Espécies ameaçadas, como a onça-pintada, serão diretamente afetadas pela redução das Áreas de Preservação Permanente (APPs), anistia aos desmatadores e substituição da Reserva Legal
Monica Prestes
“A perda é muito maior do que parece à primeira vista. A ameaça de extinção local de espécies amazônicas é mais um dano invisível proposto pela revisão do Código Florestal brasileiro.”
O alerta é do pesquisador titular da Coordenação de Pesquisas em Ecologia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Philip Fearnside.
Para Fearnside, que é Ph.D em Ciências Biológicas, a proposta de revisão do Código Florestal é um retrocesso e deve afetar a Amazônia mais drasticamente, se comparado com os outros biomas brasileiros.
“A reforma afeta o País inteiro e deve promover danos ainda incalculáveis, mas o pior é que o novo código promove o desmatamento, pregando a anistia a quem desmatou, consolidando desmatamentos ilegais e penalizando quem não descumpriu a lei no passado”, alega.
Biodiversidade
Os impactos de mudanças como a redução das Áreas de Preservação Permanente (APPs) em torno dos cursos d’água e a possibilidade de extinção das Reservas Legais em pequenas propriedades serão sentidos a longo prazo. E os prejuízos, se não forem irreversíveis, custarão caro aos cofres públicos, alega o pesquisador.
E o primeiro desses impactos deve ser a transformação de florestas inteiras em pequenos fragmentos florestais isolados, que não vão permitir a integração entre os corredores ecológicos.
“Reduzindo a área de proteção das APPs afetamos as matas ciliares, que além de evitar assoreamentos, erosões, deslizamentos e enchentes, ainda servem como conexão com outras áreas de proteção. Aliada à redução das Reservas Legais e à exclusão das várzeas das APPs, essa medida coloca em risco a biodiversidade da região amazônica”, alegou Fearnside.
Extinção
E a redução da faixa de proteção sobre as florestas, APPs , várzeas e Reservas Legais também reduz o habitat de espécies como a onça-pintada, um dos primeiros animais que pode ser ameaçado de extinção em determinadas regiões pelas mudanças propostas na reforma do Còdigo Florestal, lembra o pesquisador.
“Se esses fragmentos florestais forem tão reduzidos a ponto de se tornarem territórios pequenos e isolados, os animais não vão mais poder migrar entre esses fragmentos florestais. Isso pode levar à extinção de várias espécies que dependem dessa migração para se reproduzir”, disse.
Segundo Fearnside, os mais afetados devem ser os grandes predadores, que normalmente não andam em grupos e costumam migrar com freqüência entre os diferentes territórios. “Se ficarem isolados, não vão se reproduzir. Em alguns anos, podem desaparecer de certas regiões”, explicou.
Várzea
Mas o risco de extinção de espécies amazônicas – que cresce com a aprovação do texto-base do novo Código Florestal aprovado pelo Senado – não está restrito às propriedades rurais e APPs. As várzeas, excluídas da definição de APP, também ficarão expostas ao desmatamento e à conseqüente perda da fauna tradicional, alerta Fearnside.
Para ele, o texto proposto para a reforma da legislação é muito subjetivo e, sem dispositivos específicos para disciplinar o uso do solo na Amazônia, a região perde uma grande área protegida.
“Nas florestas de várzea corre-se o risco de redução de espécies amazônicas, como o próprio tambaqui. Porque, quando se perde a floresta no entorno de rios, mangues e terras úmidas, também se perde a fauna desses locais. No futuro, isso vai refletir até nas comunidades tradicionais, de ribeirinhos e indígenas, que dependem dessas espécies de alguma forma.”
http://acritica.uol.com.br/amazonia/Manaus-Amazonas-Amazonia-predadores-primeiras-Codigo-Ambiental-amazonica_0_659934062.html