nos primeiros anos da ditadura, incluindo a Caravana da Morte, em 1973. Tinha 87 anos.

A operação foi cancelada devido à presença de manifestantes que atiravam ovos, pedras e outros objetos nos veículos que fariam a mudança. O Ministério da Justiça não deu maiores detalhes do incidente, mas segundo relatos de emissoras de rádio chilenas, se trataria de grupos de pinochetistas contrários à decisão do presidente. (mais…)

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Tudo pronto para a Semana de Mobilização Indígena

Davi KopenawaProtestos mostrarão, em todo país, que poder econômico e Legislativo procuram eliminar direitos — mas sociedade resiste. Veja datas, locais e vídeos

Do Instituto Sócio Ambiental

Prevista para a próxima semana, de 30/9 e 5/10, a Mobilização Nacional Indígena vai promover manifestações em vários locais do País. Estão confirmados atos em pelo menos quatro capitais (Brasília, São Paulo, Belém e Rio Branco), além de cidades no interior (veja programação abaixo).

A mobilização foi convocada pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) para defender a Constituição, os direitos de povos indígenas e tradicionais e o meio ambiente (leia a convocatória). No dia 5/10, a Carta Magna completa 25 anos. O objetivo é protestar contra o ataque generalizado aos direitos territoriais dessas populações que parte do governo, da bancada ruralista no Congresso e do lobby de grandes empresas de mineração e energia.

Centenas de projetos tramitam no Congresso para restringir os direitos de populações indígenas, de quilombolas e de outras populações tradicionais sobre suas terras, além de tentarem impedir a criação de unidades de conservação. Entre eles, estão as Propostas de Emenda Constitucional (PECs) 215/2000 e 38/1999, o Projeto de Lei Complementar (PLP) 227/2012 e o Projeto de Lei (PL) 1.610/1996. (mais…)

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Sônia Guajajara: “É hora de ir para cima, para o embate”

Sônia GuajajaraSônia Guajajara fala sobre os ataques aos direitos indígenas e convoca a sociedade brasileira para uma mobilização em todo o país em defesa da Constituição

Por Maria Emília Coelho*, em Carta Capital

Sônia Guajajara é hoje a porta-voz do movimento indígena brasileiro. Recém nomeada Coordenadora Executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), ela convoca os índios e toda a sociedade brasileira para uma mobilização nacional em defesa dos direitos indígenas conquistados há exatamente 25 anos com a Constituição Federal.

Nascida em 1974, em uma aldeia do povo Guajajara, na região de floresta do Maranhão, Soninha, como é apelidada, esteve por cinco anos como vice-coordenadora da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia (Coiab). Hoje, como uma das mais combativas lideranças indígenas do país, passa a maior parte do seu tempo em Brasília, enfrentando cara a cara os seus adversários da bancada ruralista do Congresso Nacional.

Para Sonia existem três fases do movimento indígena no Brasil: “A gente teve o momento pré-constituinte, onde as lideranças lutaram pra garantir os direitos indígenas. Depois, teve o momento de lutarmos pelo cumprimento dos direitos adquiridos. E agora, estamos lutando para não perder esses direitos”. (mais…)

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