YPo’i: fazendeiros envenenam rio utilizado por famílias Kaiowá, acusam indígenas

A Polícia Federal, Força Nacional e Fundação Nacional do Índio já foram notificadas da ocorrência. Uma amostra da água será encaminhada ao Ministério Público Federal de Mato Grosso do Sul. Em função do feriado e do final de semana, nada deverá ser encaminhado até segunda-feira. [Destaque deste Blog]

Ruy Sposati, de Brasília

CIMI – Indígenas Guarani Kaiowá de YPo’i, em Paranhos, divisa do Mato Grosso do Sul com o Paraguai, denunciaram o envenenamento do córrego YPo’i, principal fonte de água da comunidade. Um vídeo com imagens do riacho contaminado, registrado por dois professores indígenas, foi publicado pelo conselho da Aty Guasu – assembleia dos Kaiowá e Guarani – na sexta-feira, 16.

Segundo relatos da comunidade, uma crosta de espuma branca se formou em toda a superfície da água, na manhã da quarta-feira, 14, fechando totalmente o rio. “As crianças estavam tomando banho quando viram a espuma branca”, contam. “Ela tomou conta do córrego inteiro por dois dias”.

“Nós seguimos a trilha do riacho até a fazenda, onde vimos dois tambores grandes. Não sabemos o que era. A gente foi pra tirar foto, mas fomos recebidos a bala. Começaram a atirar pra cima e saímos correndo”.

Para a comunidade, esta foi uma ação deliberada dos proprietários das fazendas que incidem sobre a área indígena Kaiowá. “Agora não é época de passar veneno. Veneno se usa na época de colheita. E do outro lado é gado, e com gado não se usa veneno. Isso não foi um acidente”, afirmam os indígenas.

Os Kaiowá de YPo’i – “rio estreito”, em guarani – contam que esta não é a primeira vez que o único córrego da área, a 200 metros de distância do acampamento, é envenenado. “Logo quando a gente retomou, quando estávamos isolados, os fazendeiros jogaram gado morto no rio, querendo dificultar nossa vida”, relatam.

A contaminação do rio seria uma continuação de um recado dado pelos fazendeiros aos indígenas. “Na semana passada, o fazendeiro comunicou à comunidade que nós não poderíamos mais cruzar [a saída da aldeia] pela plantação de soja pra sair pra Paranhos”, contam.

“Esse córrego é a nossa principal fonte de água pra beber, tomar banho, fazer comida, lavar roupa. E agora a gente não pode usar. Ainda tem espuma boiando nos cantos. Estamos muito assustados”.

Em nota, o conselho da Aty Guasu se disse “chocado e indignado com as ações cruéis dos fazendeiros (…)”, e exigiu que “autoridades federais tomem prividências cabíveis”. A Polícia Federal, Força Nacional e Fundação Nacional do Índio já foram notificadas da ocorrência. Uma amostra da água será encaminhada ao Ministério Público Federal de Mato Grosso do Sul. Em função do feriado e do final de semana, nada deverá ser encaminhado até segunda-feira.

Desde a reocupação do tekoha – “lugar onde se pode ser” em Guarani, forma como eles se referem a seu território tradicional originário -, em 2009,  três Kaiowá já foram assassinados em YPo’i. Dois professores, os primos Genivaldo e Rolindo Vera, foram mortos três dias depois da retomada. O corpo de Rolindo permanece desaparecido. O de Genivaldo foi encontrado no córrego em questão, perfurado, com sinais de tortura e o cabelo raspado. Em 2010, Teodoro Recalde foi assassinado a golpes de facão por jagunços.

http://www.cimi.org.br/site/pt-br/?system=news&conteudo_id=6613&action=read

Comments (4)

  1. Nao podemos aceitar que brancos e indios briguem, percam suas casas, recebam papeis falsos, sejam tratados como objetos que tira e bota as pessoas, sem respeitar seus direitos e como consequencia, trazer estes tipos de problema.Os responsaveis tem que resolver, seja quem for. Os valores da Constituiçao tem que valer no pais. Estamos chegando ao caos, em nome do progresso? Que progresso é este que tem que derramar sangue, onde relaçao humana e maquinas crescem desigualmente. Ta na hora de refletirmos e buscarmos uma saida digna para todos os brasileiros, seja na saude, na educaçao,na cultura genuinamente brasileira, para cultivarmos as nossas raizes e respeitar as etnias e suas terras. Chega de matança! genocidio, preconceito, todos tem seus direitos.Sou a favor da inclusao social, respeitando as diferenças.

  2. A população não percebe governo e fazendeiros são a mesma coisa… a FUNAI tb não adianta muita coisa, é só algo que acho mais piora que ajuda na maioria dos casos!
    Me fala um relato na história que invasores se adaptaram os locais… e o contrário… o problema é que chegamos em um ponto que não existe mais adaptação… se o sistema não colapsar logo esquece ancestralidade nesse pais… nem os descendentes de africanos que ja sofrem com católicos e evangélicos… estamos num buraco sem fundo… e a unica saida é acabar como modo que vivemos… e pelo que vejo isso naturalmente está acontecendo!

  3. Cadê você Dilma, cadê o governador, cadê o prefeito e os vereadores desta cidade? Cadê o MP, a PF, a FUNAI? Porque vocês ainda não puseram fim a esta guerra? Que jogo de interesses é este que está acontecendo contra estes índios e suas famílias. Não se esqueçam que eles são pessoas, são serem que cuidam e sempre cuidaram de nossas terras. Todos sabem que os índios encontraram Cabral perdido, eles já estavam aqui quando chegamos, vamos cuidar dos índios.

  4. governo kd vc??? olha isso e outras atrocidades q acontecem na floresta. esses fazendeiros pensan e agim como se fossem permanente , esquece q tdos morrem …. eu ja estou saturada de tantas coisas absurdas acontecendo , principalmente nos ultimos 15 anos…… faca alguma coisa por- nos e por- eles q sao verdadeiros donos tda terra…

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