Anfitriões vão sugerir à presidente brasileira que instituição de fomento vete super poderes da China
Luciano Feltrin, Brasil Econômico
Com as discussões em torno da criação de um banco para ampliar negócios entre os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) esquentando, a presidente Dilma Rousseff desembarca na quarta-feira (28), em Nova Delhi, capital da Índia, para a 4ª cúpula do bloco.
A agenda se concentrará em temas econômicos, com os países discutindo formas de reduzir a dependência econômica de Estados Unidos e Europa, mergulhados em uma crise ainda sem data para acabar.
Potencial para essa ambição os Brics têm. Combinado, seu Produto Interno Bruto (PIB) soma US$ 13,5 trilhões, o equivalente a 19%do total de riquezas produzidas no globo. No entanto, o martelo sobre a criação do banco só será batido depois de muita negociação.
Nos bastidores, a anfitriã Índia e o Brasil já conversam para evitar que a China concentre poder da nova instituição.
Para isso, os dois países querem que a presidência do banco seja rotativa, com trocas periódicas de comando entre os membros – ponto no qual os chineses divergem. Outro objetivo é impedir que a China, do alto de seus mais de US$ 3 trilhões em reservas cambiais, se torne, de longe, a maior acionista do novo banco.
A avaliação é de Rakesh Vaidyanathan, secretário da Câmara de Comércio Brasil-Índia e presidente do Brics Institute no Brasil, que integrará a comitiva nacional na visita à Índia. “O objetivo dos negociadores indianos e brasileiros é que a representação dos países no banco seja proporcional à perspectiva de crescimento do PIB nos próximos anos.” Segundo o indiano, essa costura política evitaria que a instituição financeira, que deve ser montada nos moldes do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), surgisse com os mesmos vícios de instituições tradicionais como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial. “As mudanças no mundo não são representadas nessas instituições, que perderam legitimidade. Se a China quiser dominar o banco, teremos o mesmo problema daqui dez anos.” Antes da viagem, a diplomacia brasileira optou por tratar do tema de forma discreta. Não entrou em detalhes sobre aportes nem fez comentários sobre a divisão de poderes da instituição.
“Desta cúpula deve resultar a formação de um grupo técnico para definir o funcionamento do banco”, resumiu a embaixadora Maria Edileuza Fontenele Reis.
Favorável à criação de um BNDES dos Brics, Evaldo Alves, coordenador de comercio exterior da Fundação Getulio Vargas, defende que o Brasil negocie com cuidado prazos e condições para abrir seu mercado ao bloco. “É preciso estabelecer barreiras e carências para que a entrada maciça de produtos importados não afete ainda mais nossa indústria”, adverte.
Enviada por Ricardo Verdum.