Ninguém sabe onde vai dar, mas podemos contribuir para minorar os erros

Foto BSB Reginaldo Bispo

Por Reginaldo Bispo*

Sem bola de cristal como alguns, nem tendência a mãe Diná, utilizo-me da dialética histórica para analisar, entender e contribuir para esse momento único, maravilhoso espetáculo cívico, das mobilizações da juventude e do povo.

Ontem, 20 de junho, participamos [militantes do MNU de Lutas, com bandeira panfleto e tudo] da maior manifestação popular jamais vista em 40 anos de militância política em Campinas. Mais de 60.000 universitários, secundaristas, adultos, idosos, crianças, pretos, brancos, punks, anarquistas, comunistas, socialistas, dizem que até neonazistas havia, estes eu dispenso e excluo. Sou anti fascista, antirracista e anticapitalista por principio.

As reivindicações eram de todo tipo, especificas, democráticas, corporativas, oportunistas, certas ou erradas, elas estavam lá, em uma festa do desejo de liberdade e democracia, através da Ação Direta do povo.

Movimentos de massa, como o que vemos hoje no Brasil, não respeitam nada. Certos ou errados, são protagonistas, não fazem autocrítica. Movem-se, simplesmente, conforme a onda, sob os rastros positivos ou negativos absorvidos de quem passou antes.

Se os caminhos anteriores foram bons e seguros, provavelmente servirão de norte, se ruins, no frigir dos ovos, serão apagados, e sobre eles erigidos novos conceitos, rotas e jornadas.

Certos ou errados, a historia dirá… Mas não há como negar que ao se aparentar cada vez mais com os partidos de direita, se aliando a eles, abandonando os princípios, o programa e a ética popular que o inspirou, o PT – Partido dos Trabalhadores, contribuiu para essa confusão ideológica, política e de valores, descaminhos do qual acusam os manifestantes.

O medo da mobilização popular pela exclusividade das relações institucionais, os projeto eleitoral de democracia representativa dentro da ordem, da alternância de poder e da governabilidade levaram a isso.

Não adianta chorar o leite derramado, nem reclamar pela repulsa que suas vestes vermelho e branco e bandeiras provocam. Contribuíram para isso…

A ausência, neste momento, de uma cultura de esquerda, de mobilização por direitos e por cidadania, é o que justifica o comportamento dessa massa disforme e confusa, que repudia todos os partidos, todas as esquerdas, mesmo quem não tem nada com isso.

E também não deixa de ser verdade que boa parte do que vemos, se deve a persistência de uns poucos abnegados no movimento social, em todos esses anos.

Haverá um interregno [se toda essa energia continuar], para que amadureçam as consciências e as ideias, se afunilem as bandeiras, conceitos e as formas de organização. Até lá, sem máscaras ou fantasias. Aos poucos, a presença dos símbolos que lembram o passado poderão voltar a ser tolerados e aceitos.

As praticas e as propostas novas e anteriormente vivenciadas como positivas é que serão aceitas e amalgamadas, servindo de referência, se não a um novo, ao menos a um Brasil melhor.

Cabe a nós, portanto, os “há muito tempo acordados”, ter a competência e a humildade, que não tivemos antes, para nos relacionar com o “levante” dos agora “recém-acordados” e arrogantes protagonistas.

O novo é sempre confuso e ameaçador, aos olhos de quem se arroga referência, sabedor de tudo.

A iniciativa de nos comunicar com eles, sentir-lhes as inquietações, as expectativas, entender o que os movem, e contribuir a partir da experiência acumulada [sem a pretensão de sermos os donos da verdade], apontando e criando espaços de troca e de consolidação dessa experiência [de modo que não se perca a energia positiva e os rumos].

Creio que a maioria de nós visa a politização e organização progressiva, rumo a um Projeto Político de Nação Pluricultural e Multirracial, sem o Genocídio Racista, rumo a uma democracia popular, que contemple e beneficie a todos.

-CONTRA O FASCISMO!
-CONTRA O IMPERIALISMO E O CAPITALISMO!
-CONTRA O RACISMO!
-CONTRA O GENOCÍDIO DA POPULAÇÃO NEGRA E INDÍGENA!
-PELA TITULAÇÃO DE TODOS OS TERRITÓRIOS QUILOMBOLAS E INDÍGENAS!
-DEMOCRACIA DIRETA!
-TODO PODER AS ASSEMBLEIAS E CONSELHOS POPULARES!

*Reginaldo Bispo é Coordenador Nacional de Organização do Movimento Negro Unificado.

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