Por Leonêncio Nossa
Em momentos de barbárie do Estado, político muda de nome, troca de papel ou se esconde. Isso ocorreu agora, com a morte de Oziel Gabriel, um índio terena de Mato Grosso do Sul, durante uma ação comandada pela Polícia Federal. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, apareceu como o homem que dá a ordem para investigar o caso. Por ter a polícia sob seu comando, Cardozo deveria estar no papel de investigado.
A colega dele no governo, a ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, até o momento não usou seus 140 caracteres no Twitter ou o espaço em qualquer outro blog da rede social para repudiar a morte do índio ou curtir quem postou foto ou mensagem de revolta. Talvez porque ela responde pelo “Ministério” do Bolsa Família. Talvez porque um conflito sangrento entre agentes armados com potentes armas de fogo e civis apenas com pedras, flechas e velhas garruchas não seja, necessariamente, uma questão de direitos humanos.
Mas os governistas não precisam se preocupar. Quando alguém fala das ações violentas da Polícia Federal nos garimpos do Sul do Pará nos anos 1990 ninguém lembra quem era o ministro da Justiça ou o secretário de Direitos Humanos da época. Na verdade, nunca alguém fala desses conflitos perdidos na história.
Do Parazão, a lembrança amarga do período que surge de vez em quando é a do massacre de Eldorado do Carajás, quando a Polícia Militar “limpou” a rodovia. Dezenove sem-terra morreram, entre eles o jovem líder Oziel Alves Pereira, homônimo do índio terena.
Desse episódio ficou ainda a lembrança de uma oposição e de uma rede internacional de direitos humanos que não deram trégua a um presidente da República que esperou a barbárie repercutir no exterior para se pronunciar contra a ação da polícia comandada pelo amigo e governador Almir Gabriel.
No mundo longe dos políticos, o brasileiro que briga para manter sua mulher e seus filhos na terra não muda de nome. Nasceu Oziel, morre Oziel… sempre.
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