Tatiana Félix – Adital
Passados vinte anos da chacina ocorrida no Pavilhão 9 da Casa de Detenção do Carandiru, em São Paulo (SP), quando em 2 de outubro de 1992 um confronto entre policiais militares e detentos em rebelião resultou na morte de 111 presos, familiares das vítimas e organizações em defesa dos direitos humanos ainda clamam por justiça, já que o tão esperado julgamento de 26 policiais militares que participaram do chamado “Massacre do Carandiru” teve que ser interrompido ontem (8) após uma das juradas passar mal.
De acordo com o Tribunal de Justiça (TJ) o conselho de sentença, ou seja, o corpo de jurados foi dissolvido e agora outros sete jurados precisarão ser escolhidos e o julgamento será reiniciado na próxima segunda-feira (15) sem prejuízos.
Com a chegada do julgamento, a Rede 2 de outubro – Pelo fim dos massacres critica a versão oficial de que o episódio teria sido “mero ato de contenção de um rebelião” e questiona a atuação do Estado “que permitiu a ocorrência do Massacre do Carandiru e de tantos outros massacres que marcaram (e ainda marcam) a nossa história”. A organização lembra que dos 111 detentos mortos, a maioria era jovens e negros que “foram cruelmente exterminados com autorização vinda diretamente do gabinete do Governador”.
Para a Rede, o Massacre do Carandiru marcou o início de um “processo de encarceramento em massa”, impulsionado com a “política de construção e interiorização de presídios, que se generalizou por todo o país”. “O resultado foi a explosão da população prisional brasileira. O número de pessoas presas saltou de 90 mil, em 1990, para 550 mil, em 2012. O Brasil sextuplicou a população encarcerada num período aproximado de 20 anos, crescimento sem precedentes mesmo entre os três países com maior população prisional (o Brasil é o 4º no ranking)”, explicou a Rede em nota.
Além do aumento vertiginoso da população carcerária, a Rede chama atenção para o fato de que essa população é composta em sua maioria por negros, e também alerta para o aumento da prisão de mulheres. “Cerca de 80% da população prisional está presa por crimes contra o patrimônio ou tráfico de drogas, condutas imputadas às pessoas pobres”, informa.
A organização surgida em 2011 para enfrentar os contextos e os históricos que favorecem os massacres, acredita que “a ordem para matar” não se encerrará com o julgamento dos policiais acusados pela chacina do Carandiru, já que o “genocídio da população pobre e preta” segue como pilar de gestões públicas e “pressuposto da manutenção de uma sociedade extremamente desigual”.
“Por todas essas razões, ainda que julguemos fundamental a responsabilização dos policiais envolvidos e do mandatário do Massacre (o então governador), Antônio Fleury Filho, a derrocada dessa ordem que se sustenta a partir do extermínio do povo pobre e negro, nos dois lados do muro, e no dia a dia, e da qual o Massacre do Carandiru é produto e expressão, somente se dará com a organização e a luta popular contra esse Estado Penal e contra as classes abastadas que dele se valem para manter seus domínios”, finaliza.