Indígenas vivem “favelados”; crianças passam fome e frio em Reserva de Dourados

Foto: Hédio Fazan

Com mais de 1,5 mil famílias indígenas sem teto, a Reserva de Dourados, a mais populosa do país, está se tornando um “favelão” vizinho a área urbana da cidade. A maioria deste grupo vive em péssimas condições de moradia.

Em barracos de lona ou a sapê, mães criam seus filhos em condições precárias. O frio e a fome são os desafios para esta época do ano. De acordo com o presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena, Fernando de Souza, o fator preocupante é que em situações precárias de moradias a vulnerabilidade em relação a saúde de crianças e idosos aumenta.

Por causa disso ele diz que está realizando estudos em Brasília para verificar a possibilidade de se levar moradias dignas à população através de programas do Governo Federal. A proposta é garantir ao menos 600 casas a partir do ano que vem para a comunidade. Segundo ele, a estimativa de déficit de moradias em torno de 1,5 mil casas está no novo relatório que o Conselho Distrital de Saúde Indígena elabora para este ano.

O documento fechado no ano passado mostrou que que são 2.850 famílias nativas morando em aldeias. Nos últimos anos, segundo o relatório, 1.200 casas foram construídas através de projetos habitacionais. Outras 200 famílias construíram casas com recursos próprios, totalizando 1.400 moradias na Reserva, onde o deficit chegava a 1.450, em 2011.

O indígena Aquino Oliveira da Silva mora em um barraco de lona com outros seis irmãos e a mãe. Eles vivem do comércio de mandioca e milho na área urbana e sofrem com a falta de moradia. Um pequeno barraco construído pelo tio da família é a única alternativa.

A cada chuva ou ventos fortes o barraco desaba sobre a família que é obrigada a construir tudo de novo. O irmão mais novo, de dois anos, está doente. Diarréia e vômito são rotina na vida da família, que não dispõe de condições mínimas de tratamento de esgoto, o que contribuiria com a higiene do local.

Sem agasalhos, as crianças não vão para a escola e a mãe acende uma fogueira dentro do barraco para conter o frio que castiga os indiozinhos. Eles não tinham onde morar e negociaram uma pequena área dentro da Reserva para sobreviver.

Com 50 anos de idade, a Caiuá Tereza de Souza diz que nunca teve uma casa. Sempre embaixo da lona, ou numa moradia toda feita de eternites, ela criou os filhos sem saber o que é viver sem o fantasma da fome e do frio.

O indígena Anderson Ferreira Cabreira, de 20 anos, é vítima do confinamento. O pai se matou quando ele era criança devido aos problemas de falta de estrutura na Reserva. A mãe dele, também vítima da miséria vivida pela comunidade, morreu há alguns anos. Ele hoje trabalha e busca uma forma de melhorar a vida. Diz que nunca conseguiu se cadastrar em programas sociais de habitação e que a casa de eternite e lona foi a única alternativa.

De acordo com o relatório do Conselho Distrital Indígena, devido a situação de confinamento em que as famílias vivem, as lideranças indígenas têm discutido novas alternativas. Uma das propostas é realizar “readequações no sistema de construção de moradia em forma de agrovila, contemplando núcleos de famílias extensas, compostas de no mínimo dez famílias, disponibilizando toda infraestrutura necessária ao bem estar dos moradores”.

Outra proposta discutida é a implantação de uma aldeia urbana, também em forma de conjunto habitacional, destinada às famílias que possuem renda e que não têm interesse em cultivar a terra, pois asseguram a sobrevivência por meio de empregos e salários.

A Funai informou recentemente que vem discutindo com os índios um modelo das casas apropriadas para preservar a cultura local. Um relatório será encaminhado para a Prefeitura, com o resultado da consulta à comunidade. Com o documento em mãos, a prefeitura poderá fazer um projeto para encaminhá-lo ao Ministério das Cidades. O objetivo é buscar um financiamento das casas.

CAMPANHA

O PROGRESSO está recebendo agasalhos para doação às crianças indígenas que residem na Reserva de Dourados. Qualquer ajuda é bem vinda. A sede deste matutino fica na Avenida Presidente Vargas 447, centro, em frente a Praça Antônio João.

http://www.fatimanews.com.br/noticias/indigenas-vivem-favelados-criancas-passam-fome-e-frio-em-reserva-de-do_134304/

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