Matheus Leitão – Folha de S.Paulo
Brasília – Os policiais federais afirmaram nesta segunda-feira (24), através de suas associações, que são contrários à PEC 37 e favoráveis a manter o poder de investigação do Ministério Público.
“Vários delegados comentarem que os policiais são a favor da PEC 37. Trata-se de uma inverdade. Fizemos uma pesquisa: 99% dos colegas entrevistados são contrários à proposta”, afirmou o presidente da Fenapef (Federação Nacional dos Policiais Federais), Jones Borges Leal.
“Investigação feita por delegado só na novela das oito. Os delegados estão brigando por uma coisa que eles não fazem. Eles não investigam. Apenas pegam o trabalho dos agentes e mandam para o ministério público”, completou Leal.
As declarações foram feitas em coletiva à imprensa marcada para tarde de hoje após o movimento contrário à PEC 37 ganhar força nos protestos que espalharam-se pelo Brasil.
A PEC 37, em tramitação na Câmara dos Deputados, esvazia os poderes de investigação do ministério público.
As negociações em torno de um texto alternativo consensual também não avançaram. O Ministério Público não aceita, por exemplo, que a investigação criminal de procuradores e promotores ocorra somente em casos extraordinários, quando houver risco de comprometimento da apuração policial.
Grupo de trabalho criado em abril, com representantes do ministério da Justiça, da Câmara, dos delegados e procuradores discutiu modificações na matéria, mas sem sucesso. Finalizado sem o consenso, a votação da PEC 37 foi adiada no Congresso.
“Os policiais federais afirmam que foi totalmente antidemocrática a sua não participação [no grupo de trabalho]. Requisitamos assentos e não fomos respondidos. Quem faz o trabalho é quem deve balizar as discussões”, afirmou Flavio Werneck, vice-presidente do Sindipol-DF (Sindicato dos Policiais Federais do Distrito Fedaral).
Existe um racha entre delegados e agentes da Polícia Federal. Os agentes desejam ser mais bem remunerados pelo trabalho que realizam nas investigações.
Para Werneck, “a persecução criminal no Brasil está falida”. “Nove em cada dez assassinos no Brasil estão soltos. Além de policial, sou brasileiro e a PEC 37 piora [o quadro]. Só os delegados querem a proposta”, disse.
Também presente no evento o presidente da ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República, Alexandre Camanho, afirmou que as manifestações ajudaram a diminuir a força da proposta.
“O Ministério Público não concorda com a PEC 37. O povo veio às ruas e fez o funeral da proposta e agora queremos que a Câmara nos entregue a certidão de óbito”, afirmou Camanho.
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Enviada por José Carlos para Combate Racismo Ambiental.