“Fazendeiro quer acabar com índio. Mas índio não acaba”

Texto e fotos de Ruy Sposati – CIMI-MS

Na quarta grande assembleia das mulheres Guarani e Kaiowá do Mato Grosso do Sul – ou Kuñangue Guarani Há Kaiowá Aty Guasu Irundyha -, o tom era de urgência e resistência. Entre os dias 3 e 7 de abril, cerca de 450 indígenas, entre rezadoras Nhandesy, parteiras, agentes de saúde, professoras e jovens se reuniram no tekoha Sombrerito, no município de Sete Quedas, Fronteira com o Paraguai.

Durante os cinco dias, as indígenas discutiram, em conjunto de lideranças Guarani e Kaiowá e mulheres Terena, suas demandas e reivindicações sobre segurança, políticas públicas, sustentabilidade, violência contra a mulher e o andamento da questão fundiária..

O documento final do encontro responsabiliza o Governo Federal pela demora na demarcação das terras, cobra o Supremo Tribunal Federal pela inoperância em julgar os processos parados, denunciam as ameaças de fazendeiros e cobram a efetivação de um plano de segurança permanente nas áreas de conflito.

Leia o documento final do 4º Aty Guasu das Mulheres Guarani e Kaiowá

Assassinatos

Durante o Aty Guasu, as mulheres relembraram as dezenas de ataques e assassinatos ocorridos no processo de luta pela terra. “Aqui, no Cone Sul, ninguém olha, ninguém vê. Parece que a gente tá contando mentira”, diz uma indígena. “O fazendeiro tá bem, com a família, com filho, com parentada. Tá aqui, tá no Paraguai. A gente não tem terra pra plantar. Só que agora a gente não vai mais aceitar isso. O fazendeiro já judiou muito do índio. A demarcação tem que acontecer agora”, exige.

“Uma cruz dessa já é comum”, grita uma mulher Kaiowá em frente à cruz de Dorival Benites, sob a presença de representantes do Governo Federal, em uma manifestação realizada durante a assembleia. Os participantes marcharam até a cova onde está enterrado Dorival, liderança indígena de Sombrerito assassinada a tiros em 2005 durante a retomada do tekoha. “Você já viu uma cruz dessa de fazendeiro?”, pergunta, apontando para policiais federais presentes no ato. “Índio nunca fez nada pro fazendeiro. É o fazendeiro que quer acabar com o mundo, quer acabar com índio. Mas índio não acaba”. Passados oito anos, o julgamento sobre a morte de Dorival ainda não ocorreu, assim como dos outros assassinatos.

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