Aos participantes, a Cúpula dos Povos vai oferecer cerca de 20 mil refeições diárias, preparadas a partir de alimentos produzidos por associações e cooperativas de agricultura familiar.
Por Monike Mar, da redação
A agroecologia será mais do que pauta de debates durante a Cúpula dos Povos. Durante os oito dias de conferência, cerca de 10 mil participantes terão a oportunidade de vivenciar um programa que coloca a agricultura familiar à frente da produção de alimentos. Frutas, legumes e cereais produzidos por pequenos agricultores vão compor o cardápio do evento, que estima oferecer até 20 mil refeições por dia.
Biodiversidade é palavra de ordem: serão adquiridos mais de cem tipos diferentes de alimentos agroecológicos, produzidos de modo sustentável. Para quem ainda não está por dentro do termo, agroecologia pode ser entendida como uma forma de produção que agrega conhecimentos populares e tradicionais para a produção de alimentos, sempre em harmonia com a natureza e seus recursos. Mas também pode ser mais do que isso.
“A agroecologia, hoje, é um conjunto de mudanças de paradigmas na produção de alimentos, no qual os agricultores têm uma outra relação com o território. Há um tempo atrás, era chamada de agricultura alternativa. Hoje, fazemos ciência, pesquisamos e fazemos da agroecologia uma solução para a crise socioambiental”, explicou Marcelo Durão, da Via Campesina, durante coletiva de imprensa sobre a Cúpula realizada nesta segunda-feira (19/3), no Rio de Janeiro. A agroecologia envolve práticas como a não utilização de agrotóxicos no cultivo de vegetais, equilíbrio do solo e respeito às plantas nativas do local.
A Cúpula dos Povos pretende demonstrar o poder da agroecologia de forma efetiva, com apoio da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e da Associação Nacional de Agroecologia (ANA). Essas organizações estão fazendo um levantamento das safras de junho, para, além de garantir a qualidade, facilitar a logística e o armazenamento dos alimentos.
Como funciona o abastecimento
O sistema tem como referência o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), da Conab, implementado em 2003 com recursos dos ministérios do Desenvolvimento Agrário e do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. O PAA compra alimentos produzidos por associações e cooperativas de agricultores familiares para abastecer instituições públicas, como escolas, creches e asilos brasileiros. E com o objetivo de tornar o processo ainda mais fácil, o programa não envolve licitações públicas e faz o pagamento diretamente aos agricultores registrados.
Segundo o Diretor da Conab, Silvio Porto, o programa tem uma relação direta com organizações sociais, porque dá autonomia aos pequenos agricultores para atuar em todo o ciclo. “A gestão não está mais com as organizações. Criamos condições para que os agricultores gerenciem toda a produção. Nosso objetivo é fortalecer cada vez mais a agroecologia, mas ainda temos muito a avançar”, destaca.
Hoje, o PAA viabiliza a produção de mais de 380 itens agrícolas diferentes – desses, 160 são agroecológicos –, produzidos a partir de 5 milhões de unidades produtivas no país. Em 2011, o programa atendeu cerca de 1.300 municípios.
“É extremamente importante canalizar a experiência do programa para a Cúpula dos Povos. Lá, mostraremos que é possível fazer uma política diferenciada, voltada para a agricultura familiar”, ressalta o diretor da Conab. Segundo Silvio, pela primeira vez a organização vai viabilizar o abastecimento para um evento do porte da Cúpula. “Direcionamos alimentos para eventos de no máximo 7 mil pessoas. A Cúpula será o nosso recorde”.
A conferência vai realizar a experiência da alimentação de milhares de pessoas por meio da articulação de organizações de diferentes áreas de atuação. No evento, os alimentos serão preparados a partir de receitas dos próprios agricultores. Também está previsto o envolvimento de movimentos de economia solidária para o preparo das refeições (almoço e jantar).
Nesse contexto, Silvio avalia a Cúpula dos Povos como um momento especial para o programa. “Levar o PAA para o contexto da Cúpula dos Povos é bastante simbólico. Não vamos só fornecer alimentos. Vamos fornecer alimentos saudáveis com identidade cultural e social”.
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